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Laranjas em Brasília, laranjas no Ceará
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Laranjas em Brasília, laranjas no Ceará

Bebianno: futuro 
ex-ministro, ao que tudo indica (Foto: José Cruz/Agência Brasil)
Foto: José Cruz/Agência Brasil Bebianno: futuro ex-ministro, ao que tudo indica

O ministro Gustavo Bebianno está na frigideira em fogo trepidante. Secretário-geral da Presidência, foi chamado de mentiroso pelo filho de Jair Bolsonaro (PSL), e o presidente deu respaldo à afirmação, ao compartilhar a mensagem. A iminente primeira queda de um ministro do governo Bolsonaro teve como pivô a revelação, pela Folha de S.Paulo, de repasses do partido de Bolsonaro a uma candidata laranja.

O caso é bem parecido com o que O POVO tem mostrado desde a última terça-feira, 12. Reportagem do jornalista Carlos Mazza mostra que o Pros repassou R$ 274 mil a uma candidata no Ceará, com todos os indícios de que seria laranja. A candidata no Ceará teve 47 votos.

A Folha mostrou que Bebianno, presidente nacional do partido, liberou R$ 250 mil a uma ex-assessora, que teve 1.315 votos.

No Ceará, a candidata favorecida não é ex-assessora. É cunhada do deputado federal reeleito Vaidon Oliveira, conforme revelam no O POVO de hoje Carlos Mazza e Jéssika Sisnando. Vaidon é presidente do partido em Fortaleza e vice-presidente do diretório estadual do Ceará - o presidente é o Capitão Wagner.

O caso da cunhada do deputado é mais grave que o da ex-assessora do ministro - embora seja verdade que há outros caso a pesar contra o ministro, ou ex, de Bolsonaro.

As semelhanças prosseguem: a Folha mostrou que a ex-assessora de Bebianno informou despesa de R$ 56,5 mil na gráfica registrada num endereço no qual não há maquinário para impressão em massa. No caso do Ceará, foram gastos R$ 10 mil com gráfica registrada em endereço onde na verdade está instalada uma casa. O proprietário informou que há defasagem de cadastro. A empresa mudou de local há uns seis anos, mas efetivamente prestou o serviço. Enfim.

No plano federal, o escândalo faz balançar um dos ministros mais próximos ao presidente. Bolsonaro determinou que a Polícia Federal investigue o caso. Ao mandar averiguar a postura do próprio partido e do presidente da legenda, Bolsonaro faz o mais concreto gesto até agora de rigor contra a corrupção. É fácil denunciar a corrupção dos adversários. Desafio é quando envolve aliados.

No Ceará, o Ministério Público Federal informou que irá instaurar procedimento para investigar o caso. A direção do Pros, no Ceará e no âmbito federal, finge que não é com ela. Péssimo sinal.

O ministro que balança

A Secretaria Geral é um dos cargos mais próximos da Presidência da República. No governo Michel Temer (MDB), o cargo era de Moreira Franco. No governo Dilma Rousseff (PT), foi de Gilberto Carvalho. Na era Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o titular era Luiz Dulci. Políticos com mais vocação para os bastidores, discretos na medida do possível. Poderosos e próximos aos presidentes.

Desde 2015, Bebianno apresentou-se como fã de Bolsonaro e pelejou para ganhar a confiança do hoje presidente. Quando conseguiu, foi alçado à condição de presidente do partido durante a campanha. A condição imposta por Bolsonaro para se filiar ao PSL era ter alguém de sua confiança no comando no período eleitoral.

Mas, já na campanha ele se desentendeu com um dos filhos de Bolsonaro, Carlos, que havia cuidado das redes sociais na campanha - o coração da estratégia eleitoral do então candidato. Durante a transição, diante dos conflitos, Carlos anunciou que estava se afastando das atividades junto ao governo. E saiu atirando, com direção a Bebianno: "Caráter não se negocia. Quando há compulsão por aparecer a qualquer custo, sempre tem algo por trás. Somos humanos e falhamos, mas a procura por holofote é um péssimo indicativo do que se pode esperar de um indivíduo. Jamais trairei meus ideais" postou à época. Na posse de Bolsonaro, Carlos desfilou com o pai e Michelle Bolsonaro no Rolls Royce presidencial. Sinal de deferência ao filho.

Ontem, Carlos tomou a iniciativa de implodir Bebianno, postando nas redes sociais áudio do pai para chamar o ministro de mentiroso. Bolsonaro endossou.

Até as 22h30min de ontem, faltava a demissão. Nunca antes na história deste País, um ministro foi classificado de mentiroso pelo presidente e ficou no cargo. Com a caneta na mão, cabe a Bolsonaro mais que emitir ou retuitar opiniões nas redes sociais.

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