Especialistas consideram essa mudança no perfil como mais um “efeito Lava Jato”. “Especialmente em Brasília, no Rio e em Curitiba”, afirmou o procurador da República Andrey Borges de Mendonça. Foram justamente operações como a Lava Jato, Greenfield, Acrônimo e Zelotes que, a partir de 2015, deram outra dimensão aos prejuízos investigados pela PF.
Desde então, as organizações envolvidas em crimes fazendários deixaram de ocupar o primeiro lugar do ranking dos prejuízos. Caíram para o quarto lugar em 2016. Acabaram ultrapassadas pelos delitos financeiros e pelo desvio de verbas públicas, além dos crimes ambientais. “Há uma demanda maior de apuração dos delitos ligados à corrupção, há uma preocupação social, o que pode ter levado as autoridades dos diversos órgãos a dar um enfoque especial para esses delitos”, afirmou Mendonça.
Em 2014, a PF havia apurado prejuízos de R$ 198 milhões ligados a desvios de verbas. No ano seguinte, esse valor subiu para R$ 2,5 bilhões e chegou a R$ 18,7 bilhões em 2016. Os crimes financeiros saíram de R$ 2,72 bilhões (2014) para alcançar R$ 51,6 bilhões em 2016. Já os fazendários, que somavam em 2014 R$ 3,2 bilhões, registraram R$ 9,1 bilhões no ano passado.
Os delitos ambientais - garimpos ilegais de ouro ou pedras preciosas, desmatamento ilegal e fraudes na licença de pesca - movimentaram no mesmo período no País R$ 10,9 bilhões, excluído da conta o prejuízo de R$ 20 bilhões contado pela PF em razão do rompimento da barragem da mineradora Samarco, em Mariana, Minas, em 2015.
Para o juiz aposentado e especialista em crime organizado Wálter Maierovitch, a Lava Jato só foi possível por causa da Convenção de Palermo, feita pelas Nações Unidas para o combate ao crime organizado. “O Brasil depois de anos adotou um tipo penal atendendo à convenção”. (Agência Estado)