Logo O POVO+
O mundo digital e os desafios da proteção
Reportagem

O mundo digital e os desafios da proteção

| ALERTA | Acesso irrestrito a diferentes tipos de mídia pode ter influência sobre a sexualização precoce de crianças
Edição Impressa
Tipo Notícia

Cada vez mais conectados, meninas e meninos têm à disposição uma série de ferramentas que podem colaborar ou não com um consumo saudável de informações. Em sintonia com as transformações tecnológicas que as rodeiam, as crianças, assim como os adultos, desejam integrar espaços ocupados pelos mais velhos, que assistem às novelas, criam perfis em redes sociais e protagonizam canais no YouTube.

Mas é aí onde reside o perigo, segundo a médica Zenilda Bruno. De acordo com ela, o consumo desenfreado de produções audiovisuais pode ter influência em comportamentos caracterizados pela erotização precoce. “A gente vê que as crianças imitam as pessoas que aparecem na novela. Se eu tenho uma cena de sexo explícito, a criança de 7, 8, 10 anos que vê aquilo pode enxergar a situação como algo permitido para ela também".

O impacto negativo não se restringe à forma como a criança lida com a própria sexualidade, mas também à maneira como o corpo responde a tais estímulos. De acordo com a médica, é possível, inclusive, que a influência desses conteúdos cause alterações hormonais, como as que estão relacionadas à menarca, ou seja, a primeira menstruação.

“Nós temos, no cérebro, um local chamado sistema límbico, um local que libera emoções. O estímulo dessa região altera sim a chegada da menstruação. A menina pode menstruar mais cedo por conta desses estímulos. As danças erotizantes, por exemplo, podem fazer com que as crianças se erotizem mais cedo, influenciando, por consequência, numa menstruação mais cedo. E pode influenciar em algo pior, que é a gravidez precoce, na adolescência. Elas começam a se relacionar sem método contraceptivo e engravidam”, afirma.

Em meio às consequências negativas do acesso desenfreado às mídias, Rodrigo Nejm, psicólogo e diretor de Educação da Safernet, esclarece que o acesso a conteúdos midiáticos não é o único fator a influenciar a sexualização na infância. “Não podemos considerar como causa e consequência direta. São vários os fatores que podem causar a erotização precoce, e a exposição às mídias é uma das referências, está ao lado de outras, como o comportamento de outros adultos, referências da escola e do imaginário, do lúdico”.

Defensor de um uso saudável dos conteúdos midiáticos, Rodrigo também chama atenção para os reflexos negativos relacionados à publicidade infantil. Atualmente, há uma infinidade de empresas que fabricam produtos originalmente pensados para adultos e que ganham uma adaptação destinada às crianças, como itens de beleza, por exemplo.

“O uso da maquiagem não é o problema em si, a questão é o contexto do uso. Uma maquiagem que imita uma personagem adulta erotizada precisa ser avaliada. A criança usa para se igualar a alguma celebridade, a um sex simbol? Esse é um contexto de erotização, não é um contexto lúdico, de experimentação e brincadeira. Outra coisa seria utilizar essa maquiagem para compor uma fantasia de Carnaval, algo relacionado ao brincar”, reflete.

Assim como os outros especialistas, Nejm acredita que, no universo representado pela Internet, a mediação parental se apresenta como um divisor de águas. Ele avalia que não é o caso de retirar conteúdos danosos da rede, mas de estimular os pais a marcar presença nos momentos em que a criança acessa a Internet e outras mídias, uma vez que meninas e meninos carecem de maturidade para entender muitos dos conteúdos que podem ser encontrados na rede.

“O grande desafio é criar condições para lidar com os perigos de forma saudável, pois a criança tem direito à liberdade de acesso e à informação, e isso inclui o uso da Internet. Para que isso ocorra sem prejuízos, é necessário mediação dos pais e formação de professores para lidarem com isso”.

 

O que você achou desse conteúdo?