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Novos trechos de supostos diálogos entre Moro e MPF são revelados
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Novos trechos de supostos diálogos entre Moro e MPF são revelados

The Intercept divulga conversas em que Moro orienta Lava Jato a apontar contradições na defesa de Lula
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MORO participou ontem de evento de apresentação do esquema de segurança para a Copa América  (Foto: Isaac Amorim/AG.MJ)
Foto: Isaac Amorim/AG.MJ MORO participou ontem de evento de apresentação do esquema de segurança para a Copa América

Mais um capítulo de uma suposta interferência de Sergio Moro sobre a Lava Jato foi publicado na noite de ontem pelo site The Intercept Brasil. Nele, são reveladas conversas vazadas do então juiz federal responsável pela operação orientando procuradores do Ministério Público Federal (MPF) pelo Telegram, apontando contradições no depoimento do ex-presidente Lula.

"Talvez vocês devessem amanhã editar uma nota esclarecendo as contradições do depoimento com o resto das provas ou com o depoimento anterior dele, porque a Defesa já fez o 'showzinho' dela", diz em conversa com o ex-procurador, Carlos Fernando dos Santos Lima, em 10 de maio de 2017.

No dia em questão, mais cedo, Lula depôs na Justiça sobre a acusação de recebimento de propina por meio do triplex no Guarujá. A mensagem foi enviada às 22h12min. Antes disso, os dois conversavam sobre o evento jurídico do dia envolvendo o ex-presidente.

"Achei que ficou muito bom. Ele começou polarizando conosco, o que me deixou tranquilo. Ele cometeu muitas pequenas contradições e deixou de responder muita coisa, o que não é bem compreendido pela população. Você ter começado com o Triplex desmontou um pouco ele", disse Santos Lima, às 22h10min. Moro então respondeu, no minuto seguinte: "A comunicação é complicada, pois a imprensa não é muito atenta a detalhes e alguns esperam algo conclusivo".

Dez minutos depois, o procurador solicita no grupo "Análise de clipping", em que estavam assessores de imprensa do MPF do Paraná, uma "entrevista com alguém da Globo em Recife" para o dia seguinte. O assunto: a audiência daquele 10 de maio. Um dos assessores pergunta o motivo. Por isso, logo em seguida, ele entra em conversa privada com Deltan Dallagnol, coordenador da Lava Jato no MPF, para desenvolverem uma resposta ao assessor.

"Então temos que avaliar os seguintes pontos: 1) trazer conforto para o juiz e assumir o protagonismo para deixá-lo mais protegido e tirar ele um pouco do foco; 2) contrabalancear o 'show' da defesa. Esses seriam porquês para avaliarmos, porque ninguém tem certeza. O 'o quê' seria: apontar as contradições do depoimento. E o formato, concordo, teria que ser uma nota, para proteger e diminuir riscos. O JN (Jornal Nacional) vai explorar isso amanhã ainda. Se for para fazer, teríamos que trabalhar intensamente nisso durante o dia para soltar até lá por 16 horas", disse Deltan.

Os dois últimos pontos foram apresentados por Deltan ao grupo "Análise de clipping", minutos depois. Pouco antes, o procurador enviou, em conversa privada com Moro, a seguinte mensagem: "Caro, parabéns por ter mantido controle da audiência de modo sereno e respeitoso. Estamos avaliando eventual manifestação. A GN (Globo News) acabou de mostrar uma série de contradições e evasivas. Vamos acompanhar."

Moro responde: "Beleza. Também tenho minhas dúvidas da pertinência de manifestação, mas é de se pensar pelas sutilezas envolvidas."

Ontem, antes das novas divulgações de diálogos, Moro afirmou que pode ter cometido um "descuido" ao repassar uma informação para procuradores da Lava Jato, por meio de um aplicativo de celular, quando era juiz da operação em Curitiba. Ele repetiu, porém, que não fez nada de ilegal na condução dos processos e que os responsáveis pela invasão de celulares serão punidos.  

 

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