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Representação pede investigação de denúncia de racismo por guardas municipais
Reportagem

Representação pede investigação de denúncia de racismo por guardas municipais

11 casos. Terminais, Cucas e periferia
Edição Impressa
Tipo Notícia

Uma representação de 18 páginas, do advogado Cláudio Justa, relaciona 11 acusações de abordagens violentas, cinco envolvendo guardas municipais em terminais de ônibus e nos Centros Urbanos de Cultura, Arte, Ciência e Esporte (Cucas). No mesmo documento há seis denúncias contra PMs em bairros da periferia de Fortaleza.

 

Com base nos relatos, feitos principalmente por vítimas negras, Justa pediu à Procuradoria de Justiça do Ceará (PGJ) que abrisse um "procedimento de investigação para apurar suposta abordagem seletiva e truculenta contra pessoas afrodescendentes". Uma ofensa, segundo o advogado, "de natureza racial na caracterização do suspeito".

 

Entre as narrativas, está a de Rômulo Silva. O mestrando e pesquisador do Laboratório de Estudos da Conflitualidade e da Violência da Universidade Estadual do Ceará (Uece) contou ao O POVO que, em junho deste ano, foi violentamente abordado por quatro guardas municipais no Terminal do Siqueira. Eram duas mulheres e dois homens.

 

Às 15h30min do dia 8/6 passado, ele estava na fila e folheava um relatório de trabalho, enquanto esperava o ônibus Bom Jardim I. E, como muitos passageiros, presenciou a abordagem de agentes da Prefeitura a três jovens. Em seguida, foi tomado pelo susto e pela impossibilidade de defesa quando os guardas municipais o abordaram.

 

Aos gritos, segundo Rômulo, que também é jornalista, os seguranças municipais o tiraram da fila. "Bora, mão na cabeça! Bora, Bora", repetiam e apontavam contra ele uma pistola e uma Taser, armas de fogo e de choque utilizadas pela Guarda Municipal. "Um dos guardas puxou meu cabelo, enquanto dizia: O que você quer olhando pra gente? Quem você pensa que é? Cidadão não age assim", escreveu no Facebook.

 

A violência não parou, mesmo diante de vários passageiros. Rômulo conta que tomaram seu celular e jogaram ao chão um livro, os relatórios e a mochila. Nenhum dos guardas tinha o nome identificado na farda, nem disseram os nomes quando o pesquisador pediu. Inconformados com a informação da Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) de que o pesquisador não era bandido, insistiam na pergunta sobre quais crimes ele responderia.

 

Até que uma das guardas, após ver a carteira da Uece, disse aos outros que Rômulo era estudante. Mas não teria sido o suficiente para estancar a agressividade. "Eu não quero saber quem ele é ou deixa de ser. Se falar alguma coisa, vou levá-lo preso por desacato", teria dito um dos homens. "Fala alguma coisa aí, fala. Pra tu ver se eu não levo, agora, você preso", teria gritado diante do silêncio da vítima.

 

"Eu estava me sentindo um lixo. Muitas pessoas que ali estavam, olhavam pra mim com uma grande interrogação. Outras, constrangidas, olhavam pro nada. E outras, preferem encarar tudo na normalidade. Para muitas, tudo isso é normal. No mínimo, besteira e que acontece sempre, cotidianamente, conosco", desabafou. O relato viralizou e vários jovens da periferia comentaram na postagem, descrevendo abordagens semelhantes por guardas e policiais.

 

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