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Vazamentos com Moro e Lava Jato ganham capítulo internacional
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Vazamentos com Moro e Lava Jato ganham capítulo internacional

| VENEZUELA | Analistas apontam mudança de estratégia de Moro após divulgação de novos diálogos, que agora citam tentativa de fragilizar governo Maduro
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A medida sancionada na última terça-feira, 24, não estava prevista no Pacote Anticrime enviado por Moro.  (Foto: Carl de Souza / AFP)
Foto: Carl de Souza / AFP A medida sancionada na última terça-feira, 24, não estava prevista no Pacote Anticrime enviado por Moro.

Um capítulo internacional se iniciou nos vazamentos envolvendo o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, e integrantes da Lava Jato. Uma reportagem da Folha de S. Paulo em parceria com The Intercept Brasil publicada ontem apresenta um suposto diálogo entre o ex-magistrado e o coordenador da força-tarefa em Curitiba, Deltan Dallagnol.

 Nos diálogos, Moro teria orientado os procuradores da operação a tornarem públicos dados sigilosos que envolviam contratos da Odebrechet na Venezuela para fragilizar o governo de Nicolás Maduro.

"Talvez seja o caso de tornar pública a delação dá Odebrecht sobre propinas na Venezuela. Isso está aqui ou na PGR?" (sic), teria questionado Moro a Dallagnol pelo aplicativo de mensagens Telegram às 14h35 do dia 5 de agosto de 2017.

Mais tarde, Deltan também teria se manifestado: "Naõ dá para tornar público simplesmente porque violaria acordo, mas dá pra enviar informação espontãnea [à Venezuela] e isso torna provável que em algum lugar no caminho alguém possa tornar público" (sic).

Em conversa sobre os vazamentos anteriormente, Deltan já teria afirmado: "Haverá críticas e um preço, mas vale pagar para expor e contribuir com os venezuelanos".

Em post publicado no Twitter ainda ontem, o ministro da Justiça defendeu a suposta articulação. "Novos crimes cometidos pela Operação Lava Jato segundo a Folha de São Paulo e seu novo parceiro, supostas discussões para tornar públicos crimes de suborno da Odebrecht na Venezuela, país no qual juízes e procuradores são perseguidos e não podem agir com autonomia. É sério isso?"

Na leitura do cientista político Emanuel Freitas, o diálogo reforça um crescente corporativismo entre o judiciário.

"Se a conversa corresponder aos fatos, demonstra um alinhamento da força-tarefa com certo espectro político do País. A Lava Jato atua como um braço político, com uma força ideológica muito mais do que técnica. Ali está claro o uso político do vazamento para enfraquecer o Maduro. Moro não nega o conteúdo e diz explicitamente que 'nós, juízes e procuradores do Brasil, estávamos desejando com isso defender os juízes e procuradores da Venezuela que são ameaçados'. Como é o nome disso? Corporativismo, e corporativismo internacional porque envolvia o corpo jurídico de outro país", pontua.

Segundo pesquisa do Datafolha divulgada no último sábado, 5, 58% dos entrevistados que tomaram conhecimento dos diálogos atribuídos ao ex-juiz consideram a conduta de Moro inadequada.

Para a cientista política Paula Vieira, o cenário é de intensa disputa política. "O Moro precisa responder algo que convença as pessoas de uma possível inocência ou uma justa causa. Como está sendo confirmado cada vez mais que as mensagens são verdadeiras, eu acredito que ele esteja mudando de estratégia em termo de defesa e vai conduzir para dar sentido às mensagens: proteger os juízes", avalia.

"O papel de instituições como o STF é trazer uma investigação do vazamento das mensagens, não se são válidas ou não, mas de quem é essa figura que está no centro desse debate político e questionar os posicionamentos, ouvir as justificativas de Moro", defende Paula.

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