Logo O POVO+
58 carros-pipas para abastecer Canindé
Reportagem

58 carros-pipas para abastecer Canindé

Edição Impressa
Tipo Notícia
NULL (Foto: )
Foto: NULL

[FOTO1] 

A zona rural de Canindé (a 121 km de Fortaleza) tem usado a água trazida de Maracanaú. A operação, executada diariamente, começou ainda na necessidade de 2015, quando a crise hídrica se apresentava pior. As chuvas de 2017 (613,7 mm) quase igualaram a média esperada (671 mm, 8,6% abaixo), até deram alguma recarga nos açudes locais. Forçadamente, o serviço precisou ser mantido desde aquela época.
 

Por mês, atualmente, são 900 carradas transportadas por 58 pipas. Cada caminhão com 8 mil a 12 mil litros. Para cerca de 15 mil pessoas em 250 pontos de abastecimento. “A gente ainda está precisando usar essa água de fora. Nossos açudes estão com recarga muito abaixo da média. Não tem como suspender. Até ampliamos. Eram 8 mil pessoas”, descreve o diretor-geral da Defesa Civil local, Júnior Mourão.
 

Dos principais reservatórios da cidade, o que aparenta melhor aporte é o São Mateus, o maior deles. Está com 4,5 milhões de m³ (43,5% do volume). Do alto, ao lado da estátua de São Francisco de Canindé, o espelho do açude reflete só daquelas nuvens de fazer sombra. Não formaram ainda boas precipitações. No acumulado de 2018, choveu 64,6% abaixo da média no município. Os açudes Salão, Sousa e Escuridão ainda têm volumes preocupantes.
 

Na última semana, a Defesa Civil local fez vistoria com o Exército em 15 localidades, para avaliar alguma possibilidade de suspensão dos pipas. Se as cisternas postadas ao lado dos alpendres estivessem com água juntada da chuva, o serviço seria interrompido por 60 dias. “Vimos que não tem como suspender. As cisternas estão secas e os açudes pequenos e barreiros também não juntaram água. Estamos ainda nas mãos de Deus”, afirma o diretor do órgão. De 75 poços escavados entre 2015 e 2018, 90% deles dão água salobra.
 

Até a primeira semana de março, sete novas comunidades haviam pedido para entrar na lista dos pipas. Porque os mananciais locais não tiveram aporte suficiente. Uma delas foi a Vila Medeiros II, a seis quilômetros da sede do município.
 

Seu Raimundo Medeiros deu seu sobrenome ao local quando veio de Aratuba, nos anos 1960. “Fiz o chão dessas casas para os meninos e fui cuidar. Terra boa. Hoje tá seco”. Aos 97 anos, ele tem ido diariamente ao seu cercado limpar o mato no entorno de seus pés de milho e feijão. A lagarta tem roído e as folhas estão dobrando - sinais de falta de água para a planta. “Ô inverno bom pra milho e feijão. Mas é uma chuva muito maneira. Podia ser melhor”. (CR)

 

A SÉRIE


O POVO mostrou ontem que, apesar das chuvas de fevereiro e de março, até agora, a secura maltrata o Sertão Central. Hoje trata do aporte aos açudes e amanhã vai falar da esperança do sertanejo 

O que você achou desse conteúdo?