Logo O POVO+
Traficante mexicano curtia férias em praias cearenses
Reportagem

Traficante mexicano curtia férias em praias cearenses

| ALERTA NOS EUA| José González Valencia entrou no Brasil pelo Aeroporto de Guarulhos (SP). Foi preso em Aquiraz
Edição Impressa
Tipo Notícia

A mais recente prisão efetuada no Ceará a partir de um alerta da Interpol foi a do mexicano José González Valencia, 42 anos, o “Chepa”. Aconteceu a poucos dias da chegada de 2018. Principal operador financeiro do Cartel de Jalisco Nueva Generáción (CJNG), atualmente um dos mais atuantes no tráfico de drogas em seu país, Chepa curtia férias nas praias locais. Foi preso no dia 28 de dezembro quando chegava ao Beach Park, em Aquiraz.
 

Também chamado de Cameraon ou Santy, Chepa era procurado via Interpol por requisição das autoridades judiciárias norte-americanas. O CJNG é tido como um dos mais violentos no México, com grande distribuição de cocaína, maconha e drogas sintéticas para os Estados Unidos. Chepa vivia há dois anos na Bolívia. Usava o nome falso de Jafett Arias Becerra.
 

A entrada no Brasil foi pelo Aeroporto de Guarulhos (SP), quando acabou reconhecido. O alerta foi disparado e a PF esperou o momento certo da prisão. Chepa estava hospedado na praia da Taíba, litoral oeste cearense. Viajava com mulher, uma criança e um casal de amigos. Brasil e Estados Unidos, através das Cortes Supremas, trocam documentos para acelerar a extradição do mexicano para uma prisão norte-americana. (CR) 

 

MAIS SOBRE A INTERPOL
 

> É uma associação internacional, com fins policiais, para troca de informações. O nome oficial é Organização Internacional de Polícia Criminal.

> Foi criada em 1923, na Áustria, mas a sede administrativa fica em Lyon, na França.

> Tem 193 países membros. Coreia do Norte, Micronésia, Ilhas Salomão, Kiribati, Palau, Tuvalu e Vanuatu são alguns dos poucos que não participam.

> Cada país escolhe seu órgão representante. No Brasil, a representação da Interpol é feita pela Polícia Federal.

> Segundo o delegado Thomas Wlassak, da Interpol-Ceará, o Brasil paga cerca de 800 mil euros/ano para estar associado. O custeio das operações é feito pela Polícia Federal.

> A renovação do nome no alerta da Interpol é feito a cada cinco anos, de acordo com o interesse da autoridade judiciária. 

 

TRÁFICO DE DROGAS

 

1) O “Doutor” da camuflagem - Lloyd Uno Wladimir Ernst – Surinamês.

ALERTA: Público.
PARADEIRO: Desconhecido.
O CASO: Gabava-se do apelido, “Doutor”. Era porque sabia preparar, como poucos, fundos falsos de malas e bolsas para camuflar encomendas de drogas. Chamava o serviço de “obra de arte”. Seu nome consta em processo na 11ª Vara Federal, aberto desde 2002. Em julho daquele ano, o italiano Marco Visconti, quando embarcava para Milão ao lado da esposa, foi flagrado no Aeroporto Internacional Pinto Martins com 1,5 kg de cocaína pura. A quantia havia sido comprada, segundo ele, das mãos de Lloyd e de um paraense, Paulo Terrence Hisson, na capital amazonense. À época, Lloyd vivia entre Manaus e Belém e já havia sido apenado por tráfico na Holanda. O processo descreve que a PF, nas buscas ao surinamês, identificou diversas viagens dele a países do chamado Narcosul: Bolívia, Colômbia e Venezuela. Visconti ficou 11 meses preso e ganhou progressão ao regime semiaberto. Terrence foi apenado com multa. Lloyd nunca foi preso. Tem 1,85m, é negro, sempre usava óculos. Seu nome na Difusão Vermelha vem sendo renovado e o atual vale até fevereiro de 2019. A foto dele consta no processo, mas não aparece na rede aberta da Interpol. Hoje está com 62 anos.


2) Delação premiada das “mulas”
- E.D.L.M. – Equatoriano.

ALERTA: Restrito.
PARADEIRO: “Possível localização” no Equador, segundo os autos processuais.
O CASO: Em 19 de outubro de 2017 foi renovada judicialmente, por mais cinco anos, a ordem para a Interpol tentar localizá-lo. É acusado de tráfico internacional de cocaína. A Polícia chegou ao nome dele quando as equatorianas Katti Elizabeth Arechua Villacis e Greyci Sayonara Saltos Pilpe foram descobertas em Fortaleza, no dia 30 de abril de 2004, como “mulas do tráfico”. Katti foi flagrada no Aeroporto Pinto Martins, havia engolido 84 cápsulas de cocaína. Greyci estava no hotel, engolira outras 50 cápsulas da droga. Fizeram delação premiada e apontaram o compatriota como seu contratante. Levariam a cocaína para o continente africano.


3) Cocaína em alto-mar
- S.H.N. – Coreano.

ALERTA: Restrito.
PARADEIRO: Desconhecido, desde que voltou para a Coreia.
O CASO: A bordo do barco pesqueiro “Dong Hee nº 1”, uma carga de 1.131, 55 quilos de cocaína pura – acondicionada em 32 fardos. O flagrante foi em 26 de setembro de 2005. No grupo, abordado em alto-mar, estavam o coreano e mais um colombiano e dois chineses. Vinham do Suriname. O destino seria o Senegal ou África do Sul e também algum ponto da Europa na sequência, segundo a investigação. A droga teria sido jogada de um avião. Logo após a operação policial, as autoridades diplomáticas dos outros países foram avisadas. Conforme os autos do processo, na 32ª Vara Federal, o coreano acabou liberado na abordagem policial. Três dias depois, na véspera da decretação de sua prisão preventiva, o acusado conseguiu voltar à Coreia do Sul na companhia do então ministro conselheiro da Embaixada da República da Coreia, Pyon Moo-Woo. Nunca mais foi visto no Brasil. A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) chegou a localizar, em São Paulo, um personagem com o nome quase idêntico (mudava uma das letras do prenome). A pessoa acabou sendo desconsiderada como suspeita por ter características físicas e dados sociais diferentes. O colombiano e os dois chineses cumpriram suas penas no Ceará. Em 14 de novembro de 2017, a Justiça Federal informou que “a manutenção do nome do réu na Difusão Vermelha da Interpol é medida necessária e adequada”. O coreano, que completará 60 anos em 2018, segue como criminoso procurado, mas o nome está na lista restrita e não pode ser divulgado. O barco deve ir a leilão em 2018.



4) Qual é o nome de “Jorge”?
- G.V.M. (ou A.S.I.), nigeriano, e M.C.A,
venezuelana.

ALERTA: Restrito.
PARADEIRO: Sobre ela, O POVO confirmou que até o segundo semestre de 2017 continuava presa, e o governo venezuelano aguardava documentações de autoridades brasileiras para análise de possível extradição. Dele, a possível localização é desconhecida.


O CASO: Respondem a um caso de 2003, de um flagrante feito no Aeroporto Internacional Pinto Martins, em que uma paranaense foi descoberta com 2 kg de cocaína dentro de um aparelho de ginástica (mini-stepper). No papel de “mula do tráfico”, a mulher faria o transporte da droga no trajeto São Paulo-Fortaleza-Cabo Verde. A investigação apontou que o nigeriano seria o verdadeiro dono da cocaína e a venezuelana teria sido a companhia da paranaense na viagem entre São Paulo e Fortaleza. Sobre o nigeriano: não se tem certeza de seu nome verdadeiro, muito menos qual de fato sua nacionalidade. A investigação policial confirma que ele tem pelo menos dois passaportes, mas poderia haver até outro. Um dos nomes que adotava no Brasil era “Jorge”. Sobre ela: a venezuelana foi presa em seu país em 27 de abril de 2016. Em outubro de 2017, o Ministério Público da República Bolivariana da Venezuela pediu formalmente mais elementos probatórios sobre o crime de tráfico imputado a ela. Estão no alerta restrito da Interpol, com validade até abril de 2021. A paranaense ficou 5 meses e 21 dias presa em Fortaleza e a pena (de 1 ano e 4 meses) foi convertida em doação de cestas básicas.


5) Mentira na Argentina
- G.L.E. – Holandês.

ALERTA: Restrito.
PARADEIRO: Estaria na Holanda.
O CASO: Foi preso no Ceará por tráfico de cocaína. Das poucas informações obtidas pelo O POVO sobre o caso dele, consta que chegou a cumprir pena em regime fechado. Ao conseguir progressão de regime para o semiaberto, decidiu fugir. Foi descoberto ao entrar na Argentina, mas alegou que havia perdido o passaporte. Teria conseguido um documento novo, informado nome diferente e de lá viajou de volta ao seu país. Seu nome no alerta (não público) da Interpol é válido até 2022.  

 

 

6) O ANIVERSARIANTE
- A.O.H – Surinamês.

ALERTA: Restrito.
PARADEIRO: Estaria no Suriname.
O CASO: No dia 27 de setembro de 2004, a holandesa Lobrectha Meijer, à época com 58 anos, estava prestes a embarcar para Amsterdã quando a Polícia Federal encontrou 840,4 gramas de cocaína no fundo falso de sua bolsa de viagem. Ela estava sozinha no aeroporto Pinto Martins – ou pelo menos não revelou com quem embarcaria. Quando a PF analisou as imagens do circuito interno de TV do terminal, Lobrectha havia sido vista uma semana antes ao lado do surinamês A.O.H., conhecido como “John”. Ele também foi visto com a holandesa na pousada onde se hospedaram. “John” pagou a conta da estada dos dois. Haviam chegado no dia 16 de setembro. Na cidade, comemoraram o aniversário dele, dia 19 – tinha 26 anos, hoje tem 39. O surinamês deixou Fortaleza naquele mesmo dia 27, mas foi em direção ao seu país. Flagrada como mais uma “mula do tráfico”, Lobrectha ficou um ano e quatro meses presa. Chegou a ser analisada em incidente de insanidade mental pela Justiça, que considerou a circunstância e a livrou do processo. O caso tramita na 32ª Vara Federal. O alerta dele está válido até 2022.

CRIMES
FINANCEIROS

7) FRAUDE BILIONÁRIA DO DOLEIRO CEARENSE

- Alexander Diógenes
Ferreira Gomes – Cearense. (FOTO)

ALERTA: Público
PARADEIRO: Reside em Barcelona, Espanha. Segundo informações colhidas junto à Justiça Federal, só será preso se deixar a cidade onde mora.

O CASO: Nos 1990, era um doleiro bastante influente e acionado pelos empresários cearenses. No início dos anos 2000, descobriram suas fraudes ao sistema financeiro brasileiro – crimes contra a ordem tributária, evasão de divisas, lavagem de dinheiro. A cifra que bateu a casa do bilhão de reais. Em 2002, chegou a ser sequestrado, durante 39 dias. Fugiu em 2003. Teria se escondido por Nova Zelândia, Santa Cruz e Névis, Indonésia, até ser preso pela Interpol na Espanha em 2006. Sua primeira condenação foi em fevereiro de 2005 (12 anos de reclusão). Uma das denúncias o acusa de ter movimentado irregularmente, no período de 14 meses, mais de meio bilhão de reais (R$ 523 milhões). Até 2016, havia 53 condenações impostas ao doleiro. Hoje há contra ele pelo menos nove processos em andamento na Justiça Federal brasileira. Teria obtido cidadania espanhola. Em 2007, conseguiu decisão da Corte de Justiça espanhola para não ser extraditado. Mesmo localizado, seu nome segue no alerta público da Interpol.

FRAUDE

8) A ENGANADORA DE URUBURETAMA
- C.M.O.- Cearense.

ALERTA: Restrito
PARADEIRO: O processo, aberto na comarca da Cidade, cita que ela segue “atualmente em endereço incerto e não sabido (provavelmente residindo na República da Itália)”.

O CASO: Nascida no Interior do Ceará, a foragida não poupou um casal de idosos de sua cidade, Uruburetama. Os dois, à época, tinham 87 e 70 anos. Num dia de 2006, em frente ao Banco do Brasil, ela se ofereceu para ajudá-los no saque da aposentadoria. Fez a retirada e, dali em diante, passou a frequentar a casa dos dois como se amiga fosse. Com o acesso à senha dos cartões, passou a fazer empréstimos para si, transferências para contas de parentes, cobriu as próprias dívidas e fez compras vultosas no nome do casal – ambos com pouca formação escolar. Eles chegaram a ficar sem dinheiro para comprar mantimentos em casa. A procurada dizia ser um problema no banco. Enganou o casal até 2008. A filha dos dois aposentados, que não morava com eles, soube da situação e avisou à Polícia. A mulher chegou a depor na Polícia, admitiu ter feito movimentações bancárias para o casal, mas não convenceu nas explicações. Depois disso, sumiu. Em 2009, foi condenada à revelia com base no Estatuto do Idoso – art. 102, “Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso”. Pegou pena de dez anos. Neste mês, a foragida completa 42 de idade.

AGRESSÃO

9) LESÃO IRREVERSÍVEL
- Roger Ulrich – Suíço.

ALERTA: Restrito pela Interpol, mas é descrito como “um dos mais procurados” no rol de foragidos da Polícia Federal brasileira.
PARADEIRO: Está na cidade de Zofingen, cidade suíça de pouco mais de 10 mil habitantes onde a língua oficial é o alemão. Em julho último foi aberto um inquérito pela polícia local. Roger Ulrich teve o passaporte retido. Está impedido de deixar seu país. Em nota ao O POVO, o Ministério Público da Suíça disse que o caso está sendo conduzido pelo promotor de Justiça Kanton Aargau. A assessoria de imprensa do órgão disse que Aargau espera o envio de “alguns documentos” pelas autoridades judiciárias brasileiras. “Enquanto a acusação não os tiver, não é possível continuar os procedimentos”, esclareceu o MP suíço.


O CASO: Apesar do nome dele aparecer no alerta restrito da Interpol - não pode ser divulgado publicamente pelo órgão -, no site da Polícia Federal, Roger Ulrich aparecia até junho de 2017 na lista dos “mais procurados”. Havia foto e o detalhamento de sua acusação. Ele é apontado num caso de agressão à sua ex-companheira, a artesã paraense Ana Júlia de Sousa Rabelo.
A ocorrência foi em 2004, quando moravam juntos na praia de Canoa Quebrada, Litoral Leste do Ceará. Viveram juntos por cinco anos. No noticiário da época, a descrição foi a de que, depois de brigarem num bar, teriam ido para casa. Lá, Roger teria agredido Ana Júlia com um banco de madeira.

Desmaiada, ela teria sido arremessada da janela do andar superior da casa, de uma altura de três metros. A lesão na coluna a deixou paraplégica. Ana Júlia também perdeu a audição. “As agressões aconteciam, mas foram piorando. Quando aconteceu o episódio, já estava prestes a me separar dele”, conta a artesã.

O jornal suíço Blick contou o caso numa série de reportagem publicada no final de junho passado. Após deixar o Brasil, Roger morou alguns anos na Tailândia, assumiu outro relacionamento e há pouco tempo voltou a morar na Suíça.

Ana Júlia hoje tem 44 anos, Roger está com 54. Ela não teve filhos com ele e diz que espera informações mais claras sobre que punição Roger receberá. O POVO tentou contatar Roger Ulrich. Por um intermediário, foi informado que ele não toparia falar sobre o caso.

EXPLORAÇÃO DE MENORES/
AMEAÇA

10) VINGANÇA ESCATOLÓGICA
- J.S.- Suíço.

ALERTA: Restrito.
PARADEIRO: Desconhecido.
O CASO: O POVO apurou duas acusações contra ele. Uma seria a de exploração sexual de menores – mas sem maiores detalhes a respeito. A outra, descrita ao O POVO por um policial federal, é a de que ele teria sido denunciado por ameaça, pelo MP Federal, depois de enviar uma carta com ofensas às autoridades brasileiras. Detalhe escatológico: o estrangeiro sujou o papel com fezes antes de envelopar e remeter à Polícia Federal. “O cara pegou cocô e passou na carta, com a intenção mesmo de provocar”, descreveu o policial. Vingança inimaginável. O caso foi registrado sete anos atrás. A fuga teria sido quando ganhou o direito de cumprir a pena em regime semiaberto. Mesmo parado, por causa da fuga, o processo continua sob segredo de justiça.
 

Fontes: Interpol, Justiça Federal, PF, STF, Comarca de Uruburetama,
Blink (jornal suíço) e Banco de Dados do O POVO. 

 

TIPOS DE ALERTA
 

> Difusão Vermelha:
Prisão para extradição.
É a mais demandada.
 

> Difusão Azul: Localização para possível extradição ou andamento de investigação (testemunhas, familiares)

 

> Difusão Verde:
Criminosos habituais (principalmente pedófilos e terroristas, não necessariamente precisam
de mandado de prisão,
porque têm alto índice de reincidência no crime)
 

> Difusão Amarela: Pessoas desaparecidas (crianças, idosos, situações de catástrofes, raptados). Há casos de pessoas localizadas que não têm interesse de reaparecer.
 

> Difusão Preta:
Identificação de cadáveres (registros de ossadas, arcadas dentárias, características físicas, DNA, objetos)
 

> Difusão Roxa: Modus operandi (difunde modos de agir dos criminosos: formas de camuflagem de drogas adotadas por quadrilhas, desde solado de sapato a fundos falsos de malas, formas de ataque terrorista, ação de pedófilos...)

> Difusão Laranja: armas dissimuladas (pistola escondida em caneta, facas em falsas bengalas)

> ONU/Interpol: Difusão de alerta sobre casos envolvendo criminosos de guerra. Não se refere a criminosos comuns. 

O que você achou desse conteúdo?