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"Não é coincidência Gegê estar no Ceará após chacina"
Reportagem

"Não é coincidência Gegê estar no Ceará após chacina"

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Jornalista e escritor paulista, Josmar Jozino pesquisa as operações do Primeiro Comando da Capital (PCC) há pelo menos 20 anos.

Escreveu três livros sobre o assunto: Cobras e lagartos (2005), Casadas com o crime (2008) e Xeque-mate (2012). Em conversa por telefone com O POVO, Jozino fala que a tese de represália interna no PCC pode explicar as mortes dos dois líderes cujos corpos foram encontrados na reserva indígena de Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza, na última sexta-feira. Mas, de acordo com o pesquisador, a expansão da facção paulista está causando uma guerra com os rivais em vários estados do País. Para ele, caso as mortes tenham sido por facções rivais, “vai ter derramamento de sangue” dentro e fora das cadeias.


O POVO – O que Rogério Jeremias de Simon, o Gegê, e Fabiano Alves de Sousa, o Paca, faziam no Ceará?


Josmar Jozino – O que o Ministério Público de São Paulo afirma é que eles estavam foragidos e cuidando dos negócios da facção aí no Estado. Mas há um ponto: a morte do “Birosca” (Edilson Borges Nogueira) no Presídio Presidente Venceslau 2 (interior de São Paulo), que é hoje o “escritório” do PCC. O Birosca era muito reverenciado e querido por todos da facção. Quando ele foi morto, o Marcola (Marcos Willians Herbas Camacho, líder do PCC) estava fora, internado numa cidade vizinha. O próprio Marcola não teria dado a ordem para matar esse preso. A ordem teria partido do Gegê do Mangue. O motivo de ele estar no Ceará ainda está sob investigação, claro. O Gegê ia ser julgado por duplo homicídio no dia 20 de fevereiro, mas não compareceu à audiência. Foi condenado a 47 anos de prisão. Ele nem deveria ter sido solto. Foi solto 15 dias antes do julgamento.


OP – Essas mortes têm relação com o crescimento do PCC fora de São Paulo?


Josmar Jozino – Essas mortes no Ceará comprovam que o PCC está se expandindo muito. Facções do Norte e Nordeste, o CV (Comando Vermelho) do Rio, não estão satisfeitas com essa mudança. Houve chacinas no Acre, Ceará, Rondônia, Rio Grande do Norte, tanto nas cadeias quanto nas ruas. Isso é consequência da guerra de facções.

No caso do Gegê, não é possível dizer ainda se ele estava apenas foragido da Justiça ou articulando os negócios do PCC em Fortaleza.

Mas certamente não é coincidência ele estar no Ceará justamente depois da chacina (das Cajazeiras, que deixou 14 mortos) e das mortes nas prisões (a chacina de Itapajé, menos de três dias depois do caso nas Cajazeiras, deixou dez mortos).


OP – Caso tenha sido represália, isso é comum na forma de atuação do PCC?


Josmar Jozino – Isso é muito comum na história do PCC. A última guerra interna foi em 2002, quando Marcola se fortalece. Houve uma guerra interna muito grande. Pode ter sido o mesmo caso de agora.

Veja, o Birosca era da alta cúpula do PCC havia duas décadas. Era apadrinhado do Marcola. Pra entrar na organização, só com um padrinho. E o dele era esse: o próprio Marcola.


OP – A atuação do Gegê fora das prisões pode ter despertado reação dentro do próprio PCC?


Josmar Jozino – Sem dúvida. O Gegê estava crescendo muito.

Agora, na rua, era o considerado o número 1, segundo o Ministério Público de São Paulo. Era ele quem comandava tudo: tráfico, lavagem, tudo.


OP – Essas mortes podem ter repercussão no sistema prisional de São Paulo e Ceará?


Josmar Jozino – Se for uma ordem de cima do PCC, direto do Marcola, não vai ter repercussão nas cadeias. Existe a hierarquia.

Mas, se for de outra facção, pode ter certeza de que vai ter derramamento de sangue, sim.

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