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Rio Salgado encheu em uma tarde de chuva
Reportagem

Rio Salgado encheu em uma tarde de chuva

| LEITO CHEIO | Em Icó, o rio Salgado encheu-se numa tarde com águas das chuvas escoadas do distante Cariri. E, desde então, desce forte em direção à necessidade do açude Castanhão
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Era mais de 11 da manhã de 21 de fevereiro deste tempo de esperar chover de 2018. Seguia o rio Salgado no seu desenhado mais de areia que de água. Seco de exibir pedra e mato onde deveria haver um leito normal. Continuava sem chover regularmente, o rio se mantinha num mesmo incômodo sob a quase octogenária ponte Piquet Carneiro, sede de Icó (a 361 km de Fortaleza). Desde o começo do mês, houve apenas quatro dias de registro de água passando. Às 15h05min daquele dia 21, “de repente”,conta a comerciante Ana Célia Oliveira, de 48 anos, “a água começou a chegar de uma vez e o rio encheu”.
 

Responsável pelas anotações diárias do nível do Salgado há mais de 20 anos, Célia admite ter se surpreendido com o tamanho do rio que desceu naquela tarde. Às 17 horas, já eram 2,44 metros de altura marcada na régua. Uma força d’água vinda do Cariri, desde o Crato, na Chapada do Araripe. Na manhã seguinte, às sete horas, ainda eram 2,40 metros de rio. Barrento e vigoroso.
 

Tão logo o vento espalhou a notícia sobre o rio, a calha cheia atraiu curiosos de Icó e de cidades vizinhas. “A ponte ficou lotada, vieram de todo lugar pra ver”, conta a comerciante. O rio fechou o dia 22 com 2,00 metros, foi a 2,77 metros na tarde do dia 27, estava ainda em 2,70 metros no dia 2 de março.  

 

No registro mais alto do ano, pelo menos por enquanto, alcançou 3,14 metros, dia 3 de março.
 

O POVO esteve em Icó dia 9 de março e o Salgado mantinha-se em 1,46 metro às nove da manhã. Diariamente, Ana Célia faz os apontamentos do rio sempre às 7 e às 17 horas. O dado alimenta a base de dados da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), que tem as atribuições do Serviço Geológico do Brasil, e vai também para a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
 

Toda aquela água, segundo a comerciante, escoa das enxurradas ainda de janeiro no Cariri. O curso do Salgado é em direção ao rio Jaguaribe, que mergulha diretamente no açude Castanhão. No dia 5 deste mês, o maior reservatório do Ceará havia juntado 32,9 milhões de m³ no intervalo de uma semana - mais de um metro d’água. Atualmente está com 3,82% de seu volume. “Na época das cheias, é esse meu trabalho de anotar o rio que ajuda a controlar as comportas do Castanhão”, diz Ana Célia, orgulhosa.

“Tá uma beleza, mas principalmente para o desenvolvimento vegetativo”, reconhece Francisco Alencar, gerente da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ematerce) em Icó. Foram 59,3 toneladas de sementes de milho, feijão e sorgo. A colheita, diz ele, deve começar entre maio e junho. Porém não é um mesmo cenário abundante para todo o Ceará.
 

No aporte local de Icó, além de voltarem as correntezas e os banhos no rio Salgado, houve recarga no açude Lima Campos. A barragem chegou a ganhar 66 centímetros em seu volume, do repasse do açude Orós e das chuvas. 

 

Precipitações menores do que o precisado: 69,5% abaixo da média. Na tarde de ontem, o volume do reservatório havia baixado para 3,12%. Chegou a 3,34% no começo de março. Esteve até pior este ano: 1,88% em
11 de fevereiro.
 

Francisco Hélio da Silva, coordenador da Defesa Civil do município, confirmou que o serviço de pipas local está suspenso por 60 dias. Desde 1º de março. “Analisamos que há um bom volume de água na região para consumo humano. Havia 29 caminhões atendendo 11.300 pesoas da zona rural de Icó desde o começo da seca, em 2012. (Cláudio Ribeiro)

 

A PONTE E O RIO
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Chuvas de janeiro no Cariri despejaram água no rio Salgado, que mergulha em direção ao açude Castanhão. Na foto, a ponte Piquet Carneiro, em Icó

 

AÇUDE ORÓS
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Vista da jusante do açude Orós, que não registra sangria desde agosto/2011. Segundo maior reservatório do Ceará, está com 6,29% da capacidade

 

HISTÓRIAS DESSAS CHUVAS


AUDIOVISUAL

 

No itinerário da reportagem especial Valei-me, São José, o webdoc colhe histórias do primeiro mês das chuvas de 2018. A seca ainda é presente. O aporte nos reservatórios é expectativa. Mas o roteiro é traçado de esperança. Assista em opovo.com.br/videos  

 

SOBRE A SÉRIE
 

REPORTAGEM
 

Na série, O POVO contou porque a seca ainda é uma certeza em 2018, a necessidade do aporte nos reservatórios e os registros de fartura e esperança onde a chuva se ofereceu. A equipe percorreu nove cidades das regiões Jaguaribana e Sertão Central na primeira semana de março. 

 

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