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O descontrole financeiro dos jovens
Reportagem

O descontrole financeiro dos jovens

| Geração Z | Parcela entre 18 e 24 anos têm alguma fonte de renda e ajudam nas despesas de casa, mas, apesar da conectividade, usam papel para organizar o orçamento e guardam dinheiro de forma conservadora
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Quase metade (47%) de um universo formado por 801 jovens brasileiros não controla as finanças pessoais. São homens e mulheres entre 18 e 24 anos, dos quais 37,4% já tiveram o nome sujo. Apesar de terem nascido em meio ao boom tecnológico das últimas duas décadas, ainda controlam os gastos pessoais usando o papel e mantêm reservas financeiras na caderneta de poupança.

As constatações fazem parte da pesquisa "Geração Z: gestão das finanças pessoais", da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). São homens e mulheres que afirmam não realizar esse monitoramento por desconhecimento (19%), por preguiça (18%), por não ter hábito ou disciplina (18%) ou por não ter rendimentos (16%). Por outro lado, 53% deles controlam receitas e despesas. Apesar de conectados, 26,4% ainda utilizam caderno de papel para organizar o orçamento, ao passo em que 14,5% fazem o registro em planilha no computador e 12,1% utilizam aplicativo para celular.

Pouco mais da metade (52%) dos jovens ouvidos afirma que guarda dinheiro. Ainda que imersos no universo de digitais influencers de investimentos, a moçada mantém hábitos conservadores, uma vez que 53% guardam os valores na poupança, 25% retêm em casa e 20% na conta-corrente. As maneiras como buscam aprendizado sobre controle do orçamento são: pela internet (40%), com a família (27%) e com o companheiro(a) (15%).

De acordo com Marco Antônio Corradi, superintendente da CNDL, os dados mostram uma contradição quando analisados sob o prisma do conhecimento que está mais acessível a esses jovens. "Temos muitas informações disponíveis que estão sendo buscadas, mas que não estão sendo aplicadas corretamente para o desenvolvimento pessoal. É uma questão a ser trabalhada, pois a administração financeira preza por fazer aplicações em produtos de mercados financeiros que trazem bons resultados", analisa.

Corradi defende que o ensino sobre o controle de finanças deve ser iniciado no seio familiar, algo que não acontece, de acordo com ele, pelo fato de muitos pais acreditarem que esse é um conhecimento que deve ser aprendido na escola.

Já Liliam Carrete, docente do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (Fea) da Universidade de São Paulo (USP), acredita que os depósitos em poupança verificados pelo estudo não devem ser desmerecidos, pois já representam um mínimo conhecimento sobre finanças. "Eu fico mais assustada com os jovens que deixam o dinheiro em casa".

Segundo Corradi, a CNDL pretende, com os dados catalogados, preparar subsídios para estudos que serão levados a agentes públicos e privados. Ele destaca que já foram realizados encontros em cinco estados onde a Confederação mantém núcleos: Maranhão, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Santa Catarina. A visita ao Ceará está prevista para o segundo semestre.

Sobre a pesquisa

O levantamento foi realizado em todas as capitais entre 20 de fevereiro e 6 de março de 2019 e foi realizado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL) e pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Público da pesquisa:

801 jovens brasileiros, com idade entre 18 e 24 anos, residentes em todas as capitais brasileiras. Homens, mulheres e pertencentes de todas as classes econômicas e escolaridades.

Números

37,4%

já tiveram o nome sujo

78%

dos jovens possuem alguma fonte de renda

9%

dos inadimplentes de Fortaleza são da faixa etária de até 25 anos. No Ceará, esse número sobe para 11,40%

65%

contribuem financeiramente para o sustento da casa

89%

pagam pelo menos alguma despesa que possuem com o próprio dinheiro

Projeto "Finanças Pessoais nas Escolas"

Desde 2017, o projeto de extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC) promove encontros com estudantes entre 14 e 18 anos de escolas públicas sobre inteligência financeira. As reuniões contam com palestras sobre finanças pessoais e oficinas sobre comportamento de consumo e orçamento, bem como opções de planejamento e tipos de investimento. Cerca de 100 jovens já receberam a capacitação e continuam sendo acompanhados online, pelo WhatsApp, ou presencialmente. "Muitos alunos têm buscado conhecimentos sobre investimentos", conta o coordenador do projeto, professor Gildemir Silva. Ele e os bolsistas do projeto têm auxiliado os alunos atendidos a planejarem o destino do que ganham, para que tudo não seja gasto apenas com despesas domésticas.

App Mobills

Um dos aplicativos de planejamento financeiro mais bem avaliados no País foi pensado em solo cearense. Há cinco anos, Carlos Terceiro começou a trabalhar e a ganhar o próprio dinheiro. Em busca de soluções tecnológicas para administrar as despesas, ele e mais dois sócios decidiram formatar o Mobills, app de gerenciamento de gastos que já possui mais de 5 milhões de downloads. "Somos o único (app) da área de finanças com o 'Editor's Choice', selo da Google que garante que foi bem feito". A empresa montada por Carlos já possui mais de 25 profissionais que trabalham constantemente no aperfeiçoamento da ferramenta. A próxima aposta do grupo é investir em educação. Para isso, criaram um perfil específico para o projeto no Instagram e atualizam um blog sobre finanças pessoais que já acumula uma média de 200 mil acessos mensais.

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