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Contra falsos anúncios

O presidente do Creci Tibério Benevides fala sobre cuidados com falsos anúncios imobiliários
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O processo de compra de um imóvel pode transformar o sonho de ter a casa própria em um pesadelo. Segundo Tibério Benevides, corretor, diretor de imobiliária e presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis (Creci-CE), existem muitos falsos anúncios para fisgar clientes sem conhecimento das armadilhas disfarçadas de placas imobiliárias reais. Essas trapaças prometem preços fantasiosos ou nem sequer existem os imóveis. É principalmente nesse cenário que deve ser lembrado os cuidados necessários para que a transação seja feita de forma segura.

 

Com 35 anos de experiência, Tibério ressalta que é essencial a escolha de um corretor de confiança e credenciado. Em entrevista a Jocélio Leal, no programa Mercado Imobiliário na Rádio O POVO/CBN, Tibério também traz detalhes sobre a atuação do Creci contra anúncios falsos, a mudança de perfil dos corretores e suas impressões sobre o atual momento do mercado.

 

O POVO - Qual a sua leitura do cenário que para muitos ainda é uma transição após a imensa crise?

 

Tibério Benevides - Na verdade, ainda estamos em uma fase de transição, o dinheiro voltou aos bancos. Os bancos estão com taxas competitivas. Algumas construtoras estão com estoque ainda, estão dando algum desconto e o momento é esse para se comprar um imóvel. Aproveite o financiamento que a gente não sabe se em maio, junho, julho do ano que vem vai estar abaixo de nove, como está hoje. Todos os bancos, inclusive os particulares. Para você ter ideia, banco particular nesse semestre, ele emprestou um volume quase tão grande quanto a Caixa e menos imóveis, quer dizer que atingiram outra faixa. A Caixa continua com o Minha Casa, Minha Vida e imóveis até R$ 500 mil e R$ 600 mil, continua sendo a sua expertise, embora imóvel com FGTS já esteja a R$ 850 mil para nós aqui do Ceará. Tudo indica que estão querendo antecipar o que está previsto para janeiro sobre imóvel pelo sistema do FGTS, nós temos dois tipos de financiamento a R$ 1,5 milhão.

 

OP - O senhor tem um histórico de ter sido sócio de imobiliárias maiores. Hoje, você está trabalhando em um mercado mais focado. Qual é a vantagem de se trabalhar nesse modelo hoje?

 

TB - Eu trabalhei por muitos anos em imobiliárias boas e grandes em Fortaleza, também já tive imobiliária. Por último agora, quando eu saí do meu amigo Paulo Angelim, nós montamos uma imobiliária, mas eu cheguei a conclusão de que depois de 35 anos lidando com a equipe de vendas, eu preferia fazer o meu trabalho, junto com o meu sócio e mais duas corretoras mais focado em um atendimento, digamos, mais dirigido. Focando em montagem de negócios, de desenvolvimento de empreendimentos. Passei oito anos, nós chegamos a ter 380 corretores. Era de domingo a domingo, não tinha hora para nada. Foi muito bom, a gente aprende muito e faz muita amizade. Foi 99% bom, teve alguma coisa negativa, mas a gente esquece.

 

OP - Qual é o comportamento hoje do consumidor que vai ao corretor tratar com vocês sobre compra? Ele está mais exigente? Mais atento?

 

TB - O mercado está um pouco atrapalhado pelos corretores mesmo. Tem uma construtora com um apartamento de R$ 1,2 milhão, aí um corretor para pegar um cliente como isca, anuncia esse imóvel por R$ 900 mil. Chega na construtora e não é, aí começa aquela briga e vai para outro canto. Mas ele já fez o cliente assinar uma relação de imóveis que ele iria mostrar, acaba que o cliente vai ter que entrar na realidade dele. Porque alguns descontos que as empresas deram e algumas ainda estão praticando é o preço de custo, não tem mais como diminuir nada. Senão é melhor dar os imóveis, entendeu? Está muito difícil. A gente está tentando regular isso, estamos com uma parceira com a Agefis (Agência de Fiscalização de Fortaleza), com o Sinduscon/CE (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado do Ceará), com o Decon (Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor). Nós vamos fazer alguns convênios para a gente conseguir acabar com esses anúncios fake.

 

OP - Então, além das fake news, o mercado ainda sofre com os falsos anúncios?

 

TB - Falsos anúncios só para captar os clientes. No momento, o cliente já caiu mais na realidade. Antes, ele estava na ilusão de que com R$ 500 mil, ele poderia comprar um imóvel de R$ 800 mil. Ele não pode, porque ele não tem renda, então não tem como pagar. O corretor fala "não, vamos lá, vamos fazer uma proposta". O corretor tem que ter consciência, porque o cliente acaba enjoando daquele atendimento, ficando com raiva, aí acaba sem atender quem trabalha sério também. No final, desgasta a categoria toda. É complicado, já tem muito corretor. Muitos já saíram, mas também tem muitos entrando, eu espero que de melhor nível, porque a gente está no Creci em uma batalha constante de treinamento, inclusive com um convênio com o Creci de São Paulo. Estamos fazendo grandes cursos. Dois meses atrás, nós recebemos do Tribunal de Justiça um pedido de indicação de avaliadores peritos. Esse curso nós já fizemos duas turmas em Fortaleza e terminou uma agora no Cariri. Está valendo, não é uma avaliação barata e o curso é grátis para os corretores que estão em dia com o Conselho.

 

OP - Como o cliente pode identificar e se defender de um anúncio falso?

 

TB - Semana retrasada, chegou um construtor no Creci com 168 impressos sobre um empreendimento dele no Beach Park e ele só tem 20 para vender. Uma só empresa tinha 58 e todas abaixo do preço que ele vende. O menor preço dele é R$ 640 mil ou R$ 650 mil, depende da posição. Tinham anunciado por R$ 500 mil. É muito fácil, o cliente identifica porque esmola grande o cego e o santo desconfiam. O doutor Jaime de Paula Pessoa (delegado de defraudações e falsificações) esteve no Creci este ano dizendo que tinha 830 processos de falsificação de documentação, isso há quatro meses. E ele disse "tem só oito ou dez com corretor envolvido, por desconhecimento". Não foi por desonestidade. Então, são procurações falsas, matrículas. O cliente tem que procurar um corretor credenciado, com experiência, tanto faz ele ser de imobiliária ou autônomo, mas não acreditem nesses anúncios de graça, porque é armadilha. Tem gente que está pagando aí R$ 50 mil de sinal e o imóvel nem existe.

 

OP - O sujeito é corretor de imóveis, fez o curso em outro estado, veio para cá e tem que ter registro no Creci do Ceará para atuar?

 

TB - Ele tem que tirar uma secundária. Ele vai transferir o Creci. Por exemplo, ele é do Piauí, mas ele só transfere para cá se estiver em dia, pega a vida pregressa dele lá, punições por ética e a gente pode rejeitar. Mas é normal. É uma coisa que muitos reclamam, "eu não posso ir ali em João Pessoa". Eu já fiz negócio bom em João Pessoa e não fiz parceria. Você chega na terra dos outros e vamos respeitar quem conhece.

 

OP - Qual é o perfil de quem procura a profissão de corretor?

 

TB - Antigamente, há 35 anos, quando eu comecei, o pessoal dizia "foi ser corretor porque não deu para nada". A verdade era essa. Hoje em dia, dos últimos seis anos para cá, melhorou muito. Dos 45% a 50% já tem nível superior. Tem muito advogado, tem muito engenheiro. No boom imobiliário, até médicos tiraram o Creci para comprar imóvel sem o corretor receber comissão. Mas isso é passado, então deixa para lá. Cada vez mais, o nível de quem está entrando está mais elevado. A gente tem notado, por isso a gente tem dado continuidade ao trabalho que o Apolo (Scherer, ex-presidente do Creci-CE) iniciou de educação continuada. Em São Paulo, Rio, Minas, Brasília. Todos nós nos preocupamos porque dizem que a profissão de corretor vai acabar. Já acabou para alguns que não se modernizaram. Você pode até comprar um carro e equipar pela internet, na hora de receber na loja, tudo bem. Mas um imóvel tem detalhes, tem posição, tem documentação, a pior parte é a documentação. Se o cliente soubesse que a comissão é barata de quem compra e de quem vende, porque é um risco altíssimo, então nós qualificamos os nossos profissionais. Agora nós estamos com curso de drone, de mídia digital. Antes, fazíamos para todos. Hoje, só para quem está em dia com o Conselho.

 

OP - São quantos corretores na ativa no Ceará?

 

TB - Na ativa, são uns 11.500. Mas que estão em dia com a instituição, tem uns 5.100. Esses que estão aptos a exercer a profissão. De 2015 para cá, nós temos um passivo de R$ 15,3 milhões. É muito difícil, mas nós vamos dar um jeitinho de receber. 

 

Como se tornar um corretor

É preciso ter a formação de, no mínimo, Ensino Médio, concluir a formação no curso Técnico em Transações Imobiliárias e se credenciar no Conselho Regional de Corretores Imobiliários. Para mais informações, ligue 3231-6744 ou acesse a aba Escolas Autorizadas no site creci-ce.gov.br, na qual tem uma lista de locais especializados no curso TTI.

 

Como se proteger de anúncios falsos

Antes de contratar o serviço de um corretor, é possível pedir sua carteira de credenciamento do Creci para conferir a sua regularização com a instituição. Outra opção é fazer uma busca com o nome dele no site do Conselho, onde vai aparecer também seu CPF, seu número de registro e sua foto. Apenas profissionais credenciados são autorizados para desempenhar a função de corretor.

 

 

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