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O recado das matanças
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O recado das matanças

Na última quarta-feira, 13, oito pessoas foram mortas por atiradores numa escola em Suzano (SP). Cinco das vítimas eram menores de idade. Um dia depois, 50 pessoas foram mortas e 48 ficaram feridas em ataques a duas mesquitas em Christchurch, Nova Zelândia. Ontem, três pessoas foram mortas e cinco ficaram feridas em ataque a tiros dentro de bonde em Utrecht, na Holanda. Como explicar tamanho horror? Como responder a ele?

O debate sobre as causas é abrangente. Passa por saúde mental, intolerância, eventualmente até terrorismo. E há o debate sobre armas de fogo. Elas não são a causa, assim como a eventual presença de seguranças armados - seja em escolas, templos religiosos ou no transporte público - não é solução. Armas são instrumento e a presença de vigilância é o paliativo quando já não há nada a fazer.

O problema é grave e a repetição assusta. É preciso ir às causas mais profundas. É preciso debater o assunto, em casa, nas escolas. Trazer conhecimento técnico para além de achismos. Há gente dedicada a pesquisar o assunto, que busca dados. Não é preciso ter doutorado para opinar, mas não dá para qualquer palpiteiro de internet imaginar que pode descartar o conhecimento acumulado.

Armas não matam, pessoas matam. Pessoas com armas matam mais e com mais facilidade. O governo da Nova Zelândia anunciou que reformará a lei de armas após a matança. Deixará as regras mais rígidas. No Brasil, o governo se elegeu com proposta de flexibilizar o acesso a armas.

Há extenuante polêmica sobre se é mais eficaz armar o maior número possível de pessoas ou tentar controlar ao máximo o acesso às armas Os defensores pensam: eu poderei usar arma. Devem pensar, também, que quase qualquer um poderá usar também. Isso inclui os esquentadinhos do trânsito, os boçais do bar, os playboys do paredão de som. Não vamos longe. Pensemos no dia a dia de Fortaleza, com o estado de ânimos rotineiramente cultivado. Imagine a chance que tem de isso dar certo.

A forma de abordagem além de Milagres

A coluna de sábado tratou da responsabilidade do comando sobre o desastre em Milagres. Mas, o problema vai além do 7 de dezembro. Os policiais não devem se sacrificar, ficar expostos a risco além do estritamente necessário. Se correm risco de vida, devem atirar antes, sim. Mas, a presença entre os mortos de reféns, que eles julgavam ser criminosos, é prova de que eles mataram não apenas quem os ameaçava. Isso lança questionamento à forma de abordagem dos policiais nessas ações. E, novamente, à orientação de quem comanda.

Sempre vale lembrar: 1) Em 1º de abril de 2017, sete homens foram mortos pela Polícia após atacarem banco em Jaguaruana. 2) Em 30 de julho de 2017, cinco homens que planejavam homicídio foram mortos pela Polícia Militar e dois outros foram presos, um baleado na perna. 3) Em janeiro de 2018, três homens que estariam praticando homicídios em Icó, Acopiara, Lavras da Mangabeira e Iguatu foram mortos pela Polícia. 4) Em 26 de julho de 2018, três suspeitos de pertencerem a organização criminosa morreram em confronto com a Polícia Civil em Amontada. 5) Em 15 de agosto, três pessoas morreram e uma foi presa em perseguição policial a carro roubado. 6) Em 23 de novembro, seis pessoas que tentaram assaltar carro-forte em Quixeré e foram mortas pela Polícia.

Essas mortes eram mesmo necessárias? Todos ofereciam risco aos policiais? Ou houve justiçamento? Se isso ocorre uma ou duas vezes, pode ser iniciativa individual. Quando isso se repete, há uma orientação de ação.

Empecilhos à reforma

Já escolhido relator da reforma da Previdência - quando e se ela chegar ao Senado - o senador Tasso Jereissati (PSDB) fez muitas críticas à falta de articulação do governo Jair Bolsonaro (PSL). Um dos pontos mencionados na entrevista ao jornal Valor Econômico é o projeto de desvinculação do orçamento, colocado para tramitar junto da reforma. De fato, é muito amadorismo. A desvinculação, por si, tem resistências. Ela ainda soma oposição a um projeto já polêmico. Colocar as coisas juntas é coisa de quem não conhece o Congresso. Em projeto com a complexidade da Previdência, quanto menos coisa estiver misturada, mais fácil passar.

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