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Líderes do PCC, mortos no Ceará, estavam de férias
Reportagem

Líderes do PCC, mortos no Ceará, estavam de férias

| EXECUÇÕES | Gegê do Mangue e Paca eram foragidos da Justiça paulista. Os dois, mortos em Aquiraz, saíram pela porta da frente de presídios de São Paulo. Antes do Ceará, estavam na Bolívia
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A informação sobre a execução do principal chefe, em liberdade, do Primeiro Comando da Capital (PCC), Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza (Paca), no Ceará, chegou primeiro a São Paulo. Os passos dos dois criminosos e seus familiares vinham sendo monitorados pelo serviço de inteligência do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) daquele estado.


De acordo com Lincoln Gakiya, promotor do Gaeco paulista, Gegê do Mangue, Paca e parentes estariam de férias no Ceará. Os dois companheiros de facção teriam sido assassinados depois que as famílias retornaram para São Paulo.


O crime aconteceu na quinta-feira, 15, depois que um helicóptero aterrissou em uma clareira na mata de área indígena dos Jenipapo-kanindé, no município de Aquiraz (distante 32 km de Fortaleza). Os corpos só foram encontrados na sexta-feira, 16, e recolhidos à noite pelo Polícia Forense do Ceará (Pefoce).


O promotor Lincoln Gakiya conta que, até então, as polícias cearenses não sabiam de quem se tratava já que ou não havia identificação ou Gegê do Mangue e Paca, depois de libertados de forma questionável do sistema penitenciário de São Paulo, passaram a usar identidades falsas.


Com as informações levantadas pela inteligência do Gaeco de São Paulo, o Ministério Público de lá entrou em contato com promotores daqui e com policiais da Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS). Iniciaram a troca de dados e conseguiram confirmar que os corpos eram de dois líderes importantes na hierarquia do PCC.


Gegê do Mangue saiu pela porta da frente de um presídio paulista em fevereiro de 2017. Dias depois, de acordo com Lincoln Gakiya, foi condenado a mais de 47 anos de pisão por conta da encomenda de homicídios. “Ele foi solto e não voltou para o julgamento ”, afirma o promotor do Gaeco que investiga o PCC desde 2006.


Livre, Gegê do Mangue teria fugido para a Bolívia ou Paraguai e se juntado a Paca, também beneficiado por uma soltura questionável em 2015. Da mesma forma, passou a ser considerado foragido por causa de condenações posteriores às liberações. Em território estrangeiro, os dois estariam cuidando da entrada de armas e drogas do PCC pelas fronteiras do Centro Oeste e Sul do País.


Nada ainda é concreto, há uma investigação repleta de perguntas não respondidas sendo tocada entre São Paulo e Ceará. Para o promotor Lincoln Gakiya, Gegê do Mangue e Paca não teriam sido vitimas da guerra de facções que se desenrola no estado cearense.


O mais provável, aponta o promotor, seria um acerto de conta engendrado dentro do próprio PCC. O crime estaria ligado ao assassinato, em dezembro último, de Edílson Borges Nogueira, o Birosca. Ele, ex-líder deposto do PCC, foi executado durante um banho de sol no presídio de Presidente Venceslau, em São Paulo.


O mandante da execução teria sido Gegê do Mangue, que atuou sem o consentimento da cúpula do PCC e de Marcos Camacho, o Marcola, principal líder da facção que está preso, há anos, numa penitenciária paulista. “É cedo para afirmar isso, mas é uma possibilidade forte. É a disputa interna do PCC em São Paulo. Há também outras situações de rua que estamos apurando”, afirma.


O Ceará, de acordo com Lincoln Gakiya, é o terceiro estado no Brasil com mais “batizados” do PCC. Seriam pelo menos 2000 criminosos cuidando dos negócios ilegais da quadrilha aqui. Depois de São Paulo e Paraná, o território cearense teria uma importância estratégica no Nordeste para a facção. A condição de uma cidade portuária e a proximidade geográfica com a Europa justificariam, por exemplo, o tráfico de drogas passando por Fortaleza, Pecém e outros municípios litorâneos.


Em 2016, o irmão de Marcola, Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, foi preso pela Polícia Federal no bairro Sapiranga, em Fortaleza. Alejandro veio viver aqui, depois de ganhar liberdade em São Paulo. Ele vinha sendo investigado por tráfico de armas e drogas trazidas do Paraguai e da Bolívia. Outra liderança do PCC, que tem história no Ceará, é Antônio Jussivan Alves dos Santos, o Alemão. Ele comandou o furto milionário ao Banco Central em 2005. Hoje, está preso em Catanduvas no Paraná.

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PERFIL


Avião da Vila Madalena


Gegê do Mangue, morto aos 40 anos, nasceu Rogério Jeremias e viveu na favela do Mangue, em São Paulo, comunidade, localizada na vizinhança da Vila Madalena. Ainda adolescente, ele e outros meninos fizeram a vida vendendo cocaína e maconha, durante as madrugadas, para frequentadores do bairro da boemia paulista. Em 2004, Gegê foi apontado como mandante das mortes de traficantes da favela do Sopé. Foi preso, mas passou a responder em liberdade em fevereiro de 2017. Fugiu e foi condenado a 47 anos, sete meses e 15 dias de prisão.

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PERFIL


Influente na cúpula


Fabiano Alves de Souza, o Paca, tinha 39 anos, e era considerado pelo Ministério Público de São Paulo um dos seis criminosos mais influentes do PCC. Antes de entrar no mundo do tráfico, ele era office boy. Segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) de Presidente Venceslau, a execução de Gegê do Mangue e Paca, no Ceará, representaria uma baixa significativa para o PCC. A facção estaria, agora, sem lideranças fortes atuando em liberdade.O promotor investiga o grupo desde 2006.

 

CARTEL MEXICANO


A exemplo de Gegê do Mangue e Paca, o traficante mexicano José Gonzales Valencia foi preso no Ceará passando férias. Ele seria, segundo a Polícia Federal, um dos chefes do cartel de Jalisco Nueva Generación.A prisão foi no ano passado.

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