Logo O POVO+
O valor da natureza
Pop-Imoveis-E-Construcao

O valor da natureza

Magda Maya e Irineu Guimarães explicam como o investimento na sustentabilidade é o futuro do mercado imobiliário
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
FORTALEZA, CE, BRASIL, 27-03-2019: Magda Maya e Irineu Guimarães. Fotos para o caderno Mercado Imobiliario. Santos Dumont 2626 - Aldeota. (Foto: Aurélio Alves/O POVO) (Foto: AURELIO ALVES)
Foto: AURELIO ALVES FORTALEZA, CE, BRASIL, 27-03-2019: Magda Maya e Irineu Guimarães. Fotos para o caderno Mercado Imobiliario. Santos Dumont 2626 - Aldeota. (Foto: Aurélio Alves/O POVO)

Valorizar a natureza é sim motivo de lucro na área imobiliária. Esse é o trabalho que a doutora em Desenvolvimento e Meio Ambiente e diretora da empresa Geoanalysis, Magda Maya, realiza. A profissional mostra como a preservação da fauna e flora natural do terreno reduzem custos e aumentam a valorização do empreendimento, ao contribuir para o bem-estar do morador e, claro, do meio ambiente.

CEO da BLD Urbanismo, Irineu Guimarães revela no programa da Rádio O POVO CBN, Mercado Imobiliário, como o trabalho de Magda tem sido implantado e comenta os frutos desse investimento. A empresa pretende lançar, ainda este semestre, o empreendimento Vert, no Eusébio, e trabalha no desenvolvimento do Azur, na mesma região. Ambas construções seguem o conceito de loteamento fechado, regulados pela associação de proprietários e totalmente voltados a preservar a natureza original do lugar.

O POVO - Em que consiste o trabalho que a Geoanalysis faz de medir os ativos ambientais de um projeto imobiliário?

Magda Maya- A valoração de serviços ecossistêmicos não é exatamente algo novo, ela está desde o início dos anos 2000 sendo trabalhada em todo o mundo. Mas aqui no Brasil, às vezes, a gente chega um pouquinho depois. E a gente está aplicando pela primeira vez no Ceará em um empreendimento, justamente por conta dessa dificuldade, dessa falta de visão da maioria dos empreendimentos em medir, valorar, todos esses benefícios que a natureza viva pode trazer para as pessoas. A valoração do serviço ecossistêmico é uma metodologia pensada para o bem-estar humano, e esse bem-estar está atrelado à manutenção da natureza viva.

OP - Vamos tentar traduzir para leigos. Uma árvore vale quanto?

Magda - Depende do que você está me perguntando. É o valor cultural, valor ambiental ou valor monetário? É possível dar vários tipos de valores para as árvores. No caso da Austrália, a cidade de Camberra conseguiu economizar, e aí é valoração de custo evitado, 40 milhões de dólares ao plantarem 450 mil árvores em toda a cidade. Como que esse custo foi evitado? Foi em redução de manutenção de infraestrutura de ruas. E, por exemplo, os serviços ecossistêmicos de uma árvore vão desde a sombra, que é a mais conhecida, até o amortecimento das águas das chuvas, ela reduz essa pressão da chuva sobre o solo. Ela reduz poluição atmosférica, reduz poluição sonora, promove bem-estar para quem está próximo, fora a função dela ecossistêmica propriamente dita, por vezes, espantar determinados vetores. Então, uma árvore vale tanto que eu não consigo te dizer um número preciso agora.

OP - Os senhores da BLD contrataram esse trabalho da Geoanalysis para fazer esse trabalho lá no Eusébio em um projeto Azur. O que levou a empresa a investir nesse tipo de cálculo?

Irineu Guimarães - Eu acho que vem muito do DNA da empresa. Acho que tanto o BLD, que tem uma atuação forte na área imobiliária, quanto o Grupo Cenergias, que é o grupo que investe conosco. O Grupo Cenergias, para quem não conhece, é precursor das energias renováveis aqui, liderado pelo Armando Abreu e pelo Gustavo Silva. Eles já atuam na geração de energia, geração centralizada, participavam de leilões, e quando a gente quis imprimir um padrão superior no nosso empreendimento, que é um loteamento fechado, a gente chama empreendimento boutique, porque tem muito investimento em arquitetura, em urbanismo e design, e também em sustentabilidade. Quando a gente resolveu criar o conceito do Azur, pensou em tudo, na questão do urbanismo, nós temos uma área nobilíssima do terreno, de frente para o lago, onde a gente preservou e criou um bosque natural.

OP - Quando um empreendimento contrata a Geoanalysis, ele contrata para que a senhora faça um estudo do que ele tem de ativo ambiental. A quem se destina o trabalho de vocês?

Magda - Existem três possibilidades, por assim dizer. Da forma que você falou, a natureza como ativo econômico, a gente está falando de capital natural. A gente consegue valorar o capital natural de um empreendimento sim. No caso do Azur, não é essa a lógica. A lógica é de serviços ecossistêmicos. Eles, por opção, fizeram o processo de licenciamento deixando tudo preservado, como tem de ser, e muito além disso, mesmo que não tenha sido exigência legal, por exemplo, é só um exemplo, se eles tiveram que suprimir 100 árvores, eles plantaram 300. No mesmo local. Ou seja, você compensa natureza com natureza. Então, por exemplo, alguém que tem que fazer um prade, que é a recuperação de uma área degradada, normalmente se recupera uma área degradada como? Pagamento de multa ou com doação de mudas, por exemplo. Dentro da valoração de serviço ecossistêmico você vai compensar natureza com natureza. E aí, no momento em que você altera aquele ecossistema, várias outras situações vão ocorrer, e essa valoração é para entender. Então, tem uma lagoa dentro do Azur, certo? Como se dá a interação entre os elementos que estão lá? As aves, os anfíbios. Tudo isso é valorado de modo que possa haver uma convivência harmônica com os futuros moradores do loteamento com esse ambiente natural. Então, para o Azur, a gente trabalha nessa lógica, não entra na lógica do "economiques" que eu chamo. Mas é possível trazer para o "economiques" sim. E, por fim, tem a questão do pagamento por serviços ambientais. Então, uma pessoa hoje, com uma grande fazenda, não necessariamente precisa investir em agricultura, ela pode fazer uma fazenda de água. E aí ela vai receber pagamento por serviços ambientais, já existe legislação para isso. Ou seja, já se entendeu que natureza boa é natureza viva, de pé, e a gente mostra, por meio desses cálculos, dessas fórmulas, que vale a pena manter essa natureza viva.

OP - Com tudo que já foi estudado no Azur, que ações vocês já chegaram a definir em função das recomendações do estudo feito pela Geoanalysis?

Irineu - Além das ações primárias, que eu acho que é comum a todos os empreendimentos, como o piso intertravado, que permite a permeabilidade, questão de utilização de energia solar, passagem de fauna, a gente está trabalhando também com a parte permanente que se lida com a valoração dos serviços ecossistêmicos, a questão da recuperação da qualidade da lagoa, utilizar lâmpadas de led de baixo consumo, telhados verdes, horta comunitária, tudo em andamento. A gente está terminando a infraestrutura agora e, como a Magda colocou, agora é a hora da gente começar a implantar essas práticas. Quando o ambiente de obra terminar um pouco, a gente vai entrar em paisagismo e começar a implementar essas práticas, já visando entregar para a associação dos próximos proprietários.

OP - Muitas vezes se tem um empreendimento que o mercado fica só ligado no preço, e não vê para além disso. O mercado paga por isso?

Irineu - Com certeza o mercado é valor agregado. Se você trabalhar bem, passa a ser valor percebido. E eu não gostaria de dizer isso, porque é um segredo comercial, mas vou revelar aqui que é uma coisa irrisória frente ao volume geral de vendas do empreendimento. Incluindo o paisagismo, para também não revelar o número exato, é bem menos de 1%. Então, você imagina que você trabalha, o imóvel não é um produto perecível, o mercado imobiliário é um mercado também patrimonial, ou seja, é o patrimônio das pessoas que está ali. Imagina um empreendimento desse como o Azur, como o Verde, daqui a 10 anos. Vou brincar que vai ser o principado de Mônaco dentro do Eusébio porque você tem várias espécies, endêmicas e não endêmicas, para quem não sabe, a gente colocou lá recentemente as famosas Carnaubeiras, vou colocar Ipês amarelos…

OP - A senhora não tem outro projeto semelhante no Ceará?

Magda - Na área imobiliária, não.

Irineu - Acho que os projetos turísticos já pensam mais nisso, os resorts…

Magda - Mas é muito sob a ótica da insegurança jurídica.

Veja vídeo

Confira entrevista na íntegra: http://twixar.me/cM0K

BLD além do Eusébio

- Região da Sabiaguaba: o projeto no entorno do Pecém

-Barra do Cauípe: uma área de quatro milhões de metros.

-Região metropolitana de Belém: área de 10 milhões de metros, são mil hectares.

O que você achou desse conteúdo?