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Após caso nas Cajazeiras, CE conta pelo menos 33 homicídios
Reportagem

Após caso nas Cajazeiras, CE conta pelo menos 33 homicídios

| VIOLÊNCIA | Desde a Chacina das Cajazeiras, foram registrados matança em cadeia pública, e duplos e triplo homicídios no Estado
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Desde que um grupo invadiu o “Forró do Gago”, no bairro Cajazeiras, e 14 pessoas foram mortas a tiros, na maior chacina já registrada no Estado, os números de homicídios no Ceará só crescem. Conforme levantamento do O POVO, pelo menos mais 33 mortes foram registradas até ontem. Outra chacina (no sistema penitenciário), duplos e triplo homicídios, uso de fuzis, e sinais de tortura.
[SAIBAMAIS] 

Ainda ontem, em entrevista coletiva, representantes da Segurança Pública anunciaram que sete homens foram detidos, suspeitos de participação na Chacina das Cajazeiras. Os suspeitos foram presos durante o enterro de um homem que morreu em confronto com a Polícia. Com eles, foram apreendidos armamentos — inclusive de uso restrito.
 

“Eles se autodenominaram integrantes de uma facção, que há suspeita de ter  participação na chacina”, afirmou o titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Leonardo Barreto. Os homens foram autuados por crimes como porte ilegal de armas, organização criminosa e uso de documento falso.
 

Outro suspeito, detido no sábado portando um fuzil, também continua preso. A ligação direta deles com a chacina, entretanto, ainda não foi confirmada. Dois dos sete detidos foram liberados e o restante fará parte das investigações. 

 

“Há uma forte suspeita, mas só vamos afirmar isso quando tivermos provas técnicas e periciais”, acrescentou o delegado.
 

Exames balísticos deverão comprovar ou não que os tiros disparados saíram das armas que estavam com os suspeitos. De acordo com Leonardo Barreto, três carros também foram apreendidos nos últimos dias e serão periciados.
O titular da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), André Costa, ressaltou a importância de que haja sigilo sobre algumas informações que compõem o inquérito policial.

“Essa será a maior operação que a Polícia do Ceará fará contra facções”, garantiu. A SSPDS não divulgou, em seu site, os números de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) referentes ao domingo, 28, e ontem. Também não respondeu e-mail enviado pelo O POVO questionando o total de homicídios desde sábado.

Entre os assassinatos cometidos desde a madrugada de sábado, 17 foram no mesmo dia da chacina. Desde então, foram registrados dez homicídios na Cadeia Pública de Itapajé, um triplo homicídio de pessoas da mesma família no bairro Ancuri, um homem morto durante festa em Quixadá e um casal assassinado no Cumbuco, em Caucaia. O comandante de Policiamento Metropolitano, coronel Paulo Sérgio Braga Ferreira, afirmou que outros homicídios ocorreram na Área de Segurança Integrada (AIS) 11, da qual Cumbuco faz parte. Porém, não estava com acesso aos dados. 

 

Números

 

14  foram as vítimas da chacina das Cajazeiras, na madrugada do último sábado, 27
 

17  homicídios ocorreram na mesma noite em outros locais  

 

VÍTIMAS
 

MARIZA MARA NASCIMENTO, 37
 

Mãe de seis filhos, trabalhava vendendo lanche em frente ao Hospital de Messejana. “Só tenho coisa boa na lembrança. Muito amiga de todo mundo, fazia tudo por esses meninos”. As crianças estão com parentes. Eles tentam se recuperar da perda.

RAIMUNDO DA CUNHA DIAS, 48
 

Era com o trabalho de pedreiro que se sustentava. De acordo com amigos e vizinhos, sempre foi prestativo. “Ajudava quem precisasse dele”. Deixou três filhos entre 11 e 20 anos, que moram no Maranhão e pelo menos duas vezes ao ano visitavam o pai.

ANTÔNIO JOSÉ DIAS, 55
 

Conhecido como Marrom, todos os dias circulava pelos quarteirões vendendo cachorro-quente, suco e refrigerante. “Vamos comer, gente”, convidava. Fantasiava-se de palhaço na festa das crianças e ajudava a montar o Judas para o Sábado de Aleluia. Presidia o AA, que funcionava na escola infantil do bairro.

MAÍRA SANTOS DA SILVA, 15
 

“Era alegre, conversadeira, vaidosa e gostava de arrumar os cabelos, que eram meio encaracolados”, rememora a madrinha. Cuidava da irmã mais nova, que tem na memória os cuidados e os cabelos vermelhos cacheados de Maíra.

MARIA TATIANA DA COSTA, 17
 

Tatiana contava dois meses de gestação até ter a vida interrompida. Tinha planos de continuar os estudos para dar vida melhor ao rebento que viria e formar uma família. Queria ser promotora “pra andar chique, de saia e blusa de manga longa”.

RENATA NUNES DE SOUSA, 32
 

A produtora de eventos tinha dois filhos, um menino de 8 e uma menina de 3. Além dos planos para a família, o que chamava atenção era a alegria. “Se tinha tristeza, era camuflada”.

RAQUEL MARTINS NEVES, 22
 

“Era dona de casa, muito preocupada com a mãe. Tinha uma menina de 4 anos”. O relato resume o comprometimento de Raquel com a família.

WESLEY BRENDO NASCIMENTO, 24
 

O dia da morte de Wesley, o Netinho, coincidiu com o dia que o filho completou 1 ano e dois meses. “Ele era louco pela criança, era casado e fazia trabalho de servente. Uma pessoa de bem”, lamentou um familiar. A esposa e o filho saíram de casa. “É que essas lembranças machucam demais”, explicou.

BRENDA OLIVEIRA DE MENEZES, 19
 

Terminou o ensino médio há pouco mais de um ano e estudava para tentar Psicologia. Passou a frequentar menos o forró justamente porque estava ficando mais arriscado, de acordo com uma amiga. “Ela trabalhava e não tinha tempo ruim. Mesmo se as coisas não estavam bem, ela sorria e ajudava todo mundo. O mundo perdeu uma pessoa muito importante”, concluiu.


O POVO não conseguiu contato de familiares ou amigos das outras vítimas: José Jefferson de Souza Ferreira (21), Luana Ramos Silva (22), Natanael Abreu da Silva (25), Antônio Gilson Ribeiro Xavier (31) e Edneusa Pereira de Albuquerque (38).   

 

MARCAS


“Está vendo aquele buraco? É de um tiro, que eu escapei”, aponta uma moradora das proximidades do local onde ocorreu chacina  
 

 

SARA OLIVEIRA
saraoliveira@opovo.com.br 

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