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O avanço do PCC no Paraguai e países vizinhos
Reportagem

O avanço do PCC no Paraguai e países vizinhos

| TRÁFICO NA FRONTEIRA | Facção brasileira expande negócios no Paraguai e aumenta violência na zona vizinha ao Brasil. Grupo tenta dominar tráfico no Cone Sul. O interesse do grupo é passar a ser dono da produção e distribuição de maconha
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Em meia década, o Paraguai foi o país da América do Sul que mais atraiu criminosos saídos do Brasil. No ano passado, ocupou a segunda posição no mundo em número de cidadãos brasileiros presos no exterior (365 pessoas). No mundo, só nos Estados Unidos houve mais casos semelhantes (534 registros). Relatório do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, que faz a contagem de detidos fora do País, confirma a migração ilícita entre 2013 e 2017.

Os principais crimes apontados pelo Itamaraty são o tráfico de drogas e armas e homicídios. O levantamento é anual, com base nas detenções registradas por bases consulares brasileiras pelo mundo.

A estatística no Paraguai é puxada por um fato objetivo: a entrada incisiva da facção paulista Primeiro Comando da Capital no território vizinho.
[SAIBAMAIS]
O documento do Ministério não traz dados específicos por “situação jurídica” relativos a 2017, mas, em 2016, já havia 181 brasileiros nas cadeias paraguaias sob ordem de prisão preventiva ou aguardando deportação. Havia outros 79 cumprindo pena e a maioria deles respondia às acusações de roubo, homicídio, tentativa de homicídio ou narcotráfico. Mais 40 estavam com “situação não informada”.

O POVO buscou informações junto às autoridades penitenciárias do País, mas não houve resposta a e-mails e ligações telefônicas. O dado oficial do Itamaraty serve de referência, mas a realidade já estaria muito mais grave.

“As estruturas do PCC estão estabelecidas em todas as cidades importantes do Paraguai. O PCC possui células ativas nas principais cidades da fronteira com o Brasil, como Ciudad del Leste, Salto del Guairá, Bella Vista Norte e Pedro Juan Caballero. Também está na capital, Assunción”, relata o jornalista Cándido Figueredo Ruíz, correspondente do jornal ABC Color em Pedro Juan Caballero, cidade na fronteira com a brasileira Ponta Porã, em Mato Grosso do Sul.

Figueredo faz cobertura jornalística do crime organizado no País há 25 anos. Diz que a situação nunca esteve tão crítica desde a inserção da facção brasileira no dia a dia do País.

Pedro Juan Caballero é a região com presença mais forte dos faccionados do PCC. Segundo Figueredo, por ser área dos maiores plantios de maconha da América do Sul e um dos principais corredores de cocaína saída da Bolívia, Peru e Colômbia. De lá, as cargas ilícitas sobem para o Brasil por estradas e, em seguida, para portos e aeroportos em direção à África e Europa. O porto de Santos (SP), o maior do Brasil, é o preferido dos traficantes da facção.

No último dia 9/7, Polícia Federal e Receita Federal, através da operação Antigoon, descobriram uma carga de quatro toneladas de cocaína que seria remetida para Europa por navios em contêineres.

Foram cumpridos 15 mandados de prisão e 21 de busca e apreensão em três estados: Rio de Janeiro, São Paulo e Espírito Santo. Gente do PCC estava no alvo da operação. Esta última quantidade apreendida corresponde a mais da metade das 7,6 toneladas recolhidas entre 2015 e 2017 em outras investigações federais.

O PCC ganha dimensões de cartel e, no Paraguai, conforme Cándido Figueredo, teria hoje “mais de 350 homens fortemente armados” instalados na zona de fronteira. O crescimento da facção se deu rapidamente. “A expansão do PCC foi de uma maneira rápida, à força de assassinatos de líderes rivais e com um poder econômico com o qual conseguiu comprar proteção policial e judicial. Apesar de que também existem células de traficantes que respondem ao Comando Vermelho, o PCC é hoje o grupo criminal organizado mais poderoso do Paraguai”, descreve o jornalista.

O Paraguai já é território de novos negócios do grupo desde o início dos anos 2000. Haveria registros mais frequentes de integrantes em ações criminosas ou no sistema penitenciário local a partir de 2010, segundo dados de autoridades penitenciárias do País vizinho. Hoje, o interesse do grupo está em assumir também as plantações de marihuana (maconha) do País e passar a ser dono da produção e distribuição.

A rede de contatos da organização, além do Paraguai, se espalha por Bolívia, Colômbia, Venezuela, Guianas e Suriname. No monitoramento do Itamaraty sobre detenções, a Bolívia é justamente o outro país fronteiriço com mais brasileiros presos. De 127 casos em 2013 (7º), foi a 117 em 2014, caiu para 71 em 2015, subiu para 107 em 2016 e alcançou 123 registros de prisões no ano passado. É o outro país escolhido como base.

Paraguai e Bolívia eram frequentados por Gegê do Mangue (Rogério Jeremias de Simone) e Paca (Fabiano Alves de Souza). Até fevereiro deste ano, eles eram os principais líderes do PCC fora das cadeias nacionais. Gegê e Paca circulavam entre o Brasil e as fronteiras “amigas”. No dia 15/2, Gegê e Paca foram mortos numa emboscada no Ceará. Fortaleza era itinerário dos dois traficantes. Estavam com residência montada e desenvolvendo negócios em solo cearense. Teriam sido executados por desviarem recursos da facção.

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