Logo O POVO+
Brincar e semear mudança
Reportagem

Brincar e semear mudança

Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Alecio Fernandes (Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES Alecio Fernandes

Tem bica, tem chuva e tem menino: pode procurar que tem alegria. A fórmula se repete pela Cidade toda tão logo haja um cano que dê para uma calha que recolha água quando é chuva. E menino é bicho inventivo. Ele não se contenta em ensopar os shorts recém secos no último dia de sol. Se é de se banhar, os meninos elaboram um sem-fim de brincadeiras. Ali no Carlito Pamplona, no entanto, as pitadas de criatividade e molecagem parece que salpicam ainda mais. A comunidade enfrenta uma questão séria. "É bom chamar de problema, que é pra não romantizar", corrige Alécio Fernandes, 24, o educador popular do coletivo NaTora, que todo mundo ali conhece mesmo como Dalest. Perto da Praça da Castanhola, não pode dar uma chuvinha pouca que seja, que alaga, que a água dá no joelho. A lagoa que já esteve ali e foi aterrada rebrota. Tudo boia, para o bem e para mal. Mas aí, menino, né? Quem manda na cabeça de menino? Tudo vira um piscinão rocheda, e chuva, como Dalest conta, é ponto de encontro. Um pega a bola, outro se junta com a travinha; a corda colocada para impedir o trânsito no alagado - e proteger as casas das ondas que a passagem dos carros grandes cria - num instante já é a rede para o futevôlei; isopor vira barco; colchão inflável é como um bote. Os sacos de dindim cheios da água que se acumula se transformam num arsenal para uma batalha épica. Separados em dois grupos, vão fazendo uma guerra com água de chuva ensacada. De riso fácil e muitos cachos de guardar a chuva, Dalest é como um cinegrafista: vai mostrando pelos stories as modalidades das olimpíadas da chuva para que a Cidade veja que aquela Fortaleza ali sabe ser riso. Como a vista alcança o mar pertinho, Dalest fala que a relação ali "é de pertencimento muito forte com água" e que a chuva une. Sem o alagamento, Dalest garante que a chuva ia continuar sendo o motivo de juntar menino. A missão é resolver o problema, mas enquanto não resolve, é o jeito tirar onda. "A gente só precisa do motivo para fazer o enxame. E a chuva é isso. A chuva é alegria".

O que você achou desse conteúdo?