A empresa BI Energia, do grupo italiano Community Power, deve investir 800 milhões de euros em parque eólico na costa do mar de Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza. A previsão é que o empreendimento saia do papel no segundo semestre do próximo ano e forneça energia a 800 mil unidades habitacionais no País. Ela não está só. Outros negócios europeus também já estão de olho no potencial cearense para a instalação de usinas eólicas offshore (no mar).
Ao lado do Rio Grande do Norte e Maranhão, o Ceará concentra as melhores condições climáticas, ambientais e estruturais para receber esse modelo de geração de energia no País. É o que mostra o Brazil Wind Generation Guidebook" (Guia da geração de vento no Brasil), estudo da BTG Pactual. O texto esmiúça as vantagens do Nordeste brasileiro para a geração eólica no mar. Entre elas, a profundidade máxima de 50 metros e a velocidade do vento.
"Quase todas as margens do Maranhão, Piauí, Ceará e Rio Grande do Norte têm regime de ventos constantes e altas velocidades médias, condições perfeitas para capacidade adicional de vento offshore", diz o estudo, assinado por João Pimentel e Felipe Andrade. A pesquisa também destaca a capacidade instalada no Ceará e o crescimento da energia eólica.
Atualmente, há 80 parques instalados e capacidade de 2.050,5 megawatts no Estado, atrás do RN ( 4.043,1 MW) e Bahia (3.572,50 MW). Os dados são da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Por estas razões, a BI Energia e outras três empresas europeias - cujos nomes não foram divulgados - estudam a viabilidade da implantação do negócio no Estado.
Ao O POVO, Lúcio Bonfim, sócio da BI energia, disse que o estudo de impacto ambiental foi enviado ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), no último dia 19. O processo deve viabilizar a licença prévia. A partir da liberação, prevista para sair em julho, o próximo passo é participar de leilões ou fazer contratos privados para negociação de energia.
Em estudo desde 2009, a empresa conta com 48 turbinas de 8 megawatts na costa do mar de Caucaia. Um total 11 espigões com turbinas de 3 megawatts estão instalados para a proteção das praias. "A próxima etapa é a licença de instalação, levar o projeto executivo para a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS) e estamos solicitando a Secretaria do Patrimônio da União (SPU) a concessão da área. O momento ainda deve ser de desenvolvimento de projeto", detalha.
A empresa vai produzir os próprios cabos submarinos para a transferência da energia para as subestações no mar, em terra e para a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf). Jurandir Picanço, consultor de energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e presidente da Câmara Setorial de Energias, pondera que o potencial é alto, mas ainda há entraves para esse mercado crescer. "Os custos de implantação são bem mais elevados, há dificuldades de fazer fundações aquáticas e depois obter a concessão", enumera.
Outra barreira é a falta de uma regulamentação para o licenciamento ambiental. Conforme publicado no CanalEnergia, a Comissão Executiva para a Promoção e a Regulamentação do Offshore Eólico Brasileiro, iniciativa coordenada pelo Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia, busca criar uma um "marco regulatório para a exploração de eólicas offshore no Brasil". O documento deve ser publicado no primeiro semestre deste ano.