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Exoneração não encerra a crise no governo
Reportagem

Exoneração não encerra a crise no governo

| queda de ministro | Segundo especialistas, saída de Bebianno exige mudança de postura de Bolsonaro, principalmente em relação aos filhos
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A demissão de Gustavo Bebianno (PSL) da Secretaria-Geral da Presidência da República, anunciada ontem, 18, pelo porta-voz da União, Otávio Rêgo Barros, não demarca o fim do contexto de instabilidade no Governo. O ex-ministro é visto por interlocutores do Planalto como "homem-bomba" devido à proximidade com o presidente Jair Bolsonaro, visto que foi coordenador da campanha presidencial dele e é citado como amigo e conselheiro. Além disso, o episódio Bebianno evidencia que, enquanto os filhos do presidente continuarem a interferir nos conflitos internos da gestão federal, a capacidade de governança de Bolsonaro deve permanecer em xeque.

Bebianno está sendo acusado de esquema de financiamento de candidaturas laranjas do PSL nas últimas eleições. Contudo, o estopim da crise se deu no momento em que, na última quarta-feira, 13, o ex-ministro entrou em conflito com o filho do presidente e vereador do Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (PSL). Negando envolvimento no esquema, Bebianno disse ao O Globo que não tinha sido pivô de nenhuma crise interna no Governo e que, naquele dia, falou três vezes com Bolsonaro. Carlos, que acompanhava o pai, negou o contato e chamou o correligionário de mentiroso.

Especialistas ouvidos pelo O POVO criticam a intromissão. "Uma coisa totalmente surreal", caracterizou o cientista político Francisco Moreira Ribeiro, professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), a respeito do ataque de Carlos a um ministro. Segundo ele, em nenhum outro momento da história da política brasileira, familiares do presidente se intrometeram tão frequentemente nos assuntos internos da gestão. "É como se eles conduzissem determinados processos. Como se fossem parte do poder", analisou.

Valmir Lopes, cientista político e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC), entende que o momento exige de Bolsonaro uma postura mais firme no comando do País e no estabelecimento de limites para os próprios filhos. "Ele precisa aparecer como governante". Continuou: "Interferência familiar é horrível. E não é só a questão familiar, os filhos são políticos também. Isso, provavelmente, vai gerar muita tensão até que se ajuste essa relação. Ou eles se tornam porta-vozes do comando do presidente ou vão ficar em crise constante".

O que também pode manter a crise é que, com a saída de Bebianno da cúpula do Governo Federal, Bolsonaro fica exposto a possíveis retaliações. "Ele (Bebianno) é uma bomba-relógio. Quando abrir a boca, pode criar mais problemas. Vai depender do tamanho do ressentimento", avaliou Francisco Moreira, que lembrou que o ex-ministro resistiu em deixar o cargo e anunciou que concederia entrevista coletiva assim que fosse exonerado pelo presidente.

Magoado, Bebianno também fez referência, no último fim de semana, a outro nome do Governo Federal envolvido no esquema de laranjas. Marcelo Álvaro Antônio, à frente do Turismo, foi, aliás, o primeiro associado ao esquema.

Diferentemente do caso Bebianno, que era presidente nacional do PSL e muito mais próximo de Bolsonaro, Valmir Lopes acredita que o Governo não deve ser tão duro quanto ao futuro de Álvaro Antônio na gestão. "Devem tratar como se fossem duas coisas. A ideia é ir cozinhando e deixando que vá caindo no esquecimento", aposta.

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