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País mais perigoso para jornalista, México também enfrentou fake news
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País mais perigoso para jornalista, México também enfrentou fake news

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O Brasil ocupa a posição 102 na Classificação Mundial de Liberdade de Imprensa, análise qualitativa e quantitativa elaborada pela organização internacional Repórteres Sem Fronteira (RSF). Está em colocação pior que a de países que vivem intensa crise política, como Nicarágua (90) e Kosovo (78), e de nações africanas que ocupam posição de destaque entre os mais pobres do mundo, como Burkina Faso (41) e Malawi (64).

No cenário latino-americano, o Brasil aparece à frente de nações como Paraguai (107), Bolívia (110), Honduras (141) e outros países nos quais a liberdade de imprensa vem sendo historicamente desrespeitada, como Venezuela (143), México (147) e Cuba (172). Por outro lado, está muito atrás de Argentina (52), Chile (38), Uruguai (20) e Costa Rica (10). A classificação do RSF leva em conta critérios como pluralismo e independência dos meios de comunicação, qualidade do marco legal e segurança dos jornalistas.

[SAIBAMAIS]País mais perigoso do mundo para o exercício da profissão, o México é a nação recordista no número de jornalistas assassinados - foram 11 em 2017 e seis até agora, em 2018. A maior parte desses profissionais se dedicava à investigação de temas relacionados ao crime organizado (tráfico de armas e drogas) e à corrupção na máquina pública. É o caso de Miroslava Breach e Javier Valdez, cujos assassinatos geraram comoção internacional no ano passado.

Em julho último, a população mexicana foi às urnas para votar nas eleições presidenciais. O candidato de esquerda, Andrés Manuel López Obrador, foi eleito com 53% dos votos. Assim como vem sendo observado no Brasil, o período da campanha eleitoral mexicana registrou acréscimo no registro de casos de violência contra jornalistas: foram 185 agressões nos primeiros sete meses do ano.

"Foi um contexto particularmente violento contra a imprensa", afirma em entrevista ao O POVO Leopoldo Maldonado, advogado especializado em direitos humanos e diretor do escritório para o México e América Central da Article 19, organização internacional que defende a liberdade de expressão e o direito à informação. "Vamos superar os casos do ano passado. Registramos um incremento anual de 5% a 20% em casos de agressão. Na maioria das vezes, os agressores são dos próprios partidos políticos, ou seus militantes, ou ainda funcionários públicos", explica.

Maldonado afirma que, assim como no Brasil, também há uma sensação de descrédito em relação à imprensa mexicana. "Historicamente, nas últimas décadas, houve uma profunda desconfiança da sociedade contra a imprensa, pela sua proximidade com o partido hegemônico e pelas publicidades governamentais. As empresas promoviam um jornalismo mais próximo do poder que da cidadania. Então, quando jornalistas independentes investigam essa corrupção, aparecem os perseguidores, as ameaças", contextualiza.

Outra semelhança em relação ao nosso cenário foi a proliferação das fake news e o surgimento de agências de checagem de dados. "Uma publicação digital independente, chamada Animal Político, estabeleceu um esquema de verificação de informação, e muita gente recorria a essa plataforma. Mas quando eles checavam declarações dos candidatos, a audiência se polarizava muito. Direita e esquerda diziam que as checagens eram mentirosas. E essas informações falsas circulavam por WhatsApp, verdadeiras campanhas de desinformação perfeitamente estruturadas", explica.

Enquanto observa a evolução das campanhas políticas brasileiras com apreensão, Maldonado propõe estratégias para a retomada da importância da imprensa tradicional, seja no México, seja no Brasil. "Enquanto existam jornalistas e empresas que se construam como quarto poder, e não como contrapoder, a distância com a sociedade vai continuar se acentuando. Precisamos assumir nossa função social, somos um serviço público. Nessa época de saturação de informações e dados, o jornalismo tem um papel fundamental de ordenar e dar forma a tudo isso", conclui.

 

 

 

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