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O impacto delas na chefia
Reportagem

O impacto delas na chefia

| SOCIEDADE | Aumento das políticas públicas voltadas à autonomia feminina e crise econômica são fatores que contribuem para mais mulheres no comando
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Após quase seis anos recebendo a metade do valor que o esposo ganhava, a professora Suzi Martins é hoje a detentora da maior renda da casa. "Foi uma transição bem difícil porque eu tive que fazer uma série de atividades paralelas para manter a nossa qualidade de vida, então comecei a trabalhar principalmente no ramo de vendas", explica.

 

Hoje, com salário mais alto que o esposo, o também professor Pedro Martins, ela conta que um dos principais caminhos para fazer dar certo a transição de orçamentos é a organização financeira e a autonomia de cada um.

 

"No início ganhávamos o mesmo salário, depois ele passou a ganhar o dobro com uma indicação de cargo político, nós sabíamos que era transitório porque o mandato poderia terminar em oito anos, mas terminou antes. Então eu comecei a pensar em como fazer para manter um padrão que já tínhamos estabelecido, principalmente para nossa filha que estudava em escola mais cara".

 

Conforme ela, as decisões financeiras do casal sempre foram bastante conjuntas, mesmo quando Pedro tinha a maior renda. "O diálogo é sempre o melhor caminho para essas resoluções. Colocamos tudo na ponta do lápis", aponta.

 

Carolina Ruhman, especialista em finanças pessoais e fundadora do site Finanças Femininas, ressalta o que chama de movimento em direção à economia do conhecimento. "As mulheres têm mais formação. Elas são 60% da população universitária e mesmo com toda a diferença salarial ela está muito bem equipada para a gestão da economia".

 

A especialista ressalta que ainda há muitos desafios que as desigualdades de gênero ainda trazem diante de um empoderamento econômico feminino. Ainda assim, avalia que, na verdade, mesmo que não fosse a detentora da maior renda, a mulher sempre teve espaço na gestão financeira domiciliar.

 

"A gente ainda tem um cenário em que a mudança do pensamento e do comportamento não acompanhou o ritmo desse crescimento econômico feminino. A gente ainda tem essa mentalidade do provedor, a renda de um bancar a vida de uma família. Tem muito essa mentalidade de achar que as mulheres não sabem lidar com dinheiro, mas a verdade é que elas são as gestoras do orçamento, mesmo quando não sejam provedoras. Se ela tem a melhor renda, não só é gestora como a principal provedora", explica.

 

Carolina cita ainda o alto número de separações pela dificuldade de homens lidarem com mulheres detentoras de maior renda no lar. Outro avanço apontado pela especialista é o direcionamento de políticas públicas às mulheres que acabaram garantindo maior autonomia. É o caso do Minha Casa, Minha Vida, que desde 2012 destina o documento da preferencialmente às mulheres.

 

Sobre a questão das políticas públicas direcionadas, Celecina Veras, professora do curso de Gestão de Políticas Públicas da Universidade Federal do Ceará (UFC), analisa que foram feitos estudos que avaliam a melhor gestão de imóveis e financiamentos.

 

"Muitos estudos descobriram que o homem, quando conseguia a casa vendia. Depois se percebeu que realmente a família estava muito mais protegida quando essa política era direcionada para mulheres, inclusive para empréstimos, que elas pagavam mais", detalha.

 

Outro programa que contribui para a autonomia delas, principalmente as de baixa renda, é o Bolsa Família. De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), mais de 13 milhões de famílias atendidas pelo programa estão fora da extrema pobreza, 93% dos titulares do cartão do programa são mulheres e 68% negras.

 

Claudia Forte é superintendente da Associação de Educação Financeira do Brasil, que promove o projeto de educação financeira Futuro na Mão para beneficiários do Bolsa Família.

 

Para ela, o benefício mais importante que o programa traz, atrelado à educação financeira, é a outorga da autonomia das mulheres beneficiárias e a saída do endividamento. "Muitas vezes ela está presa com agiotas, tem 10, 15 cartões de crédito, e o Bolsa Família começa a outorgar um pouco mais de autonomia para que esse ciclo se desfaça. Então, ela lentamente começa a iniciar um negócio pequeno, alimentar melhor os filhos, sai do ciclo vicioso, e começa a se sentir inserida no ciclo econômico. É preciso que seja dito que o Bolsa Família é um programa de transferência de renda. Ele não é puramente de assistência social". (Eduarda Talicy e Domitila Andrade)

 

Renda

 

Segundo o Ipea, é elevado o patamar de famílias em que as mulheres não têm cônjuges, o que aumenta o risco de vulnerabilidade social, já que a renda delas continua sendo inferior a dos homens em igual posição.

 

Números

 

93% dos titulares do cartão do Bolsa Família são mulheres

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