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VERSÃO IMPRESSA

Organização impõe restrições à imprensa

2019-01-02 01:30:00

A imprensa credenciada para a posse de Bolsonaro foi submetida a restrições impostas pela organização. Isso incluiu confinamento em espaços pré-definidos e até a impossibilidade de levar frutas inteiras, como maçãs.

 

Para ter acesso aos locais das cerimônias, todos os jornalistas tiveram de chegar às 7 horas (horário de Brasília) ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). De lá, ônibus os levaram até o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Itamaraty, onde foram confinados em sala no subsolo desde o início da manhã, de onde não puderam sair para acompanhar outros atos da cerimônia, iniciada às 14h47min (horário de Brasília). Diante das restrições, quatro jornalistas de veículos estrangeiros desistiram de cobrir o evento no Itamaraty. Pela manhã, a assessoria disse, inicialmente, que nenhum jornalista poderia sair do local. Após reclamação dos estrangeiros, o Palácio disponibilizou ônibus para que eles pudessem deixar o prédio.

 

Diferentemente de posses anteriores, quando jornalistas podiam circular entre os diferentes espaços, dessa vez todos foram advertidos de que teriam a circulação restrita. Os profissionais tiveram de levar alimentos em sacos transparentes para refeições e lanches ao longo de todo o dia, já que não foi servida alimentação. A exceção foi no Itamaraty, onde foi oferecido macarrão.

 

Houve também informações desencontradas entre equipe de transição, seguranças e assessoria do Congresso. Assessores chegaram a informar que jornalistas que estavam em um dos salões da Câmara não teriam acesso a banheiros durante a cerimônia, o que gerou protestos. A restrição foi revertida.

 

Apenas sites identificados como favoráveis a Bolsonaro tiveram livre circulação no ambiente. O jornal O Estado de S. Paulo identificou pelo menos quatro perfis do Facebook, que transmitem conteúdos majoritariamente favoráveis ao novo presidente, circulando em áreas proibidas à imprensa tradicional.

 

No Palácio do Planalto, a preocupação com a segurança foi tamanha que funcionários e jornalistas foram orientados a não tocar nas persianas das salas, sob risco de reação da segurança externa - até com tiros - para neutralizar qualquer atitude suspeita.

 

Por meio de rede social, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) se manifestou: "Um governo que restringe o trabalho da imprensa ignora a obrigação constitucional de ser transparente". A Associação Brasileira de Imprensa (ABI) também se pronunciou, ressaltando que "o respeito à imprensa é um dos principais indicadores das nações que se consideram civilizadas". E acrescentou: "Não é aceitável que repórteres e cinegrafistas sejam mantidos durante horas em determinados locais, como se estivessem em cárcere privado, impedidos de se locomoverem, e até de falar com o público".

 

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