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29% dos brasileiros são analfabetos funcionais
Reportagem

29% dos brasileiros são analfabetos funcionais

São 29% dos brasileiros, o equivalente a cerca de 38 milhões de pessoas, classificados nos níveis mais baixos de proficiência e escrita. A proporção é notoriamente maior entre os mais velhos
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Não compreender a escrita em sua essência e, por vezes, não se comunicar plenamente, continua sendo um entrave para a melhoria de vida no Brasil. Em tempos onde a informação é uma das ferramentas mais poderosas para garantia de direitos, a falta de conhecimento continua a negar o acesso, principalmente, entre os mais velhos. Três em cada dez jovens e adultos de 15 a 64 anos no Brasil são considerados analfabetos funcionais. São 29% do total, o equivalente a cerca de 38 milhões de pessoas, classificados nos níveis mais baixos de proficiência e escrita, conforme pesquisa do Indicador do Alfabetismo Funcional (Inaf) no Brasil - 2018.

Quanto mais alta a escolaridade, maior a proporção de pessoas nos níveis mais altos da escala Inaf. É possível constatar ainda a diferença na proporção de analfabetos funcionais entre mais jovens e mais velhos. Enquanto 12% de jovens entre 15 e 24 anos situam-se nessa condição, esta proporção chega a 53% dentre pessoas entre 50 e 64 anos.

[SAIBAMAIS] Do total, 8% são analfabetos absolutos (não conseguem ler palavras e frases) e 21% estão no nível considerado rudimentar (identifica informações familiares, como datas, nomes familiares e preços).

Em 2017, a taxa de analfabetismo funcional no Ceará era de 20,5%, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), divulgada pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE). No Estado, 87% dos analfabetos absolutos têm mais de 40 anos, dos quais quase metade (46%) tem mais de 60 anos.

A alfabetização, em seu conceito amplo, extrapola os limites do letramento e da decodificação das palavras, compreendendo diferentes aprendizagens, explica Liliana Castor Farias, assessora técnica da Educação de Jovens e Adultos da Secretaria Estadual da Educação (Seduc). O processo de alfabetização é contínuo e abrange o desenvolvimento da interpretação e do raciocínio lógico.

"Os jovens e adultos que amadurecem sem ter terminado a escola acabam achando que é possível viver sem estar escolarizado. O sentimento que a gente quer despertar é que elas podem viver sem a escola, mas que podem viver muito melhor com a escolaridade. Que vai dar mais qualidade de vida e de trabalho", conta Liliana, sobre o diálogo de convencimento. Muitos consideram a idade avançada um entrave para voltar a aprender.

"Têm mitos, paradigmas e preconceitos que precisam ser superados para que essa população volte a estudar", acrescenta.

Ocimar Munhoz Alavarse, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP) relaciona os altos índices de analfabetismo funcional entre jovens e adultos à falta de políticas públicas de busca e manutenção dos alunos direcionadas às especificidades da conjuntura.

"As pessoas com maiores dificuldades são mais velhas e mais pobres. Uma parte já foi para a escola um dia e teve experiência de fracasso escolar. No Brasil, estados e municípios não têm políticas consistentes para atender a essa população", avalia, sobre o que ele considera uma dívida social.

"Abrem uma turma e esperam que eles vão procurar a escola por si só. A oferta é muito pequena. É preciso uma política para ir atrás dessas pessoas, fazer levantamentos das demandas, uma oferta diferenciada. Não é só abrir turmas à noite", propõe.

Ele frisa que a distância entre essas pessoas e a escola gera obstáculos para uma série de possibilidades como acesso a melhores empregos, benefícios e direitos. "Muitas chegam a dizer que escola não é coisa pra ela, começam a duvidar da própria capacidade. Precisam de um cuidado especial, um acompanhamento. Não é culpa das pessoas. Não se trata de tratá-las como coitadas, se trata de desigualdade".

INAF 

De 2001 a 2005 a pesquisa era anual, alternando foco entre leitura/escrita e matemática. A partir de 2007, houve mudança no intervalo e na metodologia, unindo a duas dimensões num mesmo banco de itens e escala de proficiência.

 

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