As precipitações deste mês, até o momento, trazem esperança de boa quadra chuvosa. Somente nos seis primeiros dias de fevereiro, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) registrou proporção de 49,5 milímetros (mm) de chuvas em todo o Estado. Esse número representa 41,7% da média histórica para todo o mês, que é de 118,6 mm. As águas dessa quinta-feira atingiram 148 das 184 cidades do Ceará. O fenômeno El Niño, que estava previsto pelo prognóstico da Funceme, ainda não se definiu.

Em Fortaleza, os registros de chuva foram ainda maiores. Nos seis primeiros dias de fevereiro, um total de 128,6 mm de chuvas caiu sobre a Cidade. O número representam 78% da média para o mês, que é de 163,2 mm.

"É cedo para afirmar, mas é provável ultrapassar a média histórica. Começamos fevereiro bem, mas não é possível garantir se deverá haver um bom período de chuvas", informa o meteorologista da Funceme, Raul Fritz. A tendência é de chuvas até o início da tarde de hoje. Após esse período, a inclinação, segundo o meteorologista, é de redução das precipitações para o fim de semana.

O El Niño é um fenômeno que se caracteriza por um aquecimento acima do normal nas águas do Oceano Pacífico Equatorial e costuma influenciar em redução drástica de chuvas no Nordeste. Este ano, segundo Fritz, essa condição meteorológica ainda não se formou, mas poderá vir a acontecer. "Ele interfere negativamente e diretamente na qualidade da nossa quadra chuvosa".

A previsão para saber se o El Niño deve ou não se constituir só será possível de se perceber na segunda quinzena de fevereiro. Pelo prognóstico divulgado pela Funceme em janeiro, a probabilidade de chuvas para fevereiro, março e abril é de 40% para em torno da média, 30% para acima e 30% para abaixo da média.

As precipitações nesse período de fevereiro a maio são esperadas e ocasionadas graças à Zona de Convergência Intertropical, principal sistema meteorológico que atua durante a quadra.

No intervalo entre as 7 horas do dia 6 e as 7 horas do dia 7, as chuvas mais volumosas foram registradas nos municípios de Granja (108 mm), Litoral Leste do Estado; Boa Viagem (70 mm), na região Centro-Oeste do Ceará; e em Ipaumirim (67 mm), no Cariri.

 

Ocorrências registradas pela Defesa Civil

REGIONAL 1

Dois riscos de Desabamento: um no Cristo Redentor e outro no Jardim Iracema;

REGIONAL 2

Um muro caiu no Vicente Pizón;

REGIONAL 3

Um risco de desabamento no Quintino Cunha;

Regional 4

Um risco de desabamento na Serrinha;

REGIONAL 5

Um alagamento no Presidente Vargas;

QUATRO riscos de desabamento (Genibaú, Mondubim, Parque Santa Rosa e Planalto Airton Sena);

REGIONAL 6

Um alagamento no Parque Dois Irmãos;

Dois riscos de desabamento nas Cajazeiras e Parque Dois Irmãos.

RISCO

Açudes de risco segundo a ANA: Jaburu (Ubajara), Ayres de Sousa (Jaibara, em Sobral), Forquilha, Frios (em Umirim), Lima Campos (em Icó), Paulo Sarasate (Araras, em Varjota), Pompeu Sobrinho (Choró) e Várzea do
Boi (Tauá)

Açudes

A Semace monitora 155 barragens, sendo 81 de responsabilidade do

Dnocs e 74

do Estado.

El Niño

De 1950 a 2017, o El Niño ocorreu entre março, abril e maio em 15 dos anos: 11 foram de seca, três foram de neutralidade e um foi de boas chuvas.

Órgãos negam risco de rompimento de barragens no CE

A comoção que tocou brasileiros depois da tragédia de Brumadinho também levantou um questionamento: "E se fosse aqui?". Após o desastre acontecido na cidade mineira, relatório da Agência Nacional de Águas (ANA) apontou que oito açudes cearenses apresentam alto risco. De acordo com órgãos responsáveis por monitorar e fiscalizar recursos hídricos no Estado, no entanto, a possibilidade de rompimento é descartada.

Durante discussão promovida pelo Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema), realizada na Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), nesta quinta-feira, 7, representantes de várias instituições explicaram que o termo de classificação utilizado pela ANA não retrata uma real chance de ruptura. Diretor de operações da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh), Bruno Rebouças afirmou que um dos fatores responsáveis por aumentar o grau de risco acontece pela própria formação histórica do povo cearense.

De acordo com ele, por sofrer constantemente com secas, naturalmente os cearenses sempre buscaram estar próximos a reservas de água, o que representaria por si só uma possível ameaça.

Titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira afasta qualquer paralelo feito entre barragens cearenses com a que rompeu em Brumadinho, no último dia 25 de janeiro. "A barragem de Brumadinho não tem nada a ver como as que são feitas para acúmulo de água. Seja o Governo do Estado, seja o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), ninguém faz barragem como essas de rejeitos", declarou.

Para construir esse tipo de empreendimento no Ceará, é preciso obter autorizações expedidas pela Semace, que atualmente monitora 155 barragens. Dessas, 81 são de responsabilidade do Dnocs que, segundo Teixeira, "tem tradição secular", desde a construção do açude de Cedro, em Quixadá. "Não se tem notícia de barragem do Dnocs arrombada".

Representante do departamento na reunião, Raquel Rebouças celebrou a segurança das construções da instituição, mas alertou ainda sobre imprevistos que podem acontecer. Como exemplo, ela citou o rompimento da barragem do açude de Orós, em 26 de março de 1960. O livro a "Tragédia do Orós", do economista Pedro Sisnando Leite, retrata que "em 4 dias precipitaram-se 400 milímetros e, em 10 dias ou 12 dias, mais de 700 milímetros, o que é equivalente quase à descarga pluviométrica de um ano de regular inverno".

"Houve um desastre de grande proporção, mas a construção não estava acabada e as chuvas foram anormais", enfatizou, ponderando em seguida: "Agora temos que discutir o compartilhamento de responsabilidades. Uma instituição sozinha não consegue manter com regularidade e com confiança a segurança das barragens".

Representando o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea-CE), Emanuel Maria Mota enfatizou que o acidente ocorrido em Brumadinho impactou tanto o meio ambiente quanto a sociedade, devido às 157 mortes registradas. "Mas é preciso não majorar o problema, porque o que vemos de lá de Minas Gerais não é a realidade daqui do Ceará".

Ele informou ainda que o Governo Estadual possui cerca de 30 mil barragens para monitorar, ao mesmo tempo que não tem técnicos o suficiente para tal. "Mas o Crea Ceará tem 30 mil profissionais registrados, então existe braço para fazer esse monitoramento", manifestou.

Chuva causa transtornos e desabamentos na Capital

A quinta-feira foi de chuva na Capital. E o alerta do Instituto Nacional de Meteorologia é que as chuvas fortes podem se estender até as 8 horas desta sexta-feira, sob classificação de "perigo potencial", com ventos de até 60 km/h.

Durante a chuva da manhã de ontem, na rua Floriano Peixoto, no Centro, o vendedor ambulante Tiago Silva, 30, se virava como podia. Com duas bancas, uma para vender chá verde e outra, capinha para celular, ele protegia as mercadorias com plástico.

Logo mais à frente, na Praça do Ferreira, o céu estava cinza e o colorido dos guarda-chuvas se espalhava. Lucro certo para Fabiano Martins, que vende água em dias de sol e as sombrinhas quando chove. "Só hoje, já vendi 20 delas", anima-se.

A água encharcou colchões das pessoas em situação de rua, na Praça do Ferreira. No meio daquela multidão de guarda-chuvas, Eliane Alves, 53, estava ali em busca de comida. Ela parou de passar as noites na praça há quatro meses, desde que foi incluída no aluguel social, do poder público municipal. Ela e a companheira Edilane Ferreira, 26, não veem outra alternativa a não ser ir à praça para conseguir se alimentar. Na época em que dormiam no largo, em época de chuva, as marquises das lojas faziam as vezes de abrigo. "Era muito frio. E quando chovia e tinha vento, não tinha jeito. A gente ficava toda molhada. Não dá para você dormir bem na rua. A cabeça não sossega. Avalie, molhada", recorda.

A Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil registrou ontem 13 ocorrências em Fortaleza por conta das chuvas, entre alagamentos, queda de muro, riscos de desabamentos e desabamentos. A assessoria de comunicação do órgão informou que não houve vítimas e que nenhuma família ficou desabrigada.

Na Aerolândia, a população se queixa dos pontos de alagamento. Na esquina das ruas Capitão Olavo e General Lima da Silva, próximo a avenida Raul Barbosa, a água da chuva acumulada cobriu calçadas, prejudicando comércios e transeuntes.

Próximo ao canal do Lagamar, a situação se repete. E os moradores reclamam da quantidade de mosquitos que a água parada atrai. A Travessa Oriente, próximo à passarela do canal, ficou parcialmente alagada com a chuva dessa quinta-feira. Moradores que não quiseram se identificar afirmaram que basta uma "chuva fraca" para o acesso a suas casas ficar comprometido. "Imagina quando o inverno chegar de verdade!", teme um morador. (Angélica Feitosa)