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Ceará é o "centro geográfico" para o crime organizado, diz ministro da Justiça
Reportagem

Ceará é o "centro geográfico" para o crime organizado, diz ministro da Justiça

| TORQUATO JARDIM | Em coletiva sobre envio de força-tarefa ao Estado, ministro disse ainda que "quem conquistar o Ceará conquista o Nordeste". Porém, descartou intervenção federal
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Em coletiva de imprensa na Base Aérea de Brasília, ontem, o ministro da Justiça Torquato Jardim disse que o Ceará é, “para o crime organizado, o centro geográfico”. O ministro também garantiu que a situação do Ceará “não pede intervenção de qualquer natureza”.
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“Por razões de maiores explicações, lamentavelmente, o Ceará é, para o crime organizado, o centro geográfico. Quem conquistar o Ceará conquista o Nordeste. É, portanto, uma guerra de segurança pública. Por isso, estamos mandando uma força auxiliar tática e de inteligência de informação”, disse Torquato Jardim, em entrevista de esclarecimento sobre o envio de força-tarefa policial ao Ceará.

Ao negar semelhanças com a medida do Governo Federal de intervenção na Segurança Pública no Estado do Rio de Janeiro, o ministro da Justiça explicou que a situação do Ceará “é bem diferente”. “Havia uma quebra da hierarquia do funcionamento das instituições (no Rio de Janeiro), da autoridade instalada. Isso admitido pelas próprias autoridades instaladas. Isso está longe de ocorrer no Ceará”, argumentou o ministro. 


Contudo, Torquato Jardim afirmou que é responsabilidade do Governo Federal “trazer a paz de volta” para o Ceará.
 

Membro do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Ceará (MPCE), o promotor Rinaldo Janja diverge da constatação do ministro da Justiça.
 

Para ele, “não se pode negar” que o Ceará “é uma rota importante” para o tráfico de drogas, próximo da Europa e África, e que daí “vem interesse das facções em dominar” o território, mas afirma desconhecer dados que baseiem a avaliação do Governo Federal.
 

Já o advogado Leandro Vasques, presidente do Conselho Estadual de Segurança Pública (Consesp), o dado é um “fato indiscutível”, citando inclusive a presença de líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Estado como evidência.
 

“Essa situação demonstra a vulnerabilidade da nossa segurança. Com essa problemática geográfica, o crime organizado não está ‘migrando’ pra cá: já está cristalizado no Ceará”, alega Vasques.
 

Se, para ambos, uma intervenção federal, dentro do previsto pela Constituição Federal, não seria estranho, para o deputado José Guimarães (PT) há de se ter cuidado para que o Governo Federal não suplante o Estadual. “Com isso, vai virar moda? Não se tira poder do governador na área de Segurança Pública para levar à União”. 

 

CHEFES DO PCC
 

PERGUNTAS SEM RESPOSTAS
 

A morte de chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC) Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, ainda estão cercadas de indagações. O POVO elenca questões ainda não esclarecidas.

Quem ameaçou incendiar a Perícia Forense do Estado?
 

Cerca de 20 homens da Polícia Militar faziam a segurança do Instituto Médico Legal (IML), no bairro Moura Brasil, devido à ameaça de invasão do prédio público para retirar os corpos. Havia também a ameaça de incendiar o prédio da perícia.

Por que os foragidos estariam de férias no Ceará logo após as chacinas?
Gegê do Mangue e Paca estariam de férias no Ceará.
 

O período é próximo à execução de dois massacres no Estado. No último dia 27, o bairro das Cajazeiras foi cenário para a maior chacina do Ceará, com 14 mortos. Dois dias depois, 10 internos da Cadeia Pública de Itapajé foram assassinados. 


O Ministério Público de São Paulo afirma que eles estavam cuidando dos negócios da facção no Estado.

A execução indica guerra interna?
 

Para o jornalista e escritor paulista Josmar Jozino, que pesquisa as operações do PCC há duas décadas, represálias são comuns na história do PCC. “A última guerra interna foi em 2002, quando Marcola (Marcos Willians Herbas Camacho, líder do PCC) se fortalece. Houve uma guerra interna muito grande. Pode ter sido o mesmo caso de agora.”

As mortes vão repercutir no sistema prisional?


Ainda conforme Jozino, não haverá repercussão nas cadeias se confirmada que a ordem da execução veio da liderança do PPC, por respeito à hierarquia. “Mas, se for de outra facção, pode ter certeza de que vai ter derramamento de sangue, sim.”

 

BASTIDORES
 

Pela manhã, a SSPDS se recusou a confirmar se a reunião estava ocorrendo no prédio. Equipes de reportagem que foram no local não estavam autorizadas a passar da recepção e eram proibidas até de fotografar o estacionamento.

O almirante Alexandre Mota, coordenador da força-tarefa, afirmou que o Brasil já dispõe de um Plano Nacional de Segurança Pública. “Foi entregue ao presidente Temer e está sob análise da Presidência”.
 

Segundo ele, foram recebidas cerca de 1.200 sugestões em consulta pública, entre os dias 4 de dezembro e 5 de janeiro últimos. 

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