Como organismos vivos que são, as cidades constantemente se transformam. Bairros, ruas, avenidas, parques e praças se adaptam aos usos e aos estímulos das diferentes gerações que ocupam esses espaços. Requalificar a Praia de Iracema não deve ser, portanto, reconstruir o litoral fortalezense de antigamente. Há de se compreender que o bairro tem, hoje, novas vocações, podendo ser atrativo o dia inteiro, não mais apenas à noite, quando as boates, restaurantes e bares é que despertavam Fortaleza para a orla.
Napoleão Ferreira, presidente do Conselho de Arquitetos e Urbanistas do Ceará (CAU-CE), explica que a ocupação prioritariamente noturna da Praia de Iracema foi estimulada pela Lei de Uso e Ocupação do Solo (Luos) da década de 80, que fez com que a maioria das atividades à luz do dia fosse, aos poucos, se extinguindo, dando à região, neste turno, um aspecto de abandono. Foi por isso que, com o tempo, segundo ele, "os investimentos saíram de lá".
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A Prefeitura parece consciente disso. Desde janeiro último, quando assumiu que em um ano "revitalizaria" o bairro, tem dado prioridade a intervenções de reordenamento de espaços, redução do tráfego veicular e oferta constante de atividades culturais diurnas e noturnas. Além disso, em breve deve ir para a Câmara Municipal um projeto que incentiva novas ocupações por meio da redução da cobrança do Imposto Predial Territorial e Urbano (IPTU).
O "Cidade da Gente", projeto em experimentação no entorno do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, também faz parte do pacote de estratégias pensadas pelo poder público junto à associação civil que compõe o Instituto Iracema para estimular o movimento na região até recentemente, degradada. "Tudo o que está acontecendo hoje surgiu de uma demanda do Dragão do Mar", ressaltou o secretário-executivo do Turismo, Erick Vasconcelos.
As movimentações do executivo municipal na área avançaram, segundo Erick, ao final do ano passado, basicamente em resposta às reclamações dos proprietários dos estabelecimentos comerciais que contornam o Dragão, que cobravam segurança e ordenamento de ambulantes. Para esse problema, se propôs cadastrar os trabalhadores e realoca-los no estacionamento do centro cultural, processo que foi concluído há cerca de um mês e meio.
Além disso, se percebeu que, para estimular o fluxo diurno, deveriam ser instalados na Praia de Iracema serviços e órgãos públicos como a própria Secretaria Municipal do Turismo (Setfor), que este ano deixou a rua Leonardo Mota, no Dionísio Torres, para se fixar no Estoril, na boêmia Rua dos Tabajaras. Local que, segundo Napoleão Ferreira, presidente do CAU-CE, deve abrigar em breve um anexo do Conselho e um escritório de coworking. "Recentemente tem havido uma mudança na utilização daquele espaço com a proposta de investir em economia criativa. Tudo isso aponta para uma nova perspectiva", projetou.
"Não adianta fazer grandes construções. Basta trazer vida. A Praia sempre esteve viva, mas havia vazios urbanos. O próprio Largo dos Tremembés não tinha atividade", comentou o presidente do Instituto Iracema, Davi Gomes. No viés cultural, segundo ele, a aposta tem sido em programações diurnas e noturnas gratuitas para diferentes faixas etárias. Fixos, existem três projetos: o Quarta Iracema, Sábado Feira e Domingo em Família (ver infográfico).
Porém, melhorias estruturais precisam ser feitas na região para restaurar e valorizar o patrimônio histórico e conectar melhor todos os espaços. Já foram instalados rede Wi-Fi e posto da Polícia Militar no entorno da Praia dos Crush (aterrinho, antiga praia do Lido) e reestruturado o pavimento de metade da Rua dos Tabajaras. A outra metade deve ser concluída até o fim deste ano, segundo a Secretaria da Infraestrutura (Seinf). Na gaveta, além do projeto de incentivo fiscal, restam outros de mobilidade urbana, gestão de resíduos sólidos e apoio a banhistas.
Dentre as estratégias em andamento na região, Napoleão instrui que sejam priorizadas aquelas de preservação do patrimônio, mobilidade e desenvolvimento sustentável ambiental e econômico. "É preciso ter alternativas pro pedestre, pro ciclista. Isso é tendência. Tudo depende da maneira como posiciona o espaço", ensinou.
Acquario
A Prefeitura e Governo acordaram oficialmente que o Grupo M. Dias Branco será o novo responsável pelas obras do Acquario, que estavam paradas desde 2015. Na oportunidade, foi dito, também, que a empresa deve fazer exploração imobiliária na região e requalificar o Poço da Draga. Essa requalificação ainda não foi detalhada.