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Especialista alertou para o risco da pacificação
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Especialista alertou para o risco da pacificação

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Reportagem do O POVO publicada em 31 de janeiro de 2016, intitulada “Facções em trégua - Uma paz às avessas”, revelou que acordos de paz estavam firmados entre grupos criminosos no Ceará, em prol do tráfico de drogas. À época, a pesquisadora Camila Nunes Dias, que analisou a história do PCC, contada no livro Hegemonia nas Prisões e Monopólio da Violência”, ouvida pelo O POVO, alertou para os riscos que a trégua representava.
 

Isso porque, segundo conta, no início dos anos 2000, o PCC havia realizado um processo de pacificação semelhante, em São Paulo, que também resultou na redução das mortes e no fortalecimento da facção paulista. Na entrevista, Camila ressaltou que o Ceará tinha uma oportunidade rara de corrigir o problema, uma vez que, por aqui, esse fenômeno era considerado recente.
 

“É covardia o Estado deixar a população nas mãos dos criminosos. Até porque essa pacificação tem um forte componente de medo. Não é algo democrático, pautado pelo respeito. Mas, para eles, dos males o menor. Porém, você depender do crime para pacificar a sociedade traz um prejuízo enorme. E uma hora essa conta vai chegar”, declarou, dois anos atrás.
 

Entretanto, diante da expressiva queda dos homicídios, que chegou a 15,2%, as estatísticas foram comemoradas e o problema foi minimizado pelas autoridades. Até que trégua se desfez, a conta chegou e uma guerra ainda maior se instalou, elevando os assassinatos de 3.407, em 2016, para 5.134, em 2017.
 

“É preciso repensar esse modelo de segurança. E a única maneira de enfrentar esse problema é descriminalizando as drogas. De outra forma, já que sempre há demanda, sempre haverá alguém, seja o PCC ou o dono do helicóptero que pousa na fazenda no Espírito Santo, disposto a abastecer e suprir essa demanda”, afirmou Camila, em nova entrevista ao O POVO. 


A pesquisadora também atribui ao modelo atual o nascimento, crescimento e fortalecimento das facções. “O tempo todo o Estado atua para fortalecer as facções e gerar as condições de violência em que a gente vive. É ele quem coloca a Polícia nas ruas para prender apenas os traficantes da ponta do sistema. É o Judiciário que condena essas pessoas ao em regime fechado. É o MP... É o próprio Estado construindo essa situação trágica”, completa. 

 

(TP)

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