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"Os fins não justificam os meios", diz Tabata Amaral sobre conversas de Moro
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"Os fins não justificam os meios", diz Tabata Amaral sobre conversas de Moro

Em conversa com O POVO, Tabata Amaral também descarta disputar a Prefeitura de São Paulo em 2020
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A DEPUTADA esteve na última semana em Fortaleza e Sobral participando de eventos sobre educação (Foto: Tatiana Fortes)
Foto: Tatiana Fortes A DEPUTADA esteve na última semana em Fortaleza e Sobral participando de eventos sobre educação

Deputada federal pelo PDT, Tabata Amaral avalia que a Operação Lava Jato exerceu papel crucial no combate à corrupção no País, levando à cadeia gente como Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara dos Deputados. Mas, segundo a parlamentar, "os fins não justificam os meios".

De passagem por Fortaleza na última sexta-feira, 14, quando participou de evento no Centro Universitário Estácio, a parlamentar falou com exclusividade ao O POVO. Na entrevista, Tabata afirmou defender a investigação após o The Intercept Brasil revelar diálogos entre o ex-juiz Sergio Moro e o coordenador da Lava Jato, Deltan Dallagnol.

"Se houve irregularidade no processo, e acredito que esse conluio de MPF (Ministério Público Federal) com quem está julgando é uma irregularidade e não pode acontecer, tem que ser julgado, tem que ser investigado", declarou a pedetista.

Eleita com 264 mil votos, Tabata também descartou candidatar-se à Prefeitura de São Paulo ano que vem. "Estou com um grupo já bem grande de 'mentoria' e formação (de futuras candidatas). Acho que já é muita campanha pra fazer, não preciso de mais uma, não", concluiu.

O POVO - O relatório da Previdência foi lido na quinta-feira, 13. Alguns pontos mais controversos foram excluídos. Dentro do PDT, a senhora já se mostrou favorável à proposta. Como avalia o projeto?

Tabata Amaral - Falando primeiro sobre o PDT, é importante lembrar que foi o único partido que, nas eleições passadas, apresentou uma proposta de reforma para a Previdência. Eu me sinto muito confortável dentro do PDT para dizer que precisamos, sim, de uma reforma, porque a gente não pode mais ser irresponsável com o País. A gente não pode jogar pra baixo do tapete o problema. Mas, ao mesmo tempo, a proposta do Bolsonaro veio com coisas muito graves, especialmente na área social. Então, a nossa postura é fazer uma oposição que é consciente, é propositiva, tanto que a gente apresentou uma emenda de bancada (à PEC da Previdência), e continuar trabalhando. Olhando para o relatório, tivemos algumas conquistas. Quando a gente fala do tempo de contribuição, quando a gente fala do BPC, mas ainda tem muita coisa que precisa mudar. Um exemplo é a aposentadoria dos professores. Estou olhando para isso como um processo contínuo. A gente apresentou diversas emendas, algumas foram acolhidas. Vimos um avanço, mas ainda é muito pouco. Só que a gente tem tempo ainda. Isso vai ser discutido na comissão especial. O nosso líder, o André Figueiredo, está lá representando o PDT. Depois é que vai para o plenário. Está muito longe de acabar ainda.

OP - Como avalia o quadro da educação no governo Bolsonaro?

Tabata - Quando a gente fala da administração do Vélez (Ricardo Vélez, ex-ministro da Educação), eu vejo uma grande confusão. Foi um período de muitas polêmicas, de muitos desmandos em que se falou de muita fumaça e nada aconteceu de fato. Isso já era muito preocupante. E aí a gente tem a vinda do ministro Weintraub (Abraham Weintraub, sucessor de Vélez), que, pra mim, piorou ainda mais a situação, que eu acreditava que não era possível. Porque o ministro está num combate ideológico, está numa missão messiânica. De acordo com ele, para combater coisas que, para quem conhece a escola pública, são tão pouco relevantes. A minha preocupação é que, nesse combate ao marxismo cultural ou combate ideológico, como ele chama, você tratora o que tem de mais sólido na educação. Você prejudica o Enem, prejudica as provas avaliadoras, deixa engavetada a formação dos professores, atrasa o Fundeb. Essa é um pouco da minha preocupação hoje. É o quanto essa irracionalidade que está prevalecendo no Ministério da Educação está impactando no que a gente tem de mais sólido. E se a gente não for ativo no Congresso e não começar a cobrar, a gente corre o risco de chegar ao final do ano com quase nada. A educação é uma das áreas que mais precisam de atenção no País. A gente não dá conta de perder o ano. Não sei se a gente melhorou com a mudança de ministros. Acho que não.

OP - Como a senhora avalia a situação do ministro Sergio Moro depois das reportagens do "The Intercept Brasil"? Acha que seria o caso de ele já ter pedido afastamento?

Tabata - Essa é uma situação bastante complexa porque a gente acaba misturando muitas coisas. A Lava Jato, na minha opinião, fez uma contribuição muito importante para o País. Ela mostrou um grande esquema de corrupção e colocou em xeque a relação do setor privado com o setor público, que, no Brasil, era muito promíscua. Então, poxa, acho que teve muita gente, como Eduardo Cunha, que foi pra prisão. A gente não pode jogar o balde com a criança e a água. A Lava Jato teve muitos méritos, e essa é uma coisa. Não podemos retroceder no combate à corrupção. Mas, ao mesmo tempo, os fins não justificam os meios. Pra mim, pelo menos. Se houve irregularidade no processo, e acredito que esse conluio de MPF (Ministério Público Federal) com quem está julgando é uma irregularidade e não pode acontecer, tem que ser julgado, tem que ser investigado. Minha postura, neste momento, é de aguardar, porque a gente sabe que virão mais informações do "The Intercept". Estamos vendo apenas um pouquinho do que aconteceu. Vamos aguardar, cobrar um julgamento, e aí, sim, pedir que o ministro se afaste especialmente quando esse julgamento começar. O cuidado que vou sempre tomar é: vamos investigar, vamos punir os culpados, mas não vamos criminalizar a Lava Jato, não vamos jogar a conquista que foi feita no lixo. Porque serve a muita gente que isso aconteça. Neste momento de país tão polarizado, uma posição que não seja oito nem oitenta não agrada muito, mas esse é o meu papel, que falar: olha, parece que teve irregularidade. Tem que investigar, tem que punir, tem que afastar, mas não vamos jogar tudo fora porque teve coisas boas também.

OP - A senhora tem planos para 2020?

Tabata - Tenho: de apoiar muitas mulheres a se candidatarem — não eu, neste momento — para serem vereadores e prefeitas. A gente lá no PDT de São Paulo está com um sonho: 50% da lista (de candidatos) será feita por mulheres, pela primeira vez na história. Então minha meta para 2020 é apoiar muitas mulheres Brasil afora. Estou com um grupo já bem grande de mentoria e formação. Acho que já é muita campanha pra fazer, não preciso de mais uma, não.

no ceará

Tabata Amaral participou na manhã da última sexta-feira, 14, de um debate no Centro Universitário Estácio. À tarde, a parlamentar esteve no Cuca Mondubim. No sábado, ela foi a Sobral conhecer uma escola de tempo integral e participar uma aula inaugural para o Enem

EDUCAÇÃO

Vice-líder do PDT na Câmara, a deputada viu sua atividade parlamentar ganhar notoriedade após críticas contundentes ao então ministro da Educação Ricardo Vélez Rodriguez em sessão na Comissão de Educação

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