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Crise na segurança evidencia distância entre Camilo e Bolsonaro

2019-01-05 01:30:00
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Crise de segurança enfrentada pelo Ceará evidenciou a distância político-ideológica entre os governos estadual e federal. Isso porque, apesar de o diálogo institucional ter sido bem sucedido, com o envio da Força Nacional para Fortaleza, o discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL) e aliados é de forte crítica ao governador Camilo Santana (PT), que respondeu afirmando que a eleição acabou.

 

O caos iniciou na madrugada da quinta-feira, 3, com ataques a dois ônibus e explosão da coluna de um viaduto no município de Caucaia. No mesmo dia, à tarde, Camilo publicou no Facebook que havia conversado com Sergio Moro, ministro da Justiça e da Segurança Pública, por telefone e solicitado apoio federal. Ontem, envio da Força Nacional foi confirmado.

 

A rapidez tanto no chamado do governador como na resposta do ministro chama a atenção, mas não significa que rusgas entre os dois governos tenham sido totalmente deixadas de lado. Destacando a "incapacidade" de Camilo de resolver o problema, Bolsonaro afirmou, em coletiva de imprensa em solenidade na Base Aérea de Brasília ontem, que Moro "foi muito hábil, muito rápido e eficaz para atender, inclusive, um estado cujo governador reeleito é de uma posição radical a nós".

 

À tarde, foi a vez do vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB), alfinetar Camilo, mas dessa vez em tom mais agressivo. "O problema é do governador, que sempre tratou mal a PM", disse. "Ele quer jogar no colo da gente. É a velha tática do PT", concluiu.

 

Em tom conciliatório, Camilo respondeu por meio de nota. "A eleição já passou. E os interesses da população do meu Estado sempre estarão acima de qualquer interesse pessoal ou partidário. Como homens públicos temos que ser maiores do que qualquer divergência. De minha parte a relação será sempre de respeito e cooperação", diz o texto.

 

De acordo com Ricardo Moura, pesquisador e colunista de Segurança Pública do O POVO, fala de Bolsonaro é "resquício da campanha eleitoral" e "coerente com o perfil" do presidente. Fato de a crise ter surgido tão cedo, logo no terceiro dia do início do Governo Federal explica tom crítico, além de representar um desgaste precoce sobretudo para o governador. "Ele fica numa posição muito desconfortável, vulnerável, e tudo que ele não precisa nesse momento é ter uma crise com o Bolsonaro.

 

Para o especialista, a estratégia de Camilo deveria ser a de construir uma política de segurança que dê a ele o máximo de independência do Governo Federal. Apesar disso, ele reconhece importância do envio das tropas federais para o Estado. "Ter reforço policial sempre é bom, resta saber qual foi o preço político que o Governo do Estado teve de pagar por isso".

 

Deputados federais eleitos dos partidos de Bolsonaro e de Camilo também se manifestaram. Um deles foi Heitor Freire (PSL), que colocou culpa da crise de segurança na gestão de Camilo e no PT em live feita no seu Instagram.

 

"Os policiais do Ceará são bons, mas eles estão de mãos atadas porque quem manda é o governador", disse. O deputado cearense disse ainda que os estados que forem governados por petistas vão se tornar "redutos" de facções criminosas. No vídeo, Heitor ainda defendeu o armamento da população.

 

Do outro lado, José Guimarães (PT) lançou nota em que repudia declarações de Bolsonaro e de Mourão. Segundo ele, as falas "não contribuem para a construção de um ambiente necessário ao enfrentamento dos desafios que ora se impõem".

 

Para Guimarães, as declarações "são emitidas em detrimento dos mais relevantes interesses públicos e das responsabilidades institucionais de todos". O parlamentar ainda afirma confiar na "autoridade e competência" de Camilo.

 

PROS


Tom conciliatório

O deputado federal eleito Capitão Wagner e o senador eleito Eduardo Girão (ambos do Pros) também comentaram o caso. "Atitude louvável (do Camilo) foi a de pedir ajuda ao Governo Federal", escreveu Wagner no Facebook.

Já Girão acredita que "as autoridades do Governo Federal e do Estado do Ceará têm se mostrado firmes e alinhadas com as ações tomadas". Ele ainda destacou o apoio de Moro e de General Theophilo.

Letícia Alves

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