Logo O POVO+
As possibilidades dos alimentos
Pop-Empregos-E-Carreiras

As possibilidades dos alimentos

Pesquisa abre oportunidades em áreas multidisciplinares. Indústria cearense absorve profissionais da área
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
A professora Juliane Gasparin (ao centro) orienta o grupo de alunos da UFC (Foto: CAMIla de almeida)
Foto: CAMIla de almeida A professora Juliane Gasparin (ao centro) orienta o grupo de alunos da UFC

Para inovar no mercado, o diálogo das empresas com as pesquisas acadêmicas é uma forma de não só trazer novos produtos, como melhorar processos. No ramo alimentício não é diferente, e o Ceará se configura como um espaço de discussão e desenvolvimento para que novidades cheguem aos consumidores.

Na Universidade Federal do Ceará (UFC), um grupo de estudantes do curso de Engenharia de Alimentos foi vencedor da Competição de Talento e Inovação das Américas (TIC Américas), na categoria Eco-Desafio de Nutrição, realizada em junho último, na cidade de Medellín, na Colômbia. O grupo superou outras 5.106 propostas de 41 países e saiu com um prêmio de US$ 5 mil.

Intitulado TropFir, o projeto consiste na produção de um kefir, tipo de bebida fermentada feita a partir do leite de cabra, rica em proteínas e com alta concentração de bactérias probióticas, que auxiliam no funcionamento do intestino. Junto a ele, são adicionadas frutas tropicais para enriquecer o produto com antioxidantes e vitaminas, que o torna um produto nutritivo a um valor acessível.

O objetivo do grupo agora é investir no patenteamento do TropFir, firmar parcerias com produtores locais de leite de cabra, com o Estado, outras cidades e empresas de laticínios. "O setor de laticínios, frequentemente, lança novos produtos no mercado. O Ceará possui empresas de médio a grande porte que encontram-se em expansão", comenta Juliane Gasparin, professora orientadora do grupo.

A equipe é formada pelos estudantes Nhaiara Monteiro, Augusto Santos, Carlos Natyell dos Santos, Fernando Eugênio Teixeira, Alana Uchoa e Samara Patrício, além das técnicas do laboratório de laticínios Francisca Lívia e Gizele Almada.

De acordo com Augusto Santos, a inscrição no concurso foi feita "sem maiores pretensões", pois era a primeira vez que um projeto do Departamento de Engenharia de Alimentos entrava na competição. "Embora tivéssemos esperança de vencer, gerenciamos as expectativas e decidimos manter um processo de treino para defesa do projeto e apresentação do modelo de negócios", conta.

Para saborizar o TropFir, as frutas selecionadas foram goiaba, acerola, manga e caju com pitaia. Com a consolidação do produto, novos sabores serão inseridos no futuro. O valor final do TropFir, sem o custo da embalagem, deve ficar na casa dos R$ 7. Além do aprendizado com a pesquisa em geral, o grupo também relata ter se beneficiado do desenvolvimento de habilidades como liderança, empreendedorismo, oratória e convencimento do público.

Renda

Salário médio de um engenheiro de alimentos

R$ 4.083,74

Fonte: Catho

Pesquisadores e empresas

Por meio de rodadas de inovação, o Sistema Fiec une relacionamentos entre pesquisadores e potenciais empresas que poderão inserir os projetos no mercado. A área de alimentos no Ceará tem participação relevante no cenário nacional, e cerca de 12% da produção é levada para o mercado externo, de acordo com Guilherme Muchale, gerente do Observatório da Indústria da Fiec.

"Do ponto de vista social, são mais de 34 mil empregos gerados na indústria de alimentos, somente na parte industrial. É importante que nossa academia se volte para ela. Nós temos mais de 105 grupos de pesquisa nas universidades cearenses", relata Muchale.

Um dos principais objetivos de facilitar o contato entre academia e empresas é a chamada "transferência de tecnologia", que permite que conhecimentos que auxiliem problemáticas possam ser transferidos de uma instituição para uma indústria, por exemplo. "Isso está ainda em um momento embrionário, ainda não temos muitos cases. Temos usos da infraestrutura laboratorial, testes, atividades menos complexas, mas a transferência tecnológica de fato está sendo rodada em pilotos", conta Guilherme.

O diretor espera que a parceria e transferência de tecnologias de projetos já em andamento ocorra nos próximos meses. O setor de alimentos se configurou como um piloto e outros segmentos de pesquisa também devem ser inseridos no futuro próximo. Assim, será possível trazer ao Ceará diálogos entre pesquisas com assuntos afins, além da possibilidade de inovações como tecnologias mais limpas e eficiência energética.

Carreira na pesquisa

Com mais de 20 anos de carreira, o engenheiro de alimentos Fernando Abreu já possuía alguns anos de prática antes de se voltar para a pesquisa acadêmica. Aliando o conhecimento teórico com o cotidiano de trabalho na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o engenheiro tem foco no desenvolvimento de tecnologias industriais de frutas tropicais, como o coco e o caju.

Um dos projetos mais recentes de Fernando foi o desenvolvimento da cajuína em lata, lançada no mercado em 2018. Tradicional da região Nordeste, o produto ganhou nova roupagem e forma de ser armazenado. De acordo com Fernando, o interesse pelo fruto ocorreu após perceber que a castanha do caju sempre foi a parte mais valorizada, o que o levou a pesquisar sobre as possibilidades com o pedúnculo.

Em relação ao mercado cearense, Abreu explica que percebe nas empresas e indústrias locais interesse em ter pesquisadores entre seu corpo de funcionários. "O engenheiro é moldado para pegar as ferramentas científicas e aplicar para desenvolver tecnologias e as indústrias estão precisando disso hoje. A indústria cearense está em nível internacional. Vejo indústrias aqui com dois, três, quatro engenheiros de alimentos."

Precisão nas informações

No setor de alimentos, outras áreas também podem estar envolvidas. No caso de Débora Alves, estudante do curso de Farmácia na Universidade de Fortaleza (Unifor), foi o interesse pela bromatologia, a ciência dos alimentos, que inspirou a criação da empresa júnior PolifarmaJr.

Fundada no fim de 2018, a empresa tem como principal atividade a rotulagem nutricional dos alimentos. O foco, comenta Débora, também presidente da PolifarmaJr, está nos pequenos produtores. Requerida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a rotulagem traz todas as informações nutricionais do alimento, como valores de carboidratos e proteínas.

O serviço custa a partir de R$ 80, a depender da complexidade. Existe também a possibilidade realizar uma adequação. Caso os dados solicitados sejam somente do recheio de um brownie, por exemplo, o valor será de R$ 40. "Como focamos em empresas pequenas, fazemos um serviço mais acessível", diz Débora.

O tempo até a informação final ser enviada ao cliente varia entre uma e duas semanas. Toda a equipe, de sete pessoas, realiza a revisão, e um professor orientador checa.

O que você achou desse conteúdo?