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As consequências da condução irregular
Reportagem

As consequências da condução irregular

| HOSPITAL | Um capacete poderia ter evitado que Daiara Ferreira, 19, sofresse traumatismo craniano após chocar sua moto contra um caminhão
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Tipo Notícia
Deitada sobre um leito de enfermaria no Instituto Doutor José Frota (IJF), em Fortaleza, Daiara dos Santos Ferreira, 19, tinha a voz fraca e o olhar disperso quando admitiu não lembrar detalhes do acidente que rendeu a ela um traumatismo craniano. Mãe da jovem, a agricultora Lucineide dos Santos Ferreira, 51, só soube por terceiros que a filha tinha sido atropelada por um caminhão no deslocamento de casa para o hospital onde faria exames de rotina. Foi no dia 28 de setembro, num distrito na serra de Aratuba (a 120 km da Capital).

 

Apesar de ter idade suficiente para dirigir, Daiara nunca passou por preparo formal para conduzir a motocicleta que pilotava no momento do acidente. E ela dirige desde os 15 anos, quando foi "instruída" por um parente que já não consegue lembrar quem.

 

Com poucas escoriações no corpo, o que fez Daiara chegar à ala de neurologia do IJF foi não estar de capacete no momento da colisão lateral com o caminhão. Lucineide disse que, no distrito onde elas moram, praticamente ninguém costuma usar o equipamento de segurança, mesmo sabendo da necessidade. "No nosso interior é tão difícil (tirar CNH). É caro e muito difícil. Teria que vir pra Fortaleza ou Quixadá, Canindé?", argumentou a agricultora.

 

O Departamento Estadual de Trânsito (Detran-CE), ciente da dificuldade no acesso à Carteira Nacional de Habilitação (CNH) no interior do Ceará, tem, desde 2009, tocado o projeto CNH Popular. Em nove anos, o órgão formou 150 mil condutores, principalmente na categoria A ?referente às motocicletas. 

 

A categoria B, que inclui carros, foi inserida apenas em 2015. Outros 250 mil interessados estão, no momento, aguardando a preparação formal pelo Governo.

 

"Existem municípios pequenos no Ceará em que há muitas pessoas que adquiriram motos, mas não são habilitadas. Questão de cultura. Embora a moto tenha motor, acham que é como andar de bicicleta motorizada e que não precisa de carteira", criticou o porta-voz do Detran-CE, Paulo Ernesto Serpa.

 

No entanto, para além da conscientização individual do motorista, a chefe do Núcleo de Serviço Social do IJF, Vivianny Bezerra, acredita que a ineficiência ou, em alguns casos, a falta de fiscalização nesses municípios é o real problema para a persistência dos acidentes causados por negligências "simples" como não usar equipamento obrigatório. "A fiscalização não aconteceu ainda em algumas cidades. E, quando aconteceu, foi só nas sedes. 

 

Não tem efetivo suficiente pra monitorar o Interior todo, os distritos, as áreas mais rurais", pontua.

 

Por causa disso, ela afirma, é comum chegar ao IJF casos de condutores com graves lesões causadas, por exemplo, pelo não uso do capacete, pela associação da direção com o álcool e pelo transporte de passageiros para além da capacidade permitida para o veículo. "Tem a parte de educação, mas acho que é muito fiscalização. Dói no bolso, a gente faz. Fiscalização educa. 

 

Quando você faz constantemente, acaba aprendendo. A gente teve isso quando começou a usar o cinto de segurança. Hoje em dia não passa na cabeça de ninguém não usar". (Luana Severo)

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