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Possível investigação nas contas de Glenn Greenwald é avaliada como retaliação
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Possível investigação nas contas de Glenn Greenwald é avaliada como retaliação

| INVESTIGAÇÃO | PF teria solicitado ao Coaf apuração sobre movimentações relacionadas a hackeamento e posterior divulgação de conversas
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Liminar impede que Glenn Greenwald seja investigado ou responsabilizado por receber, obter ou publicar informações (Foto: Andrew Burton/AFP)
Foto: Andrew Burton/AFP Liminar impede que Glenn Greenwald seja investigado ou responsabilizado por receber, obter ou publicar informações

A possível investigação solicitada pela Polícia Federal (PF) ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) nas contas do jornalista Glenn Greenwald, editor do site The Intercept Brasil, é avaliada com preocupação por especialistas ouvidos por O POVO. Desde o mês passado, Glenn encabeça publicações sobre vazamentos de conversas entre o ministro da Justiça Sérgio Moro e coordenador da força-tarefa da Lava Jato Deltan Dallagnol, datadas da época em que atuavam na Operação.

De acordo com o site "O Antagonista", a PF solicitou ao Coaf relatório das atividades financeiras de Greenwald com o objetivo de verificar possíveis manifestações atípicas relacionadas ao hackeamento de celulares dos integrantes da Operação. Em nota, a PF disse que "não confirma a solicitação e não comenta sobre eventuais investigações em andamento". Também procurado, o Coaf respondeu que "não comenta casos específicos em função do sigilo fiscal e bancário a que está submetido".

Independentemente da veracidade da investigação, a doutora em Comunicação Helena Martins acredita que o Brasil já vive um momento de cerceamento da liberdade de imprensa. De acordo com ela, a prática de atacar os profissionais envolvidos na divulgação das mensagens e a não exigência de investigação do conteúdo denunciado sinaliza uma inversão de padrões e uma lógica de restrição ao exercício jornalístico.

"O que a gente viu não foi uma preocupação em explicar, proteger, ressaltar a importância do trabalho investigativo do jornalismo. As autoridades vinculadas ao Governo Federal, sobretudo, têm fortalecido essas críticas, criando um ambiente propício para que esses ataques ocorram", analisa.

A professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) lembra, também, que o detalhamento contido nas denúncias feitas pelo The Intercept encontra base no Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, especificamente no artigo 1º, que trata do direito do cidadão ao acesso à informação.

Ela destaca ainda outro ponto do Código que evidencia que a obstrução à divulgação de informação, a censura e a indução à autocensura são delitos contra a sociedade. "O que a gente tem visto é uma tentativa de coação que esses jornalistas possam vir a praticar a autocensura ou possam ter muito mais obstáculos para desenvolver o seu trabalho, o que é muito danoso para o conjunto da sociedade, não só para os próprios jornalistas diretamente envolvidos".

O cientista político Rodrigo Prando lembra que o exercício jornalístico, no Brasil, é permeado por violência simbólica e física. O professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie afirma que, caso sejam comprovadas a investigação da PF e a anuência de Moro, os fatos podem ser considerados "graves".

"Pode ser entendido como uma retaliação ou uma tentativa de constrangimento ilegal tentando, de certa maneira, impedir que a imprensa continue a fazer o seu trabalho, que muitas vezes é de caráter investigativo", avalia.

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