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A bagunça no MEC
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A bagunça no MEC

O PRESIDENTE e o ministro Ricardo Vélez Rodríguez (Foto: divulgação )
Foto: divulgação O PRESIDENTE e o ministro Ricardo Vélez Rodríguez

O governo Jair Bolsonaro (PSL) não tem como maior virtude a organização, mas o Ministério da Educação (MEC) se supera. Se fosse numa pasta irrelevante, vá lá. Mas, é a área mais importante do setor público. Tem impacto na vida de todo mundo, com desdobramentos na economia (formação profissional), segurança pública. O horizonte é ilimitado.

Alguns fatos do que se passa: o diretor-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues, foi demitido na quarta-feira, 26, pelo ministro Ricardo Vélez Rodríguez. Ontem, o ministro explicou que a decisão foi tomada porque o diretor-presidente "puxou o tapete", ao assinar a portaria que adiava a avaliação da alfabetização de 2019 para 2021. A portaria foi revogada.

Marcus Vinicius, que é cearense, declarou ao O Globo que Vélez é "gerencialmente incompetente" e "não tem controle emocional" para conduzir o MEC. Em defesa de Vélez se diga que a suspensão da avaliação era mesmo ideia de jerico. Contra o ministro, a alegação do ex-gestor do Inep de que o pedido de adiamento partiu de Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização, muito próximo a Vélez. E, na opinião de Vinicius, era muito improvável que Vélez não tivesse sido informado da medida. Mas, isso é suposição dele.

Pois, um dia antes da demissão do diretor-presidente, a secretária de Educação Básica do MEC, Tania Leme de Almeida, pediu demissão, indignada por não ter sido consultada sobre a suspensão da avaliação. Ela já havia pedido demissão na semana passada, mas havia sido convencida pelo ministro a ficar. Com a saída dela, assumiu Alexandro Ferreira de Souza, que é secretário da Educação Profissional e Tecnológica e passou a acumular as funções.

Por causa da demissão de Marcus Vinícius, Paulo César Teixeira pediu exoneração da Diretoria de Avaliação da Educação Básica do Inep, que tem a organização do Enem entre as funções. (Antes de Teixeira, o cargo foi ocupado por Murilo Resende Ferreira. Passou um dia no cargo e foi remanejado para uma assessoria especial).

Esse episódio da avaliação não foi a única atrapalhação no MEC. Antes fosse. Repare no que ocorreu na semana passada: Iolene Lima era diretora de Formação do MEC e foi anunciada como nova secretária executiva. O segundo cargo na hierarquia do ministério.

Porém, o anúncio causou alvoroço em várias frentes. Teria desagradado o próprio Palácio do Planalto. Ela é evangélica, mas não tinha apoio da bancada evangélica. Nas redes sociais, veio à tona vídeo de 2013 no qual disse que "o primeiro matemático e geógrafo foi Deus" e que o primeiro contato das crianças com esses conteúdos ocorre no livro do Gênesis. Ela defendia ainda a organização do currículo escolar a partir da Bíblia.

Pois bem, antes de assumir a nova função, Iolene foi demitida. Não foi para o novo cargo, mas também não ficou no antigo. Belo exemplo de organização, não é?

Não é a primeira troca no cargo. É a terceira. No começo do governo estava na função Luiz Antonio Tozi, demitido após pressão do escritor Olavo de Carvalho. Para o lugar foi anunciado, em 12 de março, Rubens Barreto da Silva. Porém, o grupo dos alunos de Olavo resistiu, o Palácio não deu aval e, dois dias depois, foi anunciada Iolene.

Olavo, aliás, é personagem de confusão instaurada logo após o Carnaval. Alunos dele que estavam em cargos no MEC foram remanejados para funções inferiores. Então, Olavo orientou todos a abandonarem o governo. Era uma sexta-feira. Na segunda-feira, vieram seis exonerações, com foco naqueles que estariam perseguindo os alunos de Olavo. Em particular o coronel Ricardo Roquetti. Na terça, caiu o já citado Tozi, acusado por Olavo de se unir a Roquetti contra os alunos do escritor.

Critérios

Como Vélez foi parar no ministério? Indicação de Olavo de Carvalho. Olha como ele descreve a relação entre os dois. "Só falei com duas vezes: uma vez para parabenizá-lo, quando foi nomeado, e a segunda para mandar tomar no cu". Desculpe o termo. Mas, veja bem, a pessoa recebe o privilégio de escolher quem conduzirá a educação no Brasil. Sugere alguém que mal conhece, e, passados nem três meses, está insultando o sujeito que ninguém conhecia e foi parar lá por causa dele.

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