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"O terrorismo não saiu de moda", diz pesquisador
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"O terrorismo não saiu de moda", diz pesquisador

| NO ESPELHO DO TERROR | Gabriel Zacarias lança livro com leitura transdisciplinar para atos como os de Suzano e Nova Zelândia
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Gabriel Zacarias é historiador e professor da Universidade de Campinas (Unicamp) (Foto: Tatiana Fortes)
Foto: Tatiana Fortes Gabriel Zacarias é historiador e professor da Universidade de Campinas (Unicamp)

Em meio aos massacres dos últimos dias 13 e 14, em Suzano, na Região Metropolitana de São Paulo - que deixou 10 mortos -, e na Nova Zelândia, transmitido ao vivo e com total de 50 vítimas fatais e 48 feridos, o historiador e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Gabriel Zacarias, lança em Fortaleza o livro No espelho do terror. O evento está marcado para hoje, às 18h30min, no auditório da faculdade de Arquitetura da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Para elucidar estas e outras manifestações extremistas, Zacarias olha para o terrorismo para além dos limites geopolíticos. Ele se vale do pensamento do francês Guy Debord (1931 - 1994), exposto na obra Sociedade do Espetáculo, de 1967, para trazer ao debate outros elementos de discussão.

"Entra a questão do espetáculo quando, em tudo aquilo que fizeram, (os terroristas) passaram pela produção de uma série de imagens daquilo que faziam. Então, atacar um determinado alvo passava, primeiro, por anunciar esses ataques nas redes sociais de alguma forma. (...) Tinha todo um conjunto de representações mobilizadas", elabora.

No massacre da Nova Zelândia, por exemplo, o registro das imagens é marca de um reconhecimento mais potente de si mais potente dentro do "mundo da imagem" do que no "mundo real".

Esses sujeitos, diz o pesquisador, quando se lançam numa empreitada de destruição do mundo concreto, buscam o conhecimento no "mundo abstrato das redes".

O raciocínio do professor indica que esta inversão entre o concreto e o abstrato é o pano de fundo para o entendimento destes eventos, já que massacres escolares ou em mesquitas - estes nos mesmos moldes dos praticados por fundamentalistas islâmicos - têm, para ele, o mesmo caráter.

Especificamente a respeito de Suzano, ele identifica discurso misógino muito forte, o que atribuiria uma forma de, entre outros fatores, canalizar crises geradas por frustrações impostas pelo pós-modernismo. Tal direcionamento se trata do conceito criado pelo pai da psicanálise, Sigmund Freud (1856 - 1939) de recalque - que é diferente do significado coloquial - presente.

Segundo argumenta o autor, o indivíduo que ataca a escola e mata antigos colegas será visto como herói no fórum de internet que frequenta, que o acolheu. Na perspectiva de terrorista, então, a deep web e a dark web - fóruns online visitados pelos autores do massacre de Suzano -, são espaços de retroalimentação de ideologias e ímpetos.

Os problemas elencados pelo professor se agravam com uma crise do sistema capitalista de produção e as frustrações produzidas a partir daí.

"O terrorismo não saiu de moda, os massacres escolares não saíram de moda e, por aquilo que eu dizia antes, não vai sair, porque não manifestações de um estado de crise", anuncia o Zacarias, ressaltando "mudanças profundas" e dispensando paliativos como solução.

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