Por não conhecerem a suposta proposta de pacto de paz, mencionada pelo presidenciável Ciro Gomes (PDT), a maioria dos especialistas ouvidos pelo O POVO não quis comentar o caso. O diretor do sindicato que representa os agentes penitenciários, Natanael Andrade, afirmou que, se houve de fato a proposta, os representantes das facções deveriam ter sido autuados.

Presidente do Conselho Penitenciário do Estado (Copen), Cláudio Justa pondera que o presidenciável tem acesso a informações privilegiadas, mas, mesmo assim, estranha a viabilidade da proposta. Ele afirma não haver no Ceará uma facção monopolista, mas quatro. Por isso, deveria haver, primeiro, um pacto entre as facções e, depois, com o Estado. "Eles estariam oferecendo uma garantia bem ampla. Faz todo sentido em São Paulo, que só tem uma facção, mas não aqui".

Pesquisador do Laboratório de Estudos e Pesquisas Conflitualidade e Violência (Covio), da Universidade Estadual do Ceará (Uece) Ricardo Moura é mais um que desconhece a proposta de pacto. Ele também pondera que Ciro Gomes pode ter informações privilegiadas, mas diz que, da forma como foi exposta, a narrativa parece vaga. Ricardo ainda diz ser preciso contextualizar a disputa política em que foi feita a afirmação. "Talvez, se não houvesse esse clima de acirramento e necessidade de marcação de posição (na campanha), ele não se valesse dessa narrativa".

Conforme Moura, que é colunista de Segurança Pública do O POVO, os governos usam as facções no discurso que precisam apresentar para os resultados na segurança pública. "Ora, não tem poder; ora, tem poder demais; ora, é problema nacional. A percepção varia conforme a necessidade do momento". Nesse primeiro momento (de pacto entre as facções), havia uma dissociação entre o discurso oficial e o que era percebido nas comunidades". Ele cobra transparência dos gestores públicos com relação a esse tipo de informação, sob pena de perda de credibilidade.