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Por que as universidades públicas produzem mais?
Reportagem

Por que as universidades públicas produzem mais?

| PESQUISA CIENTÍFICA | Levantamento disponibilizado à Capes indica que as universidades que produzem conhecimento científico relevante são públicas. Balanço foi realizado a partir de documentos como artigos, livros, patentes e sites
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Não obstante a redução de incentivos federais à pesquisa acadêmica, o relatório Pesquisa no Brasil, disponibilizado pela Clarivate Analytics à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), revela que todas as 20 universidades que “mais produzem conhecimento científico relevante” no País são públicas. A predominância dessa produção científica se dá, principalmente, pelo foco do ensino superior particular no Brasil ser no ensino e não na pesquisa, bem como no investimento elevado e de alto risco que a pesquisa demanda. Diante de um cenário nacional onde a Educação sofre corte superior a R$50 milhões, pesquisadores avaliam que os bons resultados obtidos nos últimos anos estão comprometidos.
[SAIBAMAIS] 

Os dados do balanço foram obtidos a partir do InCites, plataforma baseada em documentos como artigos, trabalhos de eventos, livros, patentes, sites, estruturas químicas, compostos e reações indexados na base de dados multidisciplinar Web of Science (plataforma de pesquisa que promove acesso a dados bibliográficos e a análise de citações).
 

Pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC), Antônio Gomes de Souza Filho analisa os meandros da produção no ensino superior. “No cenário mundial, a grande maioria das universidades são de pesquisa. No Brasil, as universidade privadas nascem, em geral, ainda com faculdades, na esmagadora maioria, como empreendimentos voltados para o ensino e poucas investem em pesquisa”, contrapõe.

Conforme Gomes, “a pesquisa é uma atividade cara e no mundo inteiro tem uma dependência muito grande do investimento público. O investimento privado só chega depois que é estabelecido um ecossistema de inovação onde as empresas de base tecnológica se interessam e financiam pesquisas que garantem sua competitividade internacional”. Dessa forma, as universidade públicas, onde se concentra a maior parte do pessoal qualificado e tem como prioridade o ambiente de pesquisa da pós-graduação, acaba dominando o cenário.

Ex-secretário regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência no Ceará, o professor Lindberg Gonçalves recupera a história da estruturação das entidades. “A pesquisa na UFC e em outras universidades brasileiras nasce com a pós-graduação e com os grupos de pesquisa nos anos 1970.  

 

Também com a política governamental no sentido de estimular a pesquisa por meio da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), responsável pelo financiamento. Nos últimos 20 anos, a Uece (Universidade Estadual do Ceará) passa a apresentar atividades importantes ligadas à veterinária e à medicina. A única universidade particular que tem mais relevância na pesquisa é a Unifor, mas ainda são poucas áreas”, avalia.


Titular do Departamento de Engenharia Metalúrgica da UFC e diretor do Campus da UFC em Russas, ele destaca ainda a dinâmica de carga horária dos professores no processo de pesquisa. “Para produzir a pesquisa, o professor precisa dedicar grande parte das atividades à pesquisa e não pode ter grande carga horária dedicada à sala de aula. Enquanto um professor pode ter 20 horas em sala de aula, um professor que pesquisa precisa ter menos da metade disso”, explica.


Única cearense no ranking de desempenho das principais universidades brasileiras em pesquisa, a UFC ocupa a 16ª colocação. A política de fomento à educação na destinação de recursos e o fortalecimento dos programas de pós-graduação observados nos últimos 12 anos, de acordo com Gomes, é o precedente deste quadro. “Foi muito importante. Aliado a isso teve a questão da política de expansão e contratação de novos quadros da universidade para manter a atividade de pesquisa cada vez mais forte”, justifica.
 

Segundo ele, entretanto, os recentes cortes federais preocupam. “Nos últimos anos, teve um financiamento com regularidade em um volume relativamente bom. Nos últimos três anos isso se depreciou muito, a gente vive um momento crítico que ameaça todo esse desenvolvimento. Felizmente, o Estado está conseguindo em boa medida amenizar os impactos do sistema federal.   

 

Ao contrário do Ministério de Ciência e Tecnologia, que cortou o orçamento, a Funcap dobrou para o próximo ano”, explica.
 

De acordo com o professor, as áreas de Ciências Agrárias, Ciências Humanas e Ciências Sociais Aplicadas têm espaço para evolução na atividade de pesquisa, mas, devido à falta de investimento, não está no mesmo nível de desenvolvimento comparado com outras áreas como Engenharias, Ciências Exatas e Biomédicas.  

 

UFC
 

> 294 bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq
> 398 grupos de pesquisa
> 81 programas de pós-graduação
> 5.400 estudantes de mestrado e doutorado
> 1.130 estudantes de iniciação científica
> 42% da produção científica indexada em bases internacionais tem co-autoria de autores internacionais
> 18% dos professores com doutorado tem bolsa de produtividade do CNPq e esse é o maior percentual das universidades do Norte e Nordeste
> O percentual de Programas de Pós-Graduação
com notas 5 (excelência nacional), 6 e 7
(excelência internacional) da UFC é de 43%
sendo a maior do Norte e Nordeste.
> Dentre as 20 universidades do relatório, a UFC ocupa a 10ª posição quanto é considerado o top 1% dos artigos mais relevantes da literatura científica mundial
> Dentre as 20 universidades, a UFC é 12ª quando considerado o impacto das publicações.

Uece


> 32 bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq
> 167 grupos de pesquisa
> 43 programas de pós-graduação
> 1949 estudantes de mestrado e doutorado
> 623 estudantes de iniciação científica
> 8 Programas de Pós-Graduação com nota 5 e 2 com nota 6 na Capes (mestrado e doutorado
em Ciências Veterinárias)

Unifor
 

> 19 bolsistas de produtividade em pesquisa do CNPq
> 46 grupos de pesquisa
> 16 programas de pós-graduação
> 560 estudantes de iniciação científica
(260 com bolsa e 300 voluntários)
> Produção científica indexada em bases internacionais tem co-autoria de autores internacionais
> Programas de Pós-Graduação com nota 6
na Capes (Direito Institucional)

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