A oposição aproveitou ontem a presença do jornalista Glenn Greenwald, editor e fundador do site The Intercept Brasil, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara para pedir a demissão do ministro da Justiça, Sergio Moro, e defender a soltura do ex-presidente Lula.
A bancada do governo tentou esvaziar a sessão ao não se inscrever para falar. O jornalista foi convidado a se manifestar sobre a publicação de supostas mensagens trocadas entre Moro e procuradores da Lava Jato extraídas do aplicativo Telegram. Nelas, combinaram o passo a passo da investigação.
Com a ausência da bancada pró-Moro, Glenn foi mais elogiado do que questionado. Os petistas, na maioria das vezes, tentaram usar a revelação como justificativa para o pedido de liberdade de Lula. "O juiz Moro violou o ordenamento jurídico brasileiro, violou a Constituição Federal e comandou uma operação política que tinha como objetivo de chegar ao poder", disse o líder do PT, José Guimarães (CE).
A deputada Policial Katia Sastre (PL-SP) acusou o petista de atuar politicamente e questionou Greenwald sobre suposta negociação para que seu marido, David Miranda (Psol-RJ), assumisse o mandato de deputado federal Jean Wyllys, que renunciou antes de assumir a vaga para o qual foi eleito.
"Quem deveria ser julgado e sair daqui preso pelo crime teria que ser o jornalista que cometeu um crime com o hacker", afirmou a deputada. O The Intercept sustenta que recebeu o material de fonte anônima.
Aos deputados, o jornalista voltou a afirmar que as supostas mensagens entre Moro e procuradores da Lava Jato mostram que houve "conluio" entre julgador e acusador, o que é vedado pela Constituição.
"O material já mostrou e vai continuar mostrando que Moro era o chefe da força-tarefa da Lava Jato, que era o chefe dos procuradores. Ele está o tempo todo mandando o que os procuradores deveriam fazer e depois entrando no tribunal e fingindo que era neutro. Já mostramos isso, mas vai ter muito mais material ainda", afirmou.
Glenn Greenwald defendeu o sigilo à fonte como um fator inalienável e criticou o comportamento do ministro quando juiz. Disse que "é impossível combate à corrupção com comportamento corrupto" e que em outros países do mundo, o ministro iria sofrer sanções.
"Nos Estados Unidos é impensável um juiz fazer o que foi feito. Se um juiz fizer uma vez o que Sérgio Moro fez durante cinco anos, vai sofrer muita punição", opinou. (Agência Estado)