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Após a chacina das cajazeiras, nove famílias são ameaçadas
Reportagem

Após a chacina das cajazeiras, nove famílias são ameaçadas

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Tipo Notícia


No sofá da Defensoria Pública, a idosa, de 62 anos, dormia o sono interrompido na madrugada anterior. Às 2 horas, na última segunda-feira, 29, acordou num sobressalto. Pé na porta, arma na cabeça, tiros para o alto. “Não vamos matar ninguém porque não somos da outra facção, que mata inocente. Mas viemos avisar pra sair até amanhã. Quem manda aqui agora é a gente”, ameaçaram.


O ultimato foi o mesmo dado às outras oito famílias que vivem em uma ocupação, à margem do Rio Cocó, na esquina entre as ruas José Augusto e São José, no bairro Mata Galinha. A região é dominada pela facção Guardiões do Estado (GDE), que teria planejado e executado a Chacina das Cajazeiras. 

A comunidade onde ocorreu o massacre é controlada pelo Comando Vermelho (CV).
 

Em retaliação, faccionários avançaram contra áreas rivais. “O problema é que eles dizem que somos da GDE, mas não somos nada. Somos cidadãos”, desabafa um dos moradores. O local é considerado ocupação irregular. 

 

Moradores alegam que, em 2009, a Prefeitura fez a proposta: removê-los para residenciais do Minha Casa, Minha Vida, ou indenizar os imóveis. O valor não foi informado.
 

Aqueles que optaram pelo apartamento, saíram. Os que permaneceram, aguardam pela indenização desde 2012, quando o acordo foi firmado. Em 2017, porém, criminosos passaram a utilizar os escombros das casas desabitadas para se abrigar. Os primeiros tiroteios começaram em outubro. 

 

“Eles vinham lá das Cajazeiras e trocavam tiros com eles aqui. A gente serve de escudo porque, na verdade, só as nove famílias moram aqui”, conta outra testemunha.
 

Após a chacina, porém, membros do CV foram até o local, picharam paredes e afirmaram que o local estava tomado. “Na manhã seguinte, liguei na Ciops e uma viatura foi escoltar nossa mudança.Alguns permaneceram. Queremos que a indenização saia ou o aluguel social até lá, pra pagar uma moradia digna”.
 

Somente nas duas últimas semanas, o Núcleo de Habitação e Moradia da Defensoria estima ter atendido 40 famílias, tendo encaminhado à Prefeitura e Governo pedidos de aluguel social e demais políticas cabíveis. É que o processo, que era do Município, teria passado ao Estado, com a revitalização do Cocó.
 

Segundo a defensora-geral, Mariana Lobo, a procura é quase diária e a instituição trabalha em conjunto com a Secretaria Municipal do Desenvolvimento Habitacional, com as secretarias das Cidades, Segurança Pública e Vice-Governadoria. As principais medidas adotadas são abrigamento provisório, concessão de aluguel social e garantia de outros direitos, como acesso à escola, saúde e trabalho.
 

“Elas enxergam a Defensoria como uma retaguarda de direitos. Não procuram a Polícia porque têm medo. E cada caso tem sido trabalhado de forma específica. Atuamos como pontes de articulação e encaminhamento para políticas públicas existentes. E quando essa política pública não existe, a gente tenta construir”, disse Mariana.  

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