Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Paulo Guedes foi anunciado ministro da Economia no caso de Jair Bolsonaro (PSL) ser eleito ainda em 2017. Foi escolhido antes de Sergio Moro, de Onyx Lorenzoni e de Damares Alves. Era um fiador para o mercado de que a condução da economia seria equilibrada, responsável e sintonizada com o empresariado nacional. Guedes recebeu poderes que eram antes de três ministros: Fazenda, Planejamento e Desenvolvimento. O primeiro superministro da gestão. Porém, havia um problema.
Guedes representa muito do que Bolsonaro combateu em quase três décadas de Congresso Nacional. O ministro é liberal. O presidente foi sempre um corporativista, nacionalista e populista. Votou contra tudo quanto é reforma.
Bolsonaro votou contra o Plano Real, contra o fim do monopólio da Petrobras, contra a quebra do monopólio das telecomunicações. Foi contra a reforma da Previdência de Lula, em 2003, que passou a taxar os aposentados. Em 2012, também foi contra a reforma de Dilma Rousseff (PT), que acabou com aposentadoria integral e criou um fundo complementar para os servidores. Votou a favor, por sua vez, do fim do fator previdenciário, medida que poderia elevar enormemente o déficit da Previdência, mas foi vetada por Lula. Isso mesmo: Bolsonaro, em quem hoje são depositadas as esperanças de reduzir os custos com aposentadorias, votou para elevar essa despesa. E Lula, tido como perdulário, vetou a medida.
Bolsonaro se aproximou de Guedes justamente em função desse histórico. Queria sinalizar aos mercados algo diferente de seu histórico. E o ministro fez isso. Uma vez empossado, tem feito discurso firme e inequivocamente liberal. O quanto é a fala de um ministro e o quanto é de um governo?
Os indicativos apontam para o seguinte: não veremos no governo o Bolsonaro de sete mandatos. Tanto que, em 2007, o hoje presidente dizia: "Aprovar uma reforma com 65 anos é, no mínimo, uma falta de humanidade". Foi justamente o que o governo dele apresentou ontem como proposta. Não será esse o governo. Mas, também não será o de Guedes. Será algum lugar no meio do caminho. Talvez mais perto do que é Guedes que o que era Bolsonaro.
Idades e gêneros
O superministro queria idade mínima única para homens e mulheres. Conforme informou o Estadão, preparou toda uma estratégia para essa discussão. Municiou-se de dados para mostrar que a expectativa de vida das mulheres é maior, que a desigualdade de renda por gênero tem diminuído entre os mais jovens. E, no Congresso Nacional, preparou plano para rachar a bancada feminina nesse debate. Toda essa estratégia foi por terra na medida em que o presidente não bancou as idades iguais. Ontem, Bolsonaro arbitrou proposta com 65 anos para homens e 62 para mulheres.
A posição do presidente é realista, diante das disparidades de gênero que perduram: as mulheres têm, em média, mais qualificação que os homens, ganham menos e ainda trabalham sete horas e meia por semana a mais que os homens - também em média - devido à dupla jornada. Isso porque elas ainda acumulam muito mais tarefas domésticas. Os dados, de 2017, são do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Texto mais duro
A proposta de Bolsonaro, ainda não sendo a de Guedes, é mais dura que a versão final do governo Michel Temer (MDB). A proposta que estava na Câmara previa transição para o novo modelo ao longo de 20 anos. Seria o período ao longo do qual a idade mínima subiria gradualmente, até atingir os 62 anos para mulheres e 65 para homens. Agora, a transição proposta é de 12 anos. Significa mais economia para o governo. E mais impacto para quem está - ou estava - perto da aposentadoria.
Cartas e laranjas
Bolsonaro disse que deu "carta branca" ao ministro Sergio Moro para investigar as denúncias contra o ministro Gustavo Bebianno (PSL). É ótimo que seja assim.
Ruim é o ministro da Justiça precisar de carta branca para investigar o partido do presidente. Não houvesse a carta branca, o caso seria abafado? A Polícia Federal não investigaria? Michel Temer deu carta branca para a PF investigar o caso JBS?
Será que Bolsonaro deu carta branca a Moro para investigar o caso Queiroz?
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