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600 árvores a menos
Reportagem

600 árvores a menos

| ESPAÇO URBANO | Em seis anos, Prefeitura de Fortaleza retirou cerca de 600 árvores para execução de obras
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Dias antes deste 21 de setembro, Dia da Árvore, a Cidade perdeu parte importante da flora. Árvores adultas foram retiradas da paisagem para obras públicas e privadas. Na Avenida Rui Barbosa, a copa verde e frondosa que existia onde ficava o antigo restaurante Parque Recreio deu lugar ao chão batido para instalação de um supermercado. A pretexto do projeto Novo Centro, a rua Guilherme Rocha ficou sem arbustos que aconchegam o passeio. Agora, o que dá para ver é poste e cimento. Isso só neste mês. Uma estimativa feita a partir do banco de dados do O POVO e de autorizações de supressão no Diário Oficial dão conta de que pelo menos 600 árvores foram retiradas para obras da Prefeitura nos últimos seis anos.

[SAIBAMAIS]

"Esse número é só o que sai em jornal, na verdade é muito mais", diz Antônio Sérgio Castro, engenheiro agrônomo especialista em Botânica, fundador do Pró-Árvore. Ele considera uma cultura atrasada a não manutenção das plantas. "Uma árvore tem 20, 30, 40 anos, está com a copa grande prestando um benefício contínuo, o ano inteiro, numa avenida grande. Aí vai ter uma obra e derruba, planta cinco pequenas mudas, não se sabe onde, não se sabe se a espécie é adequada, e só vai trazer benefício, se bem cuidada, em 20 anos. Não é um poste que se substitui por outro poste".

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Ele reconhece que, devido ao crescimento da Cidade, são necessárias as intervenções, mas reclama que a retirada é desproporcional. "A gente mostra opções, mas falta diálogo".

 

Na Praça da Professora, no bairro José Bonifácio, duas castanholeiras que guardavam a revoada de pássaros foram cortadas. Na Guilherme Rocha, a população lamentou a retirada numa rua que é restrita a pedestres.

 

Por meio de nota, a Prefeitura de Fortaleza afirma que desde o início da gestão (2012) 356 árvores foram transplantadas e 204, suprimidas. Sobre as 202 árvores tiradas da Avenida Dom Luís, a Secretaria da Infraestrutura (Seinf) aponta que 40% das transplantadas estão revigoradas após cuidados. 

 

"O restante continua na mesma condição sob atenção dos tratadores no Horto". Matéria do O POVO mostrou que um mês após o transplante 12 árvores já tinham morrido por falhas na execução da técnica.

 

Da Bezerra de Menezes, de onde foram retiradas 94 árvores, muitas centenárias, a Prefeitura afirma que transplantou 64. Muitas das mudas plantadas após a entrega do Corredor de Ônibus não sobreviveram. De pequeno porte, sem água suficiente e sem fixação, a maioria se perdeu na aridez. Não era incomum ver estacas fincadas pela própria comunidade, fios que seguravam o caule às grades para evitar a queda ou funis de garrafas plásticas para captação de água da chuva. A Seinf informou que, nas calçadas, foi feito plantio de 145 mudas de espécies nativas, como Ipê, Carnaúba e 

Munguba. Questionada sobre a manutenção, a pasta não se manifestou.

 

A Prefeitura indica que, como compensação pela retirada de árvores em obras públicas, 1.876 novas foram plantadas. E diz que desde o Plano de Arborização de Fortaleza, em 2014, "já foram plantadas ou doadas mais de 155 mil novas árvores. Somente em 2018, foram mais de 22 mil". 

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