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Cooperativismo. Uma visão do todo
Reportagem

Cooperativismo. Uma visão do todo

| ECONOMIA SUSTENTÁVEL | As cooperativas trazem na essência a economia sustentável. Priorizam o trabalho em conjunto para alcançar objetivos no mercado e para o associado
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Buscar formas de produção menos agressivas ao meio ambiente, socialmente mais justas e sustentáveis do ponto de vista econômico já não é uma tarefa futura para garantir qualidade de vida das próximas gerações. É uma necessidade do agora para fazer frente às mudanças climáticas que já interferem no dia a dia e no crescimento da desigualdade no mundo. Os desafios são enormes, mas tem crescido no Brasil o número de iniciativas que caminham nesta direção.

 

Parte delas vêm pela força das cooperativas, que já trazem, em sua própria essência, fundamentos de sustentabilidade, como o da cooperação mútua para que por meio da soma de esforços os negócios consigam ganhar escala e competitividade e assim transformar a realidade local.

 

O presidente do Sistema das Organizações de Cooperativas do Brasil no Ceará (OCB/Sescoop-CE), Nicédio Nogueira, explica que uma das grandes vantagens do cooperativismo é que além de possibilitar ao produtor, qualquer que seja a atividade, inserir-se no mercado, sem necessidade de intermediários, há uma maior equidade. "O grande produtor precisa do pequeno para viabilizar seu negócio e a recíproca é verdadeira. Há equidade. 

 

Na hora da tomada de decisão, cada um vale o voto não importa o volume de negócios".

 

A fórmula não é nova. Lá se vão mais de dois séculos, desde que as primeiras cooperativas começaram a surgir. Estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT) dão conta que hoje o cooperativismo é a principal fonte de renda para mais de um 1 bilhão de pessoas no mundo. E somente no Brasil mais de 51,6 bilhões de pessoas são beneficiadas direta ou indiretamente pelo cooperativismo, segundo dados da OCB.

 

A agricultora Carmem do Vale, 60, é uma delas. Hoje, ela "está" presidente, como faz questão de frisar, da Cooperativa de Agricultura Familiar e Economia Solidária de Pindoretama (Coopafesp). E fala com orgulho das conquistas obtidas pelo grupo de 280 produtores, como a área de cinco hectares arrendadas em conjunto para ampliar o espaço de produção, o aumento do valor de venda dos produtos (antes o litro do leite era comercializado a R$ 0,40 e hoje é a R$ 1,60) e a melhora da qualidade por conta dos  investimentos em assistência técnica.

 

"Tentamos fazer tudo com menor impacto ambiental possível. E apesar de sermos uma cooperativa ainda engatinhando, temos cinco anos, percebemos que a união nos faz forte na luta pela sobrevivência".

 

Há um consenso de que o cooperativismo é bom para a geração de novos empregos, reduzir os níveis de pobreza e agir em defesa do meio ambiente. Por outro lado, há a certeza de que é preciso também que os modelos cooperativos sejam fortalecidos de boa governança, maior envolvimento de parceiros de base e processos educativos bem estruturados.

 

Sobre este aspecto é que se dedica a Social Brasilis, negócio de impacto social criado pela educadora cearense Emanuelly Oliveira, 30, com o objetivo de impactar pessoas por meio do empreendedorismo social, associada à tecnologia.

 

"Nosso trabalho começou em Fortaleza, em 2015, no Pirambu, onde dava aula para turma do EJA (Ensino de Jovens e Adultos) e percebi que havia muitos projetos na comunidade, mas que este lado não era muito visto. As pessoas só associavam o local à violência. Foi aí que começamos a trabalhar a questão da educação empreendedora e o bom uso da tecnologia para divulgar o que eles produziam".

 

Hoje, a Social Brasilis já capacitou mais de 3 mil pessoas. E ajudou a viabilizar mais de cem projetos inclusivos no Ceará, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Piauí.

 

 

ENERGIA RENOVÁVEL

Ao concluir o curso técnico do Senai, há dois anos, que o capacitou para instalações de painéis fotovoltaicos, o engenheiro elétrico Daniel Diogo Pinheiro, 40, saiu com três resoluções: a primeira é que aumentar a participação das energias renováveis na matriz elétrica brasileira era uma urgência. A segunda é que os meios para alcançar este objetivo também precisava ser revistos. Foi assim que junto com amigos do curso criou a Coodensol, primeira cooperativa de energias renováveis do Ceará. "Achamos por bem fazer uma cooperativa porque queríamos que as decisões fossem tomadas de forma horizontal, igualitária". A terceira resolução é quase uma consequência das demais. Para fazer a diferença no mercado era preciso aprimorar os conhecimentos na área com o objetivo de buscar alternativas para que o produto que ofereciam fosse de fato competitivo e inclusivo. E chegassem ao consumidor a um preço menor. Por isso, eles decidiram fazer outra graduação, a de Energias Renováveis, na Universidade de Fortaleza (Unifor), onde agregou ao projeto outros profissionais da área. Hoje eles são sete, buscando novas formas de difundir a cultura da sustentabilidade. Os primeiros projetos já começaram a ser entregues. O grupo já busca parceiros para ajudar na implantação de projetos.

TECNOLOGIA

Até 2050, o planeta chegará a mais de 9,6 bilhões de pessoas, conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Os países em desenvolvimento serão os que mais impactarão nesse crescimento, sobretudo com o aumento da renda per capita e da expectativa de vida da população, majoritariamente urbana. A tecnologia também deve pesar de forma significativa a composição de mercado e as relações de consumo. Por isso, um dos principais desafios das cooperativas é acompanhar os novos tempos. "O cooperativismo permite às pessoas criarem suas próprias oportunidades, mas fica mais difícil fazer isso se mantivermos as mesmas práticas de dez anos atrás. Precisamos criar rampas de acesso para que eles entrem neste universo 4.0, que é fazer mais, com menos, e produzindo menos impacto. A busca pela eficiência é a palavra chave", explica o especialista em sustentabilidade, Alessandro Gomes. Ele lembra que uma das bandeiras do Comitê de Promoção e Avanço das Cooperativas (Copac) - cuja associação inclui a OIT, a ONU e a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) - é que ninguém fique para trás. E isso significa, na prática, produzir esforços também para eliminar o trabalho infantil, as condições degradantes de trabalho e a discriminação.

A SÉRIE

Amanhã será a última reportagem da série sobre Economia Sustentável. Vamos mostrar como o conceito também pode ser aplicado na gestão pública e não apenas na iniciativa privada. A ideia é debater não apenas como são os projetos, mas como eles impactam na rotina dos cidadãos. No domingo, 11, O POVO trouxe cases de gestores que já aprenderam e aplicam práticas sustentáveis em empresas cearenses.
 

Números

 

23

O ramo agropecuário possui 23 cooperativas no Ceará. Mas o as que mais empregam são as de trabalho e saúde.

564

Em 564 municípios brasileiros, as cooperativas de crédito são as únicas instituições financeiras locais.

104

No Ceará, são 104 cooperatias associadas ao sistema Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Geram 9,1 mil empregos

51,6 mi

No Brasil, mais de 51,6 milhões de pessoas são beneficiadas direta ou indiretamente pelo cooperativismo.

US$ 2,53 tri As 300 maiores cooperativas no mundo administram juntas mais de US$ 2,53 trilhões, quase o mesmo montante que o PIB da França em 2017 (US$ 2,58 trilhões).

mais de 1bi Atualmente o cooperativismo é a principal fonte de renda para mais de 1 bilhão de pessoas no mundo.

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