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A força do comércio popular
Reportagem

A força do comércio popular

Seguindo uma tendência que se iniciou no ramo alimentício, o atacarejo tem ganhado adesão na área de confecção e moda
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Ao lado da comerciante que negocia o desconto de venda em oito peças de blusa para revenda em loja de roupas no interior do Estado está a moça que experimenta o vestido de linho para os festejos de fim de ano. O cenário de negociação de atacado mesclado ao de varejo em um só ambiente tem se tornado uma das opções mais atrativas do comércio popular.

[SAIBAMAIS]

Basta uma caminhada em empreendimentos de venda mista como Mucuripe Moda Center ou Centro Fashion Fortaleza para entender que o atacarejo - comum no ramo alimentício - possui força no vestuário. Com menor estrutura de lojas, menos funcionários e redução de processos de produção e venda, a ideia é minimizar os custos e ter resultado de preço direto em cada peça.

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Nem o glamour de grandes marcas e grifes, nem a dificuldade de estrutura das feiras de rua. O comércio popular se destaca justamente por encontrar o meio termo. Com variedade, preço competitivo e qualidade nos produtos, o público desse mercado está mais abrangente. Vai da classe média, que percebeu que pode comprar mais peças pelo preço de uma só, às mais baixas, que querem investir em produtos diferenciados.

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"A gente sempre procura uma coisa legal com preço mais abaixo. Hoje em dia não dá para pagar R$ 300 por uma roupa. Eu acho que se o produto vestir bem e se for de qualidade, não precisa de bandeira nenhuma", afirma Brenda Marzieiro, 21.

 

A publicitária é paranaense e escolheu o Centro Fashion Fortaleza para fazer as compras. Ela conta que tenta fazer a mesma coisa no estado natal e que reduziu o rol de marcas que prioriza. Vestidos com valor de mercado de R$ 150 ou até R$ 200 podem ser encontrados por R$ 70, por exemplo. A maioria das peças são de produção dos próprios vendedores, de facções ou de importação de produtos chineses, como bolsas.

Alguns dos comerciantes que produzem são também fabricantes de lojas maiores. "Eles chegam aqui como uma segunda marca, têm a qualidade, têm tudo, só não têm a marca conhecida", explica André Pontes, diretor do Centro Fashion Fortaleza. Ele acredita que além de interessante para o comprador, o crescimento deste mercado é uma oportunidade de o microempreendedor individual se regularizar.

De acordo com o economista Alex Araújo, a expansão deste tipo de comércio é bem característica de Fortaleza, porque a Cidade é polo de produção de confecções. "Então esses estabelecimentos hoje agregam tanto o comércio varejista em pequenas quantidades para consumidores quanto o comércio atacadista para outros vendedores", diz. Para ele, a adesão do consumidor é em função das vantagens de preço que esses estabelecimentos oferecem.

"Já que a referência que eles possuem é muito próxima do preço dos atacados, isso dá para esse tipo de negócio uma grande competitividade e tem feito com que cada vez mais o consumidor final utilize esses ambientes para suas compras".

Nestes casos, para conseguir assegurar um dos principais atrativos, que é a questão preço, o valor que é pago pelo metro quadrado também faz a diferença. É o que explica Adriana Rosy Lima, 33, vendedora em uma loja no shopping Fontenele Mall, no Centro. Ela conta que também tem um box em outro centro comercial e que a estrutura reduzida, em espaços mais afastados, repercute no valor do aluguel ou compra de um espaço.

"Uma loja deste mesmo tamanho em shoppings maiores é inviável e muito mais cara. Aqui eu faço um preço bom e continuo com um bom espaço para receber as pessoas. E, claro, deixa o produto mais barato".

Roberto Kanter, professor dos MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), ressalta que a procura por esses empreendimentos pode impactar a venda de grandes centros. "Os shoppings devem estar sofrendo porque uma parte do seu público está deixando de frequentar marcas tradicionais e, muitas vezes, a marca alternativa não tem a grife carioca ou paulistana, mas tem outras vantagens. Uma moda mais regional fala melhor com o público", explica.

Ainda assim, para Kanter, diante de uma recuperação econômica, a tendência é que as pessoas retornem aos hábitos tradicionais de compra. Além disso, a possível recuperação pode trazer uma valorização natural desses produtos, inclusive, com aumento de preços.

O metro quadrado do aluguel ou compra é, de fato, fator relevante. Assim como Kanter, o economista Alex Araújo diz que há um padrão estrutural nessas centrais de comercialização de microempreendedores. "São boxes muito pequenos, uma forma de o vendedor tentar conter esse custo. 

Diferentemente do que se vê em lojas de rua, de shopping, com grandes áreas de exposição, nesse tipo de negócio prevalece esse modelo mais compacto exatamente para evitar que esse custo afete de forma mais forte o preço final dos produtos", diz.

Outra característica destes tipos de empreendimentos é que não é incomum ver pessoas preparadas para experimentar uma saia ou uma blusa por cima da roupa, por exemplo. É o caso da estudante Larissa Silva, 17. Acostumada a comprar em lojas populares e até em feiras, ela já sai de casa preparada para as compras. "Vim agora do Mucuripe, mas frequento as lojas da José Avelino, do Centro Fashion. O que importa é um preço bom e eu me sentir bem com uma peça, estar bem vestida".

FLUXO 

No fim do ano, quando chegam os períodos festivos, as compras se intensificam e o Centro Fashion chega a receber mais de 240 mil pessoas por mês.

O que é? 

 

Conforme Pádua Bracioli, professor da extensão com expertise em varejo popular e lojas. O varejo popular tem a ver com a geografia, a economia, a necessidade individual de sobrevivência e sobretudo com uma vontade enorme de crescimento e realização. Aliado ao atacarejo, é iniciativa comercial que alia preço baixo, qualidade e variedade. Geralmente têm estrutura operacional reduzida para não onerar o preço do produto.

Média de Preços 

Fontenelle Mall

Short jeans: 20 a 30 reais

Vestidos: 45 a 100 reais

Calças jeans: 40 reais

Blusas : de 15 a 35 reais

Mucuripe Moda Center

Blusas: 20 reais

Calças jeans: de 30 a 50 reais

Short jeans: 20 reais

Vestidos: de 25 a 60 reais

Centro Fashion Fortaleza

Short Jeans: de 10 a 25 reais

Bermudas: 30, 40 reais

Vestidos: de 30 a 70 reais

Blusas: de 15 a 30 reais

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