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Deputado chama Guedes de "tchutchuca", e audiência na CCJ termina em bate-boca
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Deputado chama Guedes de "tchutchuca", e audiência na CCJ termina em bate-boca

| Câmara | Durante mais de seis horas de audiência, Paulo Guedes discutiu com parlamentares. Sessão na CCJ foi encerrada após tumulto
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Paulo Guedes (Foto: José Cruz/ABR)
Foto: José Cruz/ABR Paulo Guedes

O primeiro teste do ministro Paulo Guedes (Economia) na Câmara dos Deputados terminou em confusão. Após mais de seis horas de audiência na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), primeira etapa da reforma da Previdência na Casa, Guedes explodiu ao ser chamado de "tchutchuca" por Zeca Dirceu (PT-PR).

"O senhor é 'tigrão' com aposentados, idosos, com portadores de necessidades. É 'tigrão' com agricultores e professores", disse o parlamentar já no final da noite. "Mas é 'tchutchuca' quando mexe com a turma mais privilegiada do nosso País."

O ministro, que já tinha batido boca com outros deputados ao apresentar a mudança nas aposentadorias na audiência - a sessão havia começado às 14 horas -, destemperou-se.

 "Eu não vim aqui pra ser desrespeitado", rebateu, tomando a palavra do presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), que tentou colocar panos quentes, em vão. "'Tchutchuca' é a mãe, é a avó, é a sua família", devolveu Guedes. "Isso é uma ofensa. Eu respeito quem me respeita."

Desde o início das discussões, porém, o clima no colegiado era tenso. Guedes era esperado na comissão havia duas semanas, quando cancelou visita à Câmara alegando que a reforma ainda não tinha relator na CCJ, posteriormente escolhido.

Durante a audiência, o ministro foi questionado principalmente sobre as novas regras para o Benefício de Prestação Continuada (BPC), a mudança na aposentadoria rural, o regime de capitalização e a desconstitucionalização.

Um dos integrantes cearenses da CCJ, Eduardo Bismarck (PDT) avalia que a passagem de Guedes pela Casa não sanou as dúvidas dos deputados. "Ele deixou a desejar. O ministro jogou a responsabilidade pela reforma para cima do Congresso, lavou as mãos", criticou o pedetista.

Também integrante da comissão, que conta com 66 membros, entre os quais cinco cearenses, o deputado Júnior Mano (PR) diz que Paulo Guedes "não trouxe uma motivação para o parlamento para discutir a reforma".

Quanto ao desempenho do ministro, o cearense diz que ele "foi arrogante" e "passou a bola para os parlamentares, deixando a responsabilidade para nós". Segundo Mano, os pontos recorrentes nos pronunciamentos dos deputados foram BPC, aposentadoria rural e capitalização.

Na sessão, depois de sucessivos desentendimentos, o ministro chegou a queixar-se de que os deputados não estavam respeitando-o. "Me aconselharam a não reagir, mas tentei ser atencioso. Sou muito respeitoso. Cometi o erro de interagir", justificou-se, dirigindo-se à deputada petista Gleisi Hoffmann.

Questionado por parlamentares de PT e PSB, que vetam o texto da reforma, ele aconselhou: "Se quiserem, embarquem seus filhos no avião em que vocês estão e vão acabar como Rio de Janeiro, Minas Gerais". O ministro se referia à crise fiscal pela qual esses estados passam.

Noutro momento, ao ser indagado sobre a capitalização, regime aprovado no Chile, o ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PSL) falou que aquele país "tem quase o dobro da renda per capita do Brasil". E ironizou: "Acho que a Venezuela está melhor". Guedes ainda cutucaria a oposição outras vezes, como quando expôs que o PT distribuiu dinheiro para empresas como a JBS.

Para o deputado federal Domingos Neto (PSD), que coordena a bancada do Nordeste na Câmara, a visita do ministro à CCJ foi produtiva, todavia. "Acho que a ida dele foi bem-sucedida no sentido de que passa o gesto de prestígio da Câmara", comentou.

Neto defendeu ainda uma das propostas centrais de Guedes na PEC da Previdência, a capitalização. "Avalio como positiva a ideia de criar o regime. A regulamentação é o que devemos discutir", disse.

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