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Disputa por cargos federais no Ceará se intensifica
Reportagem

Disputa por cargos federais no Ceará se intensifica

| 2º e 3º escalão | Onyx Lorenzoni e Joice Hasselmann estão à frente dos diálogos com o coordenador da bancada, Domingos Neto
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As tratativas para a ocupação de cargos federais no Ceará de segundo e terceiro escalões ganharam força nos últimos dias. O coordenador da bancada local na Câmara dos Deputados, Domingos Neto (PSD), dará mais um passo hoje. Ele encontrará um dos condutores da questão, o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Segundo ele, estará em pauta a ocupação destes postos no Estado e a permanência do Banco do Nordeste (BNB) - o Planalto ventila a possibilidade de fundi-lo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Para ele, a união não deverá acontecer.

"O Governo percebeu que isso não tem chance de passar e a mera especulação atrapalharia a construção de uma base de apoio", opina Neto.

Antes, na semana passada, o coordenador esteve com a líder de Jair Bolsonaro (PSL) no Congresso Nacional, a deputada Joice Hasselman (PSL). Segundo diz, a parlamentar o entregou lista com nomes para 14 órgãos federais. O total de repartições no Estado, contudo, gira em torno de 40.

Sobre o número ainda distante do total, Neto afirma ter ouvido de Joice que os ministros ainda acertam os escolhidos.

Companhia Docas do Ceará é um dos principais postos, mas Neto afirmou não estar na lista entregue pela pesselista, assim como outros ligados a Minas e Energia.

As principais definições Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Parlamentares cearenses que dão sustentação ao Governo Federal, 10 entre 22, não poderão fazer indicações para todas as áreas. As consideradas nomeações técnicas ficarão sob alçada exclusiva de ministros.

O deputado adiciona ainda que as indicações liberadas estão ocorrendo mediante assinatura ao lado do nome do indicado, que representa responsabilidade pela nomeação, mas não só isso.

O parlamentar que quiser rubricar ao lado de um indicado estará, extraoficialmente, afirmando que votará a favor da reforma na Previdência Social. "Se o governo quiser condicionar isso, a maioria dos 10 vai discordar", avalia Neto. Assim, diz que deliberará sobre a questão com a base cearense.

Um dos integrantes desta base, Capitão Wagner (Pros), confirma ter escutado nos corredores do Congresso a condição da assinatura. "Não vou indicar ninguém condicionado a votar em reforma", adianta. O capitão reformado da PMCE é contra alguns pontos do texto, a exemplo das condições impostas a trabalhadores rurais.

Para Wagner, apesar de as indicações estarem sendo baseadas em critérios técnicos - mesmo se forem políticas - a condução é conturbada.

"Só pra você ter noção, um dos deputados federais do Ceará tentou agendar reunião com o diretor de infraestrutura do Dnit, que só pode receber na presença do general que dirige (diretor-geral, o general Antonio Leite dos Santos Filho). Isso demonstra que o general não confia nos políticos e no seu próprio assessor. Isso é ruim pro órgão".

O deputado Heitor Freire (PSL) minimiza a questão envolvendo assinaturas. "Se a pessoa quer fazer parte da estrutura do governo ela tem que se comprometer com a agenda do governo", argumenta.

Ele assegura que votará a favor de toda e qualquer pauta vinda do Planalto, sem reivindicar indicações em troca. "Sou e serei fiel à pauta do governo Bolsonaro". O líder do PSL no Ceará pondera que se for solicitado poderá dar contribuições.

Sobre os colegas de bancada e suas deliberações, Freire afirma não ter informações, já que não vai aos encontros. Ele entende que isto significa independência em relação ao grupo.

Apesar disso, avalia que os indicados para cargos relevantes não poderão ter vínculos ou concepções relativos à esquerda. Usará, inclusive, a tribuna da Câmara para denunciar eventuais quadros com esta preferência ideológica, além de alertar ministros.

Por outro lado, em cargos com menor poder de influência, não vê problemas, já que as pessoas podem mudar. Exemplifica o ex-senador Magno Malta, "maior petista que tinha no Brasil", hoje apoiador do presidente da República.

Ainda segundo Freire, Joice reúne competências para protagonizar estes diálogos. Classifica a deputada como "altamente qualificada" e "bem quista" na Câmara, com capacidade para guiar o processo de escolha de nomes por parte do Governo.

A líder do Governo no Congresso foi procurada por meio da assessoria, que disse que ela não falaria sobre o caso, e do próprio celular desde a última quinta-feira. Ligações resultaram em caixa postal. Mensagens no WhatsApp foram visualizadas, mas não respondidas. Entres os questionamentos, o número de órgãos federais na lista e a relação com os ministros.

 

Números

22

deputados formam a bancada federal do Ceará

10

destes parlamentares integram a base de Jair Bolsonaro (PSL)

12

deputados, entre opositores e independentes, não participam de diálogos

RANKING DE CORRUPÇÃO

O Tribunal de Contas da União (TCU) divulgou em 22/11/2018 órgãos federais com maior potencial de corrupção. O mapeamento foi entregue à equipe de Jair Bolsonaro (PSL), à época em transição.

Foram 287 órgãos federais detectados com risco de possíveis fraudes e corrupção. O índice vai de zero a um, sendo um o mais alto risco de corrupção. No Ceará, o ranking ficou da seguinte maneira:

1º - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) - 0,91 (risco muito alto)

2º - Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab) - 0,83 (risco alto)

3º - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) - 0,77 (risco alto)

4º - Companhia Docas do Ceará (CDC) - 0,56 (risco médio)

5º - Universidade Federal do Ceará (UFC) - 0,54 (risco médio)

6º - Universidade Federal do Cariri (UFCA) - 0,49 (risco médio)

7º - Banco do Nordeste (BNB) - 0,29 (risco médio)

frase

"Não há nenhum projeto, não fala nada do Nordeste"

José Guimarães (PT), deputado federal

"O Governo percebeu que isso (fusão BNB-BNDES) não tem chance de passar e a mera especulação atrapalharia a construção de uma base de apoio"

Domingos Neto (PSD), deputado federal

"Eu não estou ali para ser um político, sou um soldado de Jair Bolsonaro"

Heitor Freire (PSL), deputado federal

Heitor Freire
Heitor Freire

frase

"Eu não estou ali para ser um político, sou um soldado de Jair Bolsonaro"

Heitor Freire (PSL), deputado federal

frase

"O Governo percebeu que isso (fusão BNB-BNDES) não tem chance de passar e a mera especulação atrapalharia a construção de uma base de apoio"

Domingos Neto (PSD), deputado federal

Guimarães diz que é a 'velha política'

Se deputados cearenses hoje de oposição a Bolsonaro já emplacaram apadrinhados em assentos federais no Estado, isto não deverá ocorrer neste mandato.

Além da atenção do Planalto a servidores com concepções incompatíveis com as do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e da extinção de 21 mil cargos, que deverá gerar economia de R$ 194,9 milhões, deputados não demonstram ter desinteresse em indicações.

Conforme José Guimarães (PT), a bancada deveria priorizar projeto para o Estado. Avalia ainda que no Governo Federal "não há nenhum projeto, não falam nada do Nordeste".

O petista também afirma que assinaturas em troca de apoio à reforma previdenciária estão ocorrendo, o que classifica como "velha política". Questionado se nos governos que antecederam o do pesselista não ocorriam indicações políticas, ele afirma que sim, mas não sob condições.

O líder do PDT na Câmara dos Deputados, André Figueiredo, diz que oposição não é chamada para estes tratativas. "Queremos apenas que a escolha recaia sobre nomes técnicos", diz sobre uma das promessas do presidente.

Diferente do bloco encabeçado pelo PT, que quer derrotar o texto do Governo a todo custo, Figueiredo acrescenta ainda que a sigla trabalhista atuará ativamente do processo de discussão da reforma, inclusive com propostas de emenda.

Eduardo Bismarck (PDT) também afirma não participar de conversas sobre postos federais, o que não pretende fazer.

"Estive com a Joice essa semana, inclusive, e falamos de Pacto Federativo. Eu sou coordenador adjunto da bancada, não tem nenhuma conversa do Governo Federal comigo".

Áudio obtido com exclusividade pelo O Globo guarda semelhança com apuração do O POVO. O conteúdo ao qual a publicação carioca teve acesso mostra o deputado Gulliem Lemos (PSL-PB) falando ao assessor do Ministério do Turismo, Fabio Nobrega Lopes, que recebeu da Casa Civil o privilégio de sugerir nomes para cargos de direção da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) e na sede regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A contrapartida, disse na conversa, é o voto à reforma.

O parlamentar grampeado se disse vítima de um crime, o que atribuiu o grampo a adversário, sem citar nomes.

A reforma deve iniciar tramitação na CCJC no próximo dia 20, quando os militares entregarão a proposta para a categoria.

Guimarães diz que é a 'velha política'

Se deputados cearenses hoje de oposição a Bolsonaro já emplacaram apadrinhados em assentos federais no Estado, isto não deverá ocorrer neste mandato.

Além da atenção do Planalto a servidores com concepções incompatíveis com as do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e da extinção de 21 mil cargos, que deverá gerar economia de R$ 194,9 milhões, deputados não demonstram ter desinteresse em indicações.

Conforme José Guimarães (PT), a bancada deveria priorizar projeto para o Estado. Avalia ainda que no Governo Federal "não há nenhum projeto, não falam nada do Nordeste".

O petista também afirma que assinaturas em troca de apoio à reforma previdenciária estão ocorrendo, o que classifica como "velha política". Questionado se nos governos que antecederam o do pesselista não ocorriam indicações políticas, ele afirma que sim, mas não sob condições.

O líder do PDT na Câmara dos Deputados, André Figueiredo, diz que oposição não é chamada para estes tratativas. "Queremos apenas que a escolha recaia sobre nomes técnicos", diz sobre uma das promessas do presidente.

Diferente do bloco encabeçado pelo PT, que quer derrotar o texto do Governo a todo custo, Figueiredo acrescenta ainda que a sigla trabalhista atuará ativamente do processo de discussão da reforma, inclusive com propostas de emenda.

Eduardo Bismarck (PDT) também afirma não participar de conversas sobre postos federais, o que não pretende fazer.

"Estive com a Joice essa semana, inclusive, e falamos de Pacto Federativo. Eu sou coordenador adjunto da bancada, não tem nenhuma conversa do Governo Federal comigo".

Áudio obtido com exclusividade pelo O Globo guarda semelhança com apuração do O POVO. O conteúdo ao qual a publicação carioca teve acesso mostra o deputado Gulliem Lemos (PSL-PB) falando ao assessor do Ministério do Turismo, Fabio Nobrega Lopes, que recebeu da Casa Civil o privilégio de sugerir nomes para cargos de direção da Fundação Nacional da Saúde (Funasa) e na sede regional do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A contrapartida, disse na conversa, é o voto à reforma.

O parlamentar grampeado se disse vítima de um crime, o que atribuiu o grampo a adversário, sem citar nomes.

A reforma deve iniciar tramitação na CCJC no próximo dia 20, quando os militares entregarão a proposta para a categoria.

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