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Empreender não tem idade
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Empreender não tem idade

Nada de ficar parado. Aposentados abrem o próprio negócio para aumentar a renda e continuar na ativa
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Esmalteria Flor e Poá já existe há três anos
 (Foto: ALEX GOMES)
Foto: ALEX GOMES Esmalteria Flor e Poá já existe há três anos

Maria Lúcia Pascoal, 62, até chegou a viajar e começou a fazer caminhada após se aposentar, mas teve uma hora que achou "difícil ficar parada em casa". Chamou a irmã para montar uma esmalteria no bairro Dionísio Torres, em Fortaleza. "O dinheiro da aposentadoria era muito pouco. Eu já vendia cosméticos e roupas íntimas para completar a renda e resolvi, aos poucos, montar a loja", conta a ex-funcionária do Exército.

Os motivos que fizeram Lúcia abrir uma empresa são comuns entre o público maduro. Pesquisa do Sebrae de 2017 aponta que 70% dos aposentados que abrem um negócio têm como motivo completar a renda e manter a família. Dos entrevistados, 21% escolhem abrir uma empresa para não ficar parado.

A pesquisa revela ainda que 60% desse público abrem comércios, seguido do ramo de serviços (30%), área escolhida por Lúcia. "Atualmente temos seis funcionários e pretendemos aumentar para 10. Hoje em dia já se paga as contas, mas ainda estamos engatinhando, almejo crescer mais o negócio", conta a empresária.

Em geral, as regras e dicas para abrir uma empresa são as mesmas não importa a idade do empreendedor: processo de formalização, busca por capacitação e plano de negócio. Mas, segundo o analista técnico do Sebrae Hugo Cardoso, os aposentados precisam ter alguns cuidados a mais, principalmente na hora de investir. "É importante que ele abra um negócio que permita testar diferentes modelos para depois aumentar. Validou um modelo, aumenta, validou, aumenta. Isso antes de fazer um grande investimento, para não se comprometer. Após a aposentadoria, você não vai ter tanto tempo e energia para se recuperar", indica.

Na hora de entrar com o dinheiro, Lúcia, por exemplo, optou por não arriscar tanto nos investimentos. "O banco chegou a oferecer dinheiro, mas olhei os juros e vi que não era vantajoso. Preferi usar o dinheirinho que eu já vinha guardando, e junto com a minha sócia, aos poucos, fui montando a loja. Não queríamos ficar com dívidas", conta.

Uma das dicas da professora de Criação de Novos Negócios da UFC Fabiana Nogueira é que o aposentado olhe realmente o mercado e, por mais que tenha capital, empreenda atendendo a uma demanda. "Às vezes a ideia é boa, mas o contexto não é bom. O FGTS, por exemplo, é o rendimento de uma vida inteira. Ele não pode investi-lo correndo grandes riscos. A dica é procurar instituições de apoio a microempreendedores, banco de rodadas de negócios e startups, ou investir em franquias", sugere.

A escolha do ramo é decisivo. Hugo atenta que o empreendedor maduro abra um negócio naquilo que ele tenha familiaridade. "O empreendimento após a aposentadoria está relacionado ao seu próprio histórico profissional. É recomendada uma área que ele conheça. Se for precisar fazer uma formação, ela tem que ser mais voltada ao gerencial, não ao técnico", diz.

Aos 66 anos, Fernando José Hollanda, por exemplo, aproveitou toda a bagagem de 40 anos na área de turismo - de emissor de bilhete a assistente da presidência da antiga Varig - para montar um hotel de longa estadia em Iparana, no município de Caucaia. Embora considere a trajetória profissional como sua grande formação, não abre mão de cursos que complementem sua nova etapa na carreira. "Atualmente faço MBA em Gestão empresarial e Relacionamento com Cliente na Unifor e participo de várias feiras de turismo internacionais. O mercado está muito competitivo, minha experiência vai fazer a diferença", diz.

Dicas

• Abra um negócio mínimo que permita que você experimente antes de aumentar o investimento. Caso não dê certo, o prejuízo não será tão grande.

• Invista dinheiro aos poucos. Procure sócios e busque sempre ter uma boa reserva de dinheiro

• Busque apoio de instituições de incentivo ao micro e pequeno empresário

• Escolha empreender em um ramo que você já conhece, de preferência algo da sua bagagem profissional antes da aposentadoria.

• Procure se capacitação em gestão, relacionamento com clientes e negócios digitais.

Negócio digital

Um dos desafios que enfrenta o público mais experiente é levar o negócio para o ambiente digital. "Não é um público que cresceu com essas mídias, então é mais difícil. É importante que se tenha um parceiro, um filho ou neto, que possa contribuir na inserção digital, na formulação de um website, Whatsapp, Instagram", afirma Hugo Cardoso, analista técnico do Sebrae.

Segundo a professora de Criação de Novos Negócios da UFC Fabiana Nogueira, embora os aposentados não tenham tanta familiaridade com as mídias da internet, é importante não abrir mão de potencializadores como e-commerce ou aplicativos, por exemplo. "É uma boa oportunidade para entrar no universo digital, é algo novo em uma etapa em que se recomeça a vida", completa Fabiana.

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