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A cara da cidade
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A cara da cidade

Daniel Arruda, idealizador do monumental BS Design, defende prédios altos e conta como tropicaliza referências
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Daniel Arruda é arquiteto e esteve no programa Mercado Imobiliário da rádio O POVO CBN
 (Foto: Mateus Dantas)
Foto: Mateus Dantas Daniel Arruda é arquiteto e esteve no programa Mercado Imobiliário da rádio O POVO CBN

Uma obra arquitetônica pode receber influências e se inspirar na cultura de uma cidade. Um bom profissional vai saber identificar e extrair das raízes culturais tudo o que for necessário para construir um empreendimento inovador e com a cara de determinada região. Com isso em mente, o arquiteto Daniel Arruda desenhou o BS Design, da BSPAR Incorporações, inaugurado no final do mês de março, uma obra com formato de velas de jangada em sua estrutura.

O BS Design tem praças abertas e recebeu certificação A , a mais alta graduação de qualidade internacional, e também uma pré-certificação LEED, voltada para questões ambientais. Além do BS Design, Daniel já visa novos horizontes. "Estamos com um projeto de construir um prédio de 50 andares, da Colmeia, e que ficará ali em frente ao Riacho Maceió. O projeto encontra-se aprovado e já estamos iniciando as obras", completa o arquiteto. Daniel conversou com O POVO sobre arquitetura e outros projetos.

O POVO - Quando o senhor viaja o mundo e vê as tendências lá de fora, o que significa trazê-las para uma arquitetura que se propõe a ter personalidade?

Daniel Arruda - Quando a gente viaja, vemos muitas coisas interessantes. A ideia de trazer toda essa tecnologia e essas visões diferentes acaba se tornando um desafio por causa da nossa história, nossa economia e das nossas tecnologias. Então você meio que precisa tropicalizar muita coisa. A história do nosso escritório vem muito disso, buscar inovar e fazer projetos arrojados voltados para a nossa realidade de mercado.

OP - O que significa tropicalizar uma arquitetura?

Daniel - Primeiramente há a questão do clima, da cidade e as particularidades de cada região e estilo de vida, de como as pessoas interagem com as cidades etc. Outra questão, quando falamos em tropicalizar essas tecnologias, é você buscar utilizar aquela tecnologia que você já é acostumado a usar, que você já tem uma mão de obra especificada, tornando mais fácil trabalhar com uma tecnologia já existente no País. É mais difícil trazer essa mão de obra de fora.

OP - Como se consegue tropicalizar sem ficar num limbo de conceito?

Daniel - A arquitetura cearense exige muito disto. Nós já temos uma grande luminosidade de graça, uma ventilação de graça, então a gente procura utilizar isso nos projetos de forma natural. Este é o grande norteador do início dos projetos arquitetônicos na região nordeste como um todo.

OP - Quando o senhor faz um projeto que traz traços de Dubai, por exemplo, como isso conversa com a arquitetura local?

Daniel - Dubai é referência em algo inovador, sendo sua arquitetura moderna e de ponta. Quando fazemos projetos com esses traços, não é buscar trazer sua arquitetura para Fortaleza, e sim fazer uma arquitetura diferenciada, com designs inovadores. Temos trabalhado com umas formas mais inovadoras, principalmente agora com a possibilidade de a gente fazer prédios altos, aproveitando a mudança na legislação, o que nos permitiu fazer uma nova arquitetura. Fortaleza agora irá passar por uma nova era de engenharia e arquitetura com estes prédios altos, então o Skyline da cidade irá mudar. Para isso, fomos buscar referência e entender um pouco como é que se constrói um prédio de 170 andares, por exemplo, que é totalmente diferente do que construir um prédio de 23 andares.

OP - Certamente não haverá um prédio de 100 andares por aqui, correto?

Daniel - Sim. O máximo hoje que a cidade permite, devido a limitação do Comar (Comando Aéreo Regional), é em torno de 170 metros, o que seria aproximadamente 50 andares.

OP - Há alguns prédios que se chamam edifícios pontes. Neste tipo de introdução de conceito, de que forma isso se dá num projeto?

Daniel - Isso parte também muito das características de cada projeto. A ideia macro de um edifício ponte é liberar algo embaixo da edificação que você queira usufruir. Normalmente nós temos trabalhado muito no conceito de praças públicas, e exemplo disso é o próprio BS Design e o Ícone de Juazeiro. Esse conceito é chamado de Quadra Aberta, que é um conceito de urbanismo mundialmente conhecido e utilizado. Então nós trouxemos também este conceito, principalmente neste conceito dos edifícios pontes, porque aí você trabalha uma praça pública e a edificação passa por cima. No nosso caso ela sombreia, ajudando também a climatizar um pouco a praça e permite as pessoas de usufruírem do projeto, sendo um projeto privado mas de uso público.

OP - Ou seja, é um projeto privado mas de uso público?

Daniel - Sim. A ideia é que o projeto seja 24 horas. A exemplo do BS Design, as torres comerciais fecham normalmente mas existe uma vida própria na praça, independente da torre comercial, com os restaurante e tudo mais. Isso é o mesmo conceito lá de Juazeiro e o mesmo de Teresina. Normalmente a praça tende a acontecer mais a noite, que é quando morre a torre comercial.

OP - O senhor também tem projetos de bairros planejados. Como é esse mercado de bairros planejados e quais o projetos que o senhor tem hoje em desenvolvimento?

Daniel - Hoje nós temos três projetos de bairros planejados, dois em Fortaleza e um em João Pessoa. Aqui em Fortaleza já temos um implantando, que fica ali em frente ao RioMar Kennedy, mas ainda não está aberto. Foi feito uma rua central que ligará os dois shoppings da região e ela passa bem no meio do empreendimento. Nós conseguimos denominar essa rua de Boulevard Cearense, além de outras ruas próximas. Iremos fazer um evento para abrir o bairro, e já estamos trabalhando em um empreendimento residencial que vai ser o primeiro residencial desse bairro planejado.

OP - Em termos de bairro planejado, o senhor vislumbra o que exatamente?

Daniel - Analisando não só o bairro planejado, mas o mercado como um todo, o estoque ainda está muito alto, falando um pouco de Fortaleza. O mercado tem que baixar um pouco para se falar realmente em grande volume de lançamento, mas a tendência que a gente tem trabalhado são os extremos: ou muito alto padrão, no sistema de condomínio fechado, ou então o Minha Casa Minha Vida. Normalmente estes são os dois projetos que estão andando no país, sendo a classe média a que mais sofreu com esta crise. Aqui estão concentrado os grandes maiores estoques.

OP - O mercado imobiliário do Ceará é pouco ousado no ponto de vista do urbanismo?

Daniel - Eu não diria pouco ousado. Nós temos uma característica da cidade em que a gente vive hoje cotidianamente que é a questão da insegurança. Cada vez mais os condomínios estão se fechando, e isto é uma realidade na qual não podemos ir contra. Mas nós temos procurado desenvolver alguns projetos que quebram um pouco este paradigma. Por exemplo o próprio BS Design, o Ícone lá de Juazeiro, sendo este um empreendimento misto de comercial com residencial num conceito de quadra aberta. Por quê isso? Quando você bota gente na rua, você gera maior segurança. Quando você incentiva a criação dos usos mistos, você gera vida na cidade. E aqui em Fortaleza há esse problema de não haver o incentivo dos usos mistos. Você tem o residencial puro, o comercial puro, e se nós tivéssemos isso, os residenciais com um comércio embaixo, a cidade começa a ter vida.

OP - O prédio mais alto tem quais impactos positivos na sua defesa?

Daniel - Eu sou fã dos prédios mais altos e vou explicar. Primeiro, quando eu faço um prédio mais alto eu desadenso em baixo, e com isso eu gero mais áreas de recuo para o entorno do empreendimento. Isso faz com que a nossa ventilação permeie tanto para o empreendimento, quanto para os empreendimentos vizinhos. Com isso, eu também consigo utilizar mais a questão das vistas, ou seja, o prédio se torna até mais visto e permite que os prédios do seu entorno, também sejam vistos. Ele acaba se tornando uma gentileza urbana para o entorno de onde ele está sendo inserido.

OP - Existe um conceito de que prédios na Beira Mar esquentam a cidade, embora ele tenha sido desmentido várias vezes. O que o senhor diria sobre?

Daniel - A nossa ventilação não vem da Beira-Mar, e sim da Praia do Futuro já que ela é leste-sudeste. Lógico que na Beira-Mar existe uma brisa natural do mar, que chega por ali, mas a nossa ventilação não é exclusiva disso. Se criássemos prédios por ali pela Praia do Futuro, aí sim seria um problema maior.

OP - O senhor destacou um aspecto positivo na mudança da legislação que foram os prédios mais altos. O que o incomoda nessa mudança?

Daniel - Na legislação nós temos que ter alguns limites que por si só já são impostos pela legislação. Não é qualquer terreno que eu consigo implantar um prédio de 50 andares, por conta do recuo, por conta das vagas de garagem e uma série de outros fatores. Então os próprios indicadores da legislação já vão limitar tudo isso. Cada terreno tem a sua particularidade e aí a gente analisa o que cabe, ou não, levando em conta todos estes princípios.

 

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Projetos

Atualmente Daniel possui três projetos de bairros planejados, dois em Fortaleza e um em João Pessoa. Aqui em Fortaleza já existe um em implantação, localizado em frente ao RioMar Kennedy, mas que ainda não foi aberto. Por lá, haverá uma rua central que ligará os dois shoppings da região (RioMar e North Shopping) e que passará bem no meio de um empreendimento. A rua será considerada uma "Boulevard Cearense", e também abarcará outras ruas próximas. "Iremos fazer um evento para abrir o bairro, e já estamos trabalhando em um empreendimento residencial que vai ser o primeiro residencial desse bairro planejado" explica Daniel Arruda.

em Fortaleza

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