O reflexo econômico do futebol requer planejamento. Acessar ou permanecer na principal categoria do Campeonato Brasileiro representa avanço, mas exige potencial para saber quando e como a oportunidade acontece. O boom de ter times cearenses levando o Estado Brasil afora e trazendo outras regiões, corre o risco de ser prejudicado por eventuais má atuações futebolísticas. Sim, assim como atrai, o futebol pode afastar investimentos.
"Boas práticas de gestão alavancam receitas, reduzem as dívidas e têm uma capacidade de investimento", destaca o consultor financeiro global Rodrigo Albuquerque. Isso porque o efeito derivado das conquistas do futebol depende também de como Fortaleza e Ceará serão capazes de gerir os recursos e os louros de estarem na Série A. "O crescimento econômico do esporte foi de 7% a 8% mesmo nesse período de economia brasileira que vivemos (a crise de anos recentes). Houve um aumento expressivo da receita dos clubes e isso reverbera, sem dúvida", acrescenta.
Para o especialista em marketing esportivo, Chateaubriand Arrais, a visibilidade que o clube e consequentemente também seu estado de origem ganha pode se esvair se o time não for bem tecnicamente. "Por isso o planejamento prévio é necessário e precisa começar a ser executado antes dos jogos começarem, porque se o time não for bom, muita coisa vai por água abaixo. Subiu ou permaneceu na Série A, no domingo, segunda-feira, já é para ter alguma ação", compreende.
Outra questão, então, surge e se mostra cada dia mais importante: a paixão pelo futebol, que ainda é soberana dentro das diretorias dos clubes. Em meio a milhões de reais e possibilidades de ganho, o profissionalismo pode fazer falta. "Profissionalizando, há metas, geração de resultado. E aí é mais fácil e eficaz pensar fora da caixa do futebol dentro do campo. Há várias expectativas e oportunidades que surgem, mas que exigem essa gestão (profissional)", avalia Arrais.
O presidente da Federação Paulista de Futebol, Mauro Carmélio, chuta que há, pelo menos, 80% de aumento em consumo e valores de setores comerciais ligados ao futebol quando um clube está na Série A. "Precisa haver maior abertura para os conhecimentos econômicos, que sempre foram muito deixado para terceiros. E é uma dificuldade do Brasil todo, se foca só na propaganda da camisa, no quanto vai receber. É diferente de pensar no macro, nos muitos impactos", afirma.
Situação do Fortaleza
Líder da Série B, com 53 pontos, passará ainda por nove jogos para acessar a Série A. Hoje, o Leão tem mais de 95% de chance de subir.
Se chegar à principal categoria do futebol nacional, vai lucrar, no arrecadar, no mínimo, R$ 30 milhões só com direito de TV.
Com novo contrato com a Caixa Econômica e com jogos exibidos no exterior terá mais R$ 10 milhões.
Quando saiu da Série C, em 2017, o número de sócio-torcedores saltou de 7.500 para 20.000.
Na Série A, a ambição é chegar a 30 mil sócio-torcedores.
Recebe atualmente investimento de R$ 1,4 milhão do Poder Público.
Mais de mil produtos da marca estão licenciados para venda externa.
Um dos investimentos do clube é a Cantina 1918, marca vinho com o nome do Fortaleza, além da marca Leão 1918.
Possui sete lojas próprias.
"Vejo o futebol como uma atividade econômica que gera riqueza, turismo e imagem para a cidade. Cada time que vem tem uma delegação de 40 pessoas, arbitragem, imprensa, observadores, torcida. O torcedor de São Paulo não vai a todos os jogos, escolhe um lugar e Fortaleza com certeza é um desses". (Marcelo Paz, presidente do Fortaleza)
Situação do Ceará
O acesso à Série A aconteceu em 2017. Hoje, o Ceará está na 15ª colocação e ainda terá 11 jogos pela frente, nos quais precisa ganhar cerca de metade dos pontos disputados para se manter na elite.
Desde então, o contrato de direitos de transmissão pago pela Globo se tornou a maior fonte de receita do clube.
O programa de sócio-torcedor, após acesso, cresceu 100%: hoje tem cerca de 17 mil integrantes.
Com a permanência na Série A, o Ceará deverá ter uma receita estimada em R$ 60 milhões.
Com os louros de 2017, o clube conseguiu executar várias ações: trocou academia, ampliou o refeitório, fez obras no ginásio, comprou equipamentos médicos, construiu nova sala de imprensa
Além dos contratos com patrocinadores e redes de TV, o ganho com bilheteria também faz diferença na principal categoria do campeonato o time é o 9º em arrecadação bruta.
O clube tem cinco lojas oficiais.
Para 2019, a expectativa, na Primeira Divisão, é aumentar em até 30% a receita
"Na última vez que estivemos na Série A, em 2010 e 2011, tiramos muito proveito, como a consolidação da marca 'Sou Mais'. Se manter não é fácil, porque você joga com gigantes. Mas é preciso esforço, é uma oportunidade para estruturar o clube". (João Paulo Silva - diretor financeiro do Ceará)