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Ceará é o 3º do País em número de analfabetos
Reportagem

Ceará é o 3º do País em número de analfabetos

| 1 MILHÃO DE PESSOAS | Estado tem 14,2% de taxa de analfabetismo, a sexta pior do Brasil, que tem índice de 7%. No entanto, Ceará apresenta segunda melhor evolução do Nordeste em relação a 2016, de acordo com a Pnad do IBGE
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O Ceará ainda não conseguiu ter um número inferior a um milhão de analfabetos. Com 1.006.020 pessoas com mais de 15 anos nessa condição, o Estado ocupa, em números absolutos, a 3ª posição nacional. Apenas Bahia (1.524.293) e Minas Gerais (1.031.745) têm mais, ressaltando-se que são unidades da federação com população maior. 

[SAIBAMAIS]
Em termos relativos, o Ceará tem a 6ª pior taxa de analfabetismo do País, com 14,2%. Isso significa que uma a cada nove pessoas não sabe ler ou escrever. Os dados, referentes a 2017, são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) e foram divulgados ontem pelo Instituto Nacional de Geografia e Estatística (IBGE).
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Em relação a 2016, o Ceará apresentou evolução. Na pesquisa anterior, o Estado aparecia com 47.980 analfabetos a mais e uma taxa de 15,2%. Uma diminuição de 6,6%, que, no Nordeste, ficou atrás apenas do Rio Grande do Norte (queda de 8,2%). No entanto, o índice estadual ainda é equivalente a mais que o dobro do nacional, que registou uma taxa de 7% no estudo divulgado ontem.

Apesar de também ter melhorado 0,2 pontos percentuais em relação ao ano anterior, o Brasil ainda não atingiu a meta 6,5% que deveria ter sido batida em 2015, segundo estipulado pelo Plano Nacional de Educação. A previsão, de acordo com o plano, é erradicar o analfabetismo no País até 2024. Atualmente, o Brasil tem 11,5 milhões de analfabetos, cerca de 300 mil a menos que em 2016.

Alguns fatores são destacáveis ao olhar mais atentamente às estatísticas. A maioria dessas pessoas se encontra nos intervalos etários mais elevados. No Ceará, 87% dos analfabetos têm mais de 40 anos. Os que têm mais de 60 anos correspondem a quase metade (46%) do total de analfabetos.
 

Wilson Ramos, 48, passou muitos anos da vida dentro deste perfil. Sem saber ler nem escrever, sem lugar para morar e com dependência em álcool, ele superou muitas barreiras de uma vez só. “Vi muitos dos meus amigos morrerem na rua e eu achava que seria o próximo. Até que eu resolvi que queria estudar, estava cansado de colocar meu polegar, eu queria acabar com aquilo”, diz. Há três anos ele estuda em programa de Educação para Jovens e Adultos, já sabe escrever o próprio nome e não consome bebidas alcoólicas  há mais de dez anos. 


Todos os dias, Wilson trabalha fazendo entrega de água, também recolhe materiais recicláveis, mora em um espaço cedido e frequenta a escola três vezes por semana. Na calçada do comércio, ele mostra o material escolar e as atividades semanais de leitura e escrita. “Eu estou desenvolvendo, já consigo soletrar algumas palavras, mas quero ler bem para ler a bíblia. Hoje, o que eu converso com as pessoas é o que meu pastor me fala, mas quero eu mesmo poder ler a bíblia para alguém”, projeta.

“A questão de a pessoa ser alfabetizada não é uma questão de letramento é um resgate da cidadania”, afirma Marco Aurélio Patrício, professor doutor em Educação e coordenador do curso de Pedagogia da Uni7. Ele avalia que as pessoas com mais de 40 anos foram influenciadas por uma política de telensino adotada entre as décadas de 1980 e 1990.

“Devido a erros de estratégia de educação do passado, uma geração de estudantes foi comprometida. Na época, o Estado comprou essa bandeira de não ter reprovação. As pessoas eram aprovadas compulsoriamente. E, hoje, estamos vendo nas estatísticas o resultado de políticas educacionais equivocadas”, diz. 


Para Rejane Bezerra, doutora em Educação Profissional, um dos elementos contribuintes para este número elevado é o acesso à educação para jovens fora da faixa etária, principalmente em municípios distantes da Capital. Ainda em relação às ações educacionais, a professora doutora ressalta que os programas de inclusão de pessoas no grupo de maior índice de analfabetismo, acima dos 40 anos, ainda são muito incipientes, tanto em nível nacional quanto estadual.
 

Apesar de dados alarmantes, os dois profissionais da educação acreditam que os atuais projetos no Ceará devem repercutir em melhores índices em relação ao analfabetismo nas próximas décadas.

 

SEDUC E SME


POLÍTICAS PÚBLICAS
 

EJA
 

Secretário-adjunto da Educação do Município (SME), Jefferson Maia ressalta que Fortaleza dispõe de 86 escolas que ofertam o Programa de Ensino de Jovens e Adultos (EJA). “Fortaleza tem políticas estruturadas que colaboram para que os bons resultados aconteçam. Mas não acontecem da noite para o dia. É um público que no passado, por diversas razões, não teve acesso e vem para tentar suprir essa necessidade”.

IMPORTÂNCIA DO PAIC
 

Sobre o número de um milhão de analfabetos no Estado, Iane Nobre, coordenadora de gestão pedagógica da Secretaria Estadual da Educação (Seduc), frisa que a pasta tem conseguido fortalecer o Programa de Alfabetização na Idade Certa (Paic) como forma de zerar o número de pessoas que chegam à idade adulta sem ler ou escrever. 

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