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Fortaleza 292 anos: uma cidade para amar
Reportagem

Fortaleza 292 anos: uma cidade para amar

Edição Impressa
Tipo Notícia

 

Fortaleza são muitas e vai se construindo de afetos e conflitos. A urbe, onde os problemas vão surgindo mais rápido do que as soluções alcançam, vai vendo se intercalar os dias de aridez, com os de arrebentação do mar. São muitos também os olhares e as vozes que se costuram na tessitura da Cidade, alguns mais visíveis e audíveis que outros. Fortaleza é particular e coletiva. Tem muitas histórias e, às vezes, as narrativas nos fazem calar. Fortaleza, seus amores, seus revezes e suas gentes estampam as páginas do O POVO todos os dias e, neste dia 13 de abril, em que a quinta cidade mais populosa do País faz 292 anos, um novo convite para outros diálogos.


“A gente vivencia Fortaleza como missão do fazer jornalístico e também como aquela companheira querida, onde a gente experimenta dores e delícias. As coberturas cotidianas do O POVO mostram essa profunda ligação. Ainda mais quando se trata do aniversário de Fortaleza”, rememora a jornalista Fátima Sudário, editora do Núcleo de Jornalismo Investigativo do O POVO.

[SAIBAMAIS]
Este ano, os escritos do arquiteto José Liberal de Castro explicam a origem da data e recontam com propriedade parte da história de Fortaleza. Outros seis textos de seis pessoas que fazem da Cidade lar, independentemente se ela é ou não terra materna, são recortes de múltiplas Fortalezas. “O mote inicial foi ‘Uma Cidade para amar’, no entanto, a abordagem foi escolhida pelo articulista. A ideia foi mostrar vivências múltiplas, escutar polifonias, apresentar diversas formas de enxergar esta cidade tão amada e, ao mesmo tempo, tão cheia de padecimento”, explica a jornalista Tânia Alves, coordenadora de Impresso do O POVO.


Assim, nas agruras dessa Cidade por vezes espinhosa, o professor de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará (UFC), Alan Góes, amarra sua narrativa. As violências e intolerâncias que tomam bairros, antes acostumados a uma alegria boêmia, as profundas desigualdades e o não-avanço das questões sociais são apontados como características dessa Fortaleza “tão pequena e tão ingênua”. Já a força da cultura protagonizada por uma juventude pulsante é parte da solução, indica o secretário de Cultura do Estado, Fabiano Piúba.


Voz dessa juventude, a moradora da Barra do Ceará e agora estudante de Psicologia Vanessa Amarante, 21, ressignifica seus laços com Fortaleza e com sua periferia a partir das vivências da universidade e dos coletivos juvenis. “Esse percurso me deu um novo olhar pro meu lugar, para minha cidade. E me deu uma luta que não é só minha”, levanta.


Para os olhos oxigenados do francês Philippe Godefroit, gerente do Hotel Gran Marquise, Fortaleza cresce no sol e nos bons ventos de futuro. “Vejo qualidades nessa terra maravilhosa e cheia de luz que são superiores a todos os problemas que a cidade possui”, resume a empresária paulista Bianca Cipolla.


É que, como nos ensina o jornalista Érico Firmo, editor do O POVO Online, “o amor por uma cidade reside mesmo nas coisas mais prosaicas”. “Amores resistem, ou amores não são. O que se vê depende do que se observa. Os motivos para temer, renegar e até odiar Fortaleza são evidentes. Já os motivos para afetos são sutis.

Às vezes quase escondidos. Mas existem. Basta reparar bem”, aconselha. (Domitila Andrade)  

 

MUITAS FORTALEZAS


Uma cidade se faz de muitas. Tem a Fortaleza que come panelada no São Sebastião; se lambuza nas pernas cabeludas dos caranguejos às quintas; se empanturra da farofa dos churrasquinhos de toda esquina, e queima os cantos da boca com o pastel quente na Praça do Ferreira. Mas há também a Cidade que pouco come, porque tem Fortalezas em que é a miséria que enche os pratos. Tem Fortaleza que anda dividida e as linhas que demarcam onde termina um bairro e começa o próximo não dão conta. Onde não chegaram os braços do poder público, vão se recortando outros territórios, de uma violência cega que vai ceifando vidas cada vez mais breves. É essa Fortaleza que chora o apartar, os tiros que cortam a noite, onde era para ser festejo, que tenta se refazer apesar das ausências. Ainda assim, tem a Fortaleza que é encantamento; que faz do rebuliço do mar atração, que se diverte dentro da água que arrebenta forte, que celebra ressaca; que apelida pedaço de praia e vai deixando que a areia empane paixões. É a Cidade que vai rindo-se. De si, dos outros, da briga na lanchonete; que vai inventando Carnaval, todo ano um maior! É a Cidade que se colore do rosa dos pés de jambo, e do amarelo dos ipês da Domingos Olímpio. Fortalezas, quase todas, são feito um amor displicente. Há que se abrir bem os olhos (e o coração) para percebê-las.

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